O GIGANTE E AS PEDRAS PRECIOSAS
Eram uma vez duas crianças que
brincavam, e a bastante distância enxergaram uma laranjeira que as atraiu pelo
seu esplendor.
Aproximaram-se e admiraram o belo
fruto dourado. E diziam:
— Parecem
mesmo bolas de ouro! E cada vez mais a bela árvore as seduzia, com uma luz brilhante,
que, de momentos a momentos, a iluminava.
A mais ingênua afirmava.
— Olha que
são bolas de ouro, se os meus olhos me não enganam.
Nisto, a árvore abriu-se a meio, e
de dentro saiu um homem alto como uma torre acompanhado de uma infinidade de
anõezinhos.
— Que é isto?
Aquele que vai na frente é com certeza um gigante — disseram as crianças.
— Que
passadas ele não dá! Parece engolir tudo. E começaram a tremer de susto,
desatando a chorar e a fugir.
O gigante, apenas viu que fugiam de
medo, deu uma passada maior e alcançou-as.
Agarrou numa pela ponta duma orelha
e colocou-a na cabeça dum anão, seguindo o seu caminho.
A outra criança retrocedeu, e o
gigante perdeu-a de vista.
Mas, no dia seguinte, não parava
com saudades do seu companheiro de brinquedos, e dirigiu-se ao mesmo sítio,
pondo-se a olhar para a árvore, que lhe parecia ter-se transformado numa
cerejeira.
Começou num choro, pensando que o
gigante engolira a árvore e o seu companheiro.
De súbito, a árvore tornou-se
vermelha como o fogo, e de dentro, como que envolto numa labareda, surgiu o seu
companheiro.
À maneira que o fogo se extinguia,
ia desaparecendo tudo, e o pequenito ficou como que num ermo, adormecendo junto
dum penedo que ali se encontrava.
Acordando, viu-se sozinho, fugiu
para casa, porque ouvia ao longe o uivar do lobo que se aproximava.
Chegou a casa com os cabelos
eriçados e o sangue gelado nas veias.
Ao outro dia, logo que as estrelas
fugiram do firmamento, foi a casa dum lenhador e contou-lhe tudo.
— Bem! — disse ele. — Não te assustes e não voltes lá,
porque eu mesmo velarei pelo teu companheiro.
No dia seguinte, fez um molho de
lenha e tomou o caminho indicado. Uma vez ali, deitou o lume à lenha e começou
a fazer carvão.
O lugar era ermo, e na verdade só
lá se encontrava o penedo onde o rapazito adormecera.
A fogueira agora ardia em línguas
de fogo, e o rochedo, com lentidão, foi-se erguendo, erguendo, erguendo, até
ficar como um pinheiro.
O lenhador, boquiaberto, contemplou
aquilo, sem poder articular uma palavra.
E, a certa altura, começou a
transformar-se num palácio, e em cada janela de cristal fino apareceu a cabeça
dum anão com uma pedra preciosa na testa.
E um disse:
— Não te
espantes, lenhador. Este palácio que vês é o mais rico do mundo. Move-se pela
magia do nosso gigante. Está ornado de todas as pedras preciosas. Espera que os
meus irmãos te falarão.
Outro anão assomou à janela e
disse:
— Todas as
pedras brancas querem dizer: pureza, fé, alegria e vida.
Todas as vermelhas: ardor, força,
amor divino, amor humano e caridade.
As róseas querem dizer: modéstia.
As azuis: sinceridade, constância e
lealdade.
As amarelas: divindade, Sol e
glória.
As verdes: esperança, imortalidade
e vitória.
As violetas: verdade, paixão e
sofrimento.
As lilases: amor franco.
As cinzentas: pobreza.
As negras: favoritismo.
E outro anão falou doutra janela:
— A calcedônia
representa a caridade.
A esmeralda: a fé que não se
corrompe.
O rubi: a paciência e a doçura.
E outro anão, de outra janela,
falou sobre a pérola:
— A pérola é
a jóia das jóias. É uma flor que não murcha. É a filha da luz, e da luz nasceu.
Indica pureza e ternura. Veio, como a Vênus loira, das profundas águas amaras.
Neste palácio há pérolas brancas,
negras, azuis, cor-de-rosa, de lilás, e verdes, que são as pérolas mais raras
que há no mundo.
A pérola é o símbolo da doçura
resignada, dos amores permitidos. A sua graça faz cair a cólera, e dá a paz à
alma. É a rosa da paciência.
E o maior anão falou:
— A safira é
encantadora. É preciosíssima, porque é rara. De safira eram a vara de Moisés e
as Tábuas da Lei. Dá a paz a um coração puro e sincero, e desperta o
arrependimento das faltas cometidas.
Dá vigor aos membros, e fortifica a
vista. A safira simboliza a justiça, a lealdade, a beleza, a nobreza.
Quando a safira é azul, significa:
verdade, consciência pura. Deve ornar o anel das noivas, porque a sua cor
significa: candura, bondade, sinceridade.
Os olhos que têm o doce brilho da
safira são formosos, porque podem inspirar confiança.
Em seguida, houve um momento de
silêncio, até que apareceu o último numa janela, donde arremessou um grande
cesto de flores que juncaram a terra.
E cada flor transformou-se numa
ninfa, com o colorido da pedra que representava.
Formaram depois uma roda, dançando,
cantando. E diziam:
— Nós somos
as flores do reino mineral, que, como as do reino vegetal, têm o mesmo
colorido.
O lenhador estava ofuscado com
tanta luz, e mal via o chão onde se conservava.
E logo tudo escureceu profundamente,
e só uma mão amiga é que lhe apertou a sua, guiando-o até casa.
Era a do rapazito a quem o gigante
prendera, e que fugia, protegido pela confusão e pelas trevas.
Assim, o libertado socorreu o
libertador, vivendo depois alegres e felizes, como dois amigos.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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