4/19/2025

O GIGANTE E AS PEDRAS PRECIOSAS

Eram uma vez duas crianças que brincavam, e a bastante distância enxergaram uma laranjeira que as atraiu pelo seu esplendor.

Aproximaram-se e admiraram o belo fruto dourado. E diziam:

Parecem mesmo bolas de ouro! E cada vez mais a bela árvore as seduzia, com uma luz brilhante, que, de momentos a momentos, a iluminava.

A mais ingênua afirmava.

Olha que são bolas de ouro, se os meus olhos me não enganam.

Nisto, a árvore abriu-se a meio, e de dentro saiu um homem alto como uma torre acompanhado de uma infinidade de anõezinhos.

Que é isto? Aquele que vai na frente é com certeza um gigante disseram as crianças.

Que passadas ele não dá! Parece engolir tudo. E começaram a tremer de susto, desatando a chorar e a fugir.

O gigante, apenas viu que fugiam de medo, deu uma passada maior e alcançou-as.

Agarrou numa pela ponta duma orelha e colocou-a na cabeça dum anão, seguindo o seu caminho.

A outra criança retrocedeu, e o gigante perdeu-a de vista.

Mas, no dia seguinte, não parava com saudades do seu companheiro de brinquedos, e dirigiu-se ao mesmo sítio, pondo-se a olhar para a árvore, que lhe parecia ter-se transformado numa cerejeira.

Começou num choro, pensando que o gigante engolira a árvore e o seu companheiro.

De súbito, a árvore tornou-se vermelha como o fogo, e de dentro, como que envolto numa labareda, surgiu o seu companheiro.

À maneira que o fogo se extinguia, ia desaparecendo tudo, e o pequenito ficou como que num ermo, adormecendo junto dum penedo que ali se encontrava.

Acordando, viu-se sozinho, fugiu para casa, porque ouvia ao longe o uivar do lobo que se aproximava.

Chegou a casa com os cabelos eriçados e o sangue gelado nas veias.

Ao outro dia, logo que as estrelas fugiram do firmamento, foi a casa dum lenhador e contou-lhe tudo.

Bem! disse ele. Não te assustes e não voltes lá, porque eu mesmo velarei pelo teu companheiro.

No dia seguinte, fez um molho de lenha e tomou o caminho indicado. Uma vez ali, deitou o lume à lenha e começou a fazer carvão.

O lugar era ermo, e na verdade só lá se encontrava o penedo onde o rapazito adormecera.

A fogueira agora ardia em línguas de fogo, e o rochedo, com lentidão, foi-se erguendo, erguendo, erguendo, até ficar como um pinheiro.

O lenhador, boquiaberto, contemplou aquilo, sem poder articular uma palavra.

E, a certa altura, começou a transformar-se num palácio, e em cada janela de cristal fino apareceu a cabeça dum anão com uma pedra preciosa na testa.

E um disse:

Não te espantes, lenhador. Este palácio que vês é o mais rico do mundo. Move-se pela magia do nosso gigante. Está ornado de todas as pedras preciosas. Espera que os meus irmãos te falarão.

Outro anão assomou à janela e disse:

Todas as pedras brancas querem dizer: pureza, fé, alegria e vida.

Todas as vermelhas: ardor, força, amor divino, amor humano e caridade.

As róseas querem dizer: modéstia.

As azuis: sinceridade, constância e lealdade.

As amarelas: divindade, Sol e glória.

As verdes: esperança, imortalidade e vitória.

As violetas: verdade, paixão e sofrimento.

As lilases: amor franco.

As cinzentas: pobreza.

As negras: favoritismo.

E outro anão falou doutra janela:

A calcedônia representa a caridade.

A esmeralda: a fé que não se corrompe.

O rubi: a paciência e a doçura.

E outro anão, de outra janela, falou sobre a pérola:

A pérola é a jóia das jóias. É uma flor que não murcha. É a filha da luz, e da luz nasceu. Indica pureza e ternura. Veio, como a Vênus loira, das profundas águas amaras.

Neste palácio há pérolas brancas, negras, azuis, cor-de-rosa, de lilás, e verdes, que são as pérolas mais raras que há no mundo.

A pérola é o símbolo da doçura resignada, dos amores permitidos. A sua graça faz cair a cólera, e dá a paz à alma. É a rosa da paciência.

E o maior anão falou:

A safira é encantadora. É preciosíssima, porque é rara. De safira eram a vara de Moisés e as Tábuas da Lei. Dá a paz a um coração puro e sincero, e desperta o arrependimento das faltas cometidas.

Dá vigor aos membros, e fortifica a vista. A safira simboliza a justiça, a lealdade, a beleza, a nobreza.

Quando a safira é azul, significa: verdade, consciência pura. Deve ornar o anel das noivas, porque a sua cor significa: candura, bondade, sinceridade.

Os olhos que têm o doce brilho da safira são formosos, porque podem inspirar confiança.

Em seguida, houve um momento de silêncio, até que apareceu o último numa janela, donde arremessou um grande cesto de flores que juncaram a terra.

E cada flor transformou-se numa ninfa, com o colorido da pedra que representava.

Formaram depois uma roda, dançando, cantando. E diziam:

Nós somos as flores do reino mineral, que, como as do reino vegetal, têm o mesmo colorido.

O lenhador estava ofuscado com tanta luz, e mal via o chão onde se conservava.

E logo tudo escureceu profundamente, e só uma mão amiga é que lhe apertou a sua, guiando-o até casa.

Era a do rapazito a quem o gigante prendera, e que fugia, protegido pela confusão e pelas trevas.

Assim, o libertado socorreu o libertador, vivendo depois alegres e felizes, como dois amigos.


---
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...