4/12/2025

A professora (Conto), de Mário Sette


 

A PROFESSORA

A espera, já antiga de uma semana, não pudera estiar o alvoroto dos moradores de Riacho Manso pela chegada, à hora crua do meio-dia, daquele "Ford" que buzinara desde a curva da gameleira e fora parar defronte da casa acabada de caiar no sábado.

As janelas das modestas habitações enfileiradas de um lado e outro da igrejinha, como damas de honra, surdiam cabeças femininas, vetustas umas, vetustas outras, olhando a furto a rua; aos côncavos das portas, crianças desconfiadas afluíam, e, até os homens, de trabalho nos roçados próximos, ou de palestra na vendola de Epifânio piloto, alongava as vistas para se inteirar da novidade.

— É a professora?

— Eu maldo que sim.

— Compadre Chiquinho me disse que ela estava por dias...

Entre vizinhas matronas a conversa fizera contato:

— Inda é moça! Eu imaginava uma velha de óculos...

— Já se foi o tempo das mestras de cabelo branco. Hoje o mundo é da gente nova, D. Jesuína.

— Era uma coisa que Riacho Manso carecia mesmo. Tanto menino à toa, sem saber o A.

— Mas, a pobre vai ter lida! Com tanta ruindade! Nem os meus, nem os da senhora, está visto, porém, os outros! Cada um! Os de seu Marcolino... Uns diabos que vão espiar as moças tomando banho...

— E os da finada Nana, que Deus tenha?... o que é um mole, eles fazem o que têm vontade e dizem cada coisa!...

— Um benefício mesmo para Riacho Manso. Muito menino vai para ter juízo e ajudar suas famílias. Você não se lembra de um Cirino que andava sacudindo pedras na igreja na hora da missa...

— E que até, um dia, quase pegava no seu vigário... Se me lembro! Um pestinha!

— Pois, ele foi para escola na cidade e agora está feito caixeiro de uma loja. Anda todo bonito! Eu vi ele pela Festa.

O sol esquentava. Após haver desembaraçado as passageiras e as bagagens, o automóvel dera volta e lá se fora de regresso, buzinando, subindo a rampa da estrada que era um prolongamento da rua. E meteu-se entre caatingas, a correr.

— Minha gente, deixe-me ir para dentro. Quem não olha para frente...

— E eu que estava engomando a roupa branca do seu "major" Guilhermino.

A quietude volvera ao povoado. Lá das bandas do açude vinham ruídos de roupas batidas nas pedras, uns cantos de lavadeiras. A larga rua ficara vazia. Cavalos soltos retouçavam os capins que brotavam do solo, no oitão da igreja.

* * *

Quando o automóvel partiu e as duas senhoras se viram sozinhas na casa desconhecida, entre uns toscos bancos e umas toscas carteiras do governo, constringente sensação de abandono, de nostalgia, as prendeu. Tudo estranho, tudo indiferente, tudo arredio, tão diverso do ambiente de carinho, de amizade, de conforto que as esteava na cidade do alto sertão de onde tinham vindo.

A professora trazia saudades das suas alunas, das que faziam curso com ela, à data da sua remoção para Riacho Manso, e das outras, das ex-alunas, e dos ex-alunos, que ensinara no começo da carreira. Vivera 18 anos naquela cidade e lá deixara uma amizade em cada família. E, agora, ali, sozinha, num povoado agreste, juntava-se às saudades o isolamento.

Sentia-se triste, tocada, como se mostram tristes e sentidas as plantas crescidas há muito tempo num terreno e de súbito mudadas para outro.

— Estamos no nosso desterro, tia Amélia!

— Que lugar medonho de triste, meu Deus!

— Poderia ser pior... Ao menos não é tão longe da capital... Quem esteve no alto sertão!

— Mas, esse consolo não tira a tristeza do lugar. E não é tão perto. Uma hora de automóvel da cidade!

Acostumar-nos-emos, tia Amélia! Que jeito! Com circunstâncias mais rudes nós nos acostumamos!

—Você, Sinhazinha, em toda parte está bem. Uma felicidade de resignação...

— Sem ela não se ganha o céu.

O mormaço adormentara ainda mais o povoado. A professora chegara à janela. Riscas de casinhas, quase todas de taipa sem reboco, de um lado e outro. A igrejinha, caiada de branco, fechava a rua por uma das extremidades, com duas palmeiras ornando o adro. Ao centro da rua, um coberto de telhas apoiado em caibros altos, sob o qual, em bancos de madeira, os matutos faziam feira, aos sábados.

Em torno do povoado as serras ásperas, marchetadas de pedras brancas, semelhando gânglios, umas isoladas, outras em grupo, bizarras de atitudes, debruçando-se no pendor da montanha como a quererem despenhar-se. Um fio d'água, entrevisto, numa esquina do beco, fio somítico, a escorrer também entre pedras, com roupas a secar nas margens enverduradas.

Com um olhar via-se todo Riacho Manso. Uma menina, atravessando a rua, acanhada, medrosa, parou diante da mestra titubeando:

— Está aqui que mãe mandou...

Eram umas jabuticabas, umas formosas jabuticabas penugentas, negras.

— Obrigado.

A criança torcia a fimbria do vestido.

— Mãe mandou dizer que tem dois meninos para aprender...

— Sim. Ela venha falar comigo, amanhã. Ouviu?

— Inhora sim.

Pouco depois foi a vez de um homem. Um trabalhador num sítio próximo.

— Dona, se mal pergunto, a escola de vosmecê é de menina-fêmea ou é de menino-macho?

— É para ambos: meninos e meninas.

— Entonce eu mando minha filha Isabel. Vosmecê vigie por ela.

— Fique tranquilo.

No correr do dia, dois presentes mais chegaram para a professora: um pão-de-ló e um prato de pamonhas. E quando à tarde, estando aberta a igrejinha, a moça se dirigiu ao templo, todos os moradores vieram de novo às janelas, recebendo os seus cumprimentos simples, vendo-a afagar as crianças.

Aquela moça esguia, de cabelos bastos em trança, o semblante bondoso, conquistara de repente, se não a simpatia, ao menos a indulgência no natural instinto arredio do matuto.

— Ela é religiosa...

— E parece não ter "bondades".

Um sertanejo que conhecera a professora na cidade declarou:

— Vocês levantem as mãos para o céu. Aquilo é um coração de ouro! Lá na cidade todo mundo gosta dela. Pergunte lá pelo seu nome e veja só a resposta... é um coro...

A noite, noite de escuro, caiu no povoado, como se lhe houvesse emborcado uma peneira espessa cujos orifícios fossem as estrelas que piscavam, piscavam perto, piscavam forte, como sabem piscar sobre os agrupamentos humildes das serranias.

* * *

A escola funcionava com ordem e freqüência. Quarenta crianças sentavam-se nos seus bancos e a professora Sinhazinha lá estava vigilante, esmerada, atenta, de 10 às 16, procurando derramar um pouco de luz naquelas cabecinhas. E, nesse afã, a vida da mestra era singela como as suas maneiras, como o seu coração.

Ela possuía o dom de adaptar-se, se não intimamente, ao menos aparentemente, às contingências. A sua força moral enrijava-a o bastante para, ao invés de ser perdulária do tempo, lastimando-se do irremediável, agir proveitosamente nos deveres que lhe eram assinados.

E a sua ação benfazeja transbordava do magistério para a órbita do doutrinamento religioso e moral. Tomou conta da igrejinha, zelando pelo culto, procurando melhoras, dirigindo solenidades. Começou de influir nos costumes de alguns moradores, levando-os da mancebia ao casamento, trazendo crianças ao batismo, harmonizando famílias desavindas.

Tudo com um tino elogiável, num leve roçar de persuasão, sem parecer dominar, de modo a manter o respeito que lhe votavam mesmo nos raros casos de fracasso.

Em breve, o seu nome era o apelo geral. Qualquer acontecimento, qualquer conselho, qualquer iniciativa e ouvia-se logo a frase dogmática:

— Vamos falar com a professora Sinhazinha.

A tal cimalha atingira o prestígio da moça que o major Guilhermino, investido na chefia política local, já sentia no íntimo umas unhadas de ciúmes.

E foi exatamente nessa época que o Joaquim dos Umbus, dono de um sítio nas vizinhanças de Riacho Manso, sítio opulento em umbuzeiros, deu margem a um episódio que criou fama no povoado e nas redondezas.

Joaquim dos Umbus era um pardavasco mal-encarado, áspero de maneiras, de quem se rosnavam até umas mortes quando ele habitara o município de Jatobá do Brejo. Amasiado com uma mulatinha que furtara, tinha dela um filho, meninote de onze anos, vivaz, inteligente, meigo.

A criança vinha todos os sábados à "rua" vender na feira, com o pai, farinha, feijão, umbus... E, nas folgas do mercado, gostava de parar à porta da escola, curioso dos meninos que aprendiam, desejoso visivelmente de também ali entrar. Era doido por um velho livro, por uma página de revista, onde, à falta de entender as letras, admirava as estampas...

Certa vez, a professora mandou-o entrar, fez-lhe perguntas, percebeu-lhe a inteligência, e disse-lhe:

— Olhe, diga a seu pai que traga você aqui para aprender. Não paga nada... Eu mesma lhe dou o livro... Onde você mora?

— No alto do Açude Velho.

— É longe?

— Uma légua.

Joaquim dos Umbus, recebendo o recado, em meio da feira, fêz um escarcéu violento, chamou de "peste" à professora que estava querendo desencabeçar o filho para meter na cabeça umas "besteiras" e inda por cima ser soldado do governo... E, no auge da sua rispidez, da sua ignorância, encaminhou-se para a escola onde penetrou de brusco.

— Dona, vosmecê cuida da sua vida e deixe a dos outros quêta, ouviu?

— Como?

— Como estou dizendo. Vosmecê deixe de querer tirar do trabalho os meninos alheios para ensinar "letrices" que não servem de nada para plantar feijão nem mandioca... E ainda por cima fazer dos pobres, soldados da tropa de linha...

— Sente-se. Faça o favor. Explique-se melhor...

— Vosmecê não disse a meu filho Antônio Batista "mode" vir aprender com vosmecê?

— Disse, sim. Ele é um menino inteligente, há de aprender depressa, e, depois poderá ser muito útil ao senhor.

— Não quero, já jurei. Na minha casa quem manda sou eu.

— Sem dúvida. Ninguém deseja mandar na sua vontade. Olhe, sente-se.

— Não carece, dona.

A professora percebeu logo que o seu modo delicado de tratar o matuto já conseguira a baixa de um tom na sua voz. E insistiu:

— O seu filho, se soubesse ler, viria a contribuir para a prosperidade do seu sítio. O senhor sabe que hoje progridem mais os sítios que estão nas mãos dos que lêem livros, dos que sabem os modernos meios de plantar. As colheitas dobram, as riquezas aumentam. Estudar não quer dizer largar a vida do campo, não. Ao contrário, toma-se mais amor a ela...

— Eu nunca pensei...

— Porém, seu sítio nunca passou do que é... Lembre-se dos outros aqui mesmo no município que têm aumentado: os do coronel Bernardo Castro, do major Augusto, todos homens que sabem ler, que sabem o que estão fazendo de melhoramentos... Não é?

Joaquim dos Umbus calara-se.

— Pense bem em tudo. E... se quiser... mande o menino.

— Pois, não mando não, dona. Sou teimoso! Com a rispidez da entrada, ele saiu.

A professora, levando-o à porta, sorria.

— A senhora arriscou-se. Aquele homem é ruim mesmo! advertiu uma vizinha.

— Não insista mais, não, "fessora". Ele é capaz de "sangrar" vosmecê como fazia em Jatobá.

— Nem tudo que se diz é verdade. O que parece ser mau instinto, talvez seja somente brutalidade, ponderava Sinhazinha.

— Eu sei! Um homem com aquela cara! Eu, se fosse vosmecê, nem queria o filho dele aqui... Cinco dias depois, porém, numa manhã, Antônio Batista chegou, contente e pontual, à escola.

— Você aqui, hoje? Não é dia de feira...

— Pai mandou dizer a vosmecê que eu venho aprender.

E a criança, embevecida, recebia como um tesouro o livro de leitura, novinho em folha, que a professora tirara da gaveta e lhe pusera entre as mãos já calosas da enxada.

* * *

Ora por um matuto em trânsito, ora por um outro vindo dos municípios distantes, sabia-se em Riacho Manso que andavam pelo interior do Ceará bandos de forças revoltosas.

Os rebeldes transitavam pelo Nordeste e as tropas do governo lhes davam caça. E, no meio do choque, os sertanejos sofriam vexames.

Nos dias de feira, sob o telheiro, os mercadores, entre um ajuste e uma cachimbada, permutavam impressões, exageravam histórias, e, muitos, pelo exagero nascido do próprio cérebro, tratavam de volver mais cedo às casas com temor de um mau encontro na estrada sombria.

— Minha gente, sol está descambado... Vamos embora.

— Está visto! Vou chegando...

E a feira terminava ainda com muita luz diurna.

A população vivia em sobressalto, posto contando com a protetora distância das léguas que apartavam Riacho Manso dos revoltosos.

Mas, numa volta das duas horas da tarde, de uma sexta-feira, sem que ninguém esperasse, ouviram-se uns espaçados tiros remotos, e, logo depois, entrava na povoação um grupo de rebeldes, chefiados por um oficial moço, trazendo um homem amarrado, como prisioneiro.

Tinham vindo de uns caatingais ao leste, fugindo à estrada, pondo certeiro as garras na localidade indefesa. Tomadas as bocas da rua e dos caminhos para que ninguém saísse dar aviso, o oficial e seus auxiliares se instalaram na residência do major Guilhermino, a quem pediram todas as armas existentes no povoado e que lhes fosse servido um bom jantar.

Enquanto se preparava a refeição, o preso fora amarrado a uma das colunas do copiar, perto da mesa onde se fazia o repasto. E, ao prisioneiro, que tentara resistir a tiros de rifle quando o bando passara em seu sítio, foi avisado que seria fuzilado assim que terminasse o jantar.

O oficial, rapaz de seus 20 anos, de olhos arrogantes, de frases bruscas, desembainhara a espada, colocando-a a seu lado na mesa.

Improvisada da melhor forma pela família do major Guilhermino, que dissimulara o terror, a refeição não demorou em demasia, vindo afinal para a mesa, entre garrafas de vinho e cerveja.

Eram oito os comensais, todos trazendo galões nos punhos. Os outros, de postos humildes, em número de uns quarenta, estavam de guarda à povoação.

E, nesse ambiente estranho da família medrosa, fazendo-se cores, e dos rebeldes, com fome, fazendo-se gaiatos, era terrível de angústia o olhar do prisioneiro, presenciando o repasto que marcava os derradeiros momentos da sua vida, com o coração a bater sem ritmo, como se quisesse esgotar depressa todos os seus batimentos...

* * *

Como os demais habitantes, a professora Sinhazinha ficara-se em casa, cerrando as portas, logo que soubera da chegada dos rebeldes.

— Amélia, trêmula, lastimava-se:

— Ai! meu Deus! para que viemos meter-nos aqui! Bem que o coração me dizia...

— Ânimo, minha tia. Havemos de sair de tudo isso em paz.

— Se não nos matarem... Pelo que contam...

— Tempo de guerra, tempo de mentira...

— Dizem que eles carregam as mulheres...

— Mulheres não servem para soldado, minha tia.

— Sei lá!

E tia Amélia rondava a casa, rezando, chorando, tremendo.

A tarde estava fenecendo. Foi preciso acender a lâmpada a álcool.

E a professora Sinhazinha acabara de fazê-lo quando alguém bateu à porta do quintal. Bateu rápido... Bateu de novo.

— Jesus! Serão eles?! gemeu a matrona. Porém logo se ouviu uma voz de criança, voz conhecida:

Fessora! Fessora! Abra!

— É Antônio Batista, minha gente! Esse menino na rua!

Corrido o ferrolho, esgueirada a porta, a criança enfiou:

Fessora! Eles prenderam meu pai, eles vão matar meu pai!

— Seu pai!! Como? Onde?

—Lá no sítio. Eles vieram por dentro dos roçados, machucando as roças e, quando meu pai viu, pegou no rifle, deu uns tiros... Então, é que foi sair gentes dos matos. Agarraram meu pai, amarraram ele, e pai está preso na casa de "seu" major, para morrer...

— Quem disse isto, menino?

—Talvez eles soltem depois...

Quem me disse foi sinhá Carolina, da casa de "seu" major, que veio na venda buscar cerveja... Eles vão matar pai, fessora. Não deixe! Não deixe!

Era angustiosa e confiante a súplica da criança diante da mestra, cuja palavra estava acostumada a ver obedecida.

— Não deixe! Não deixe, fessora!!

A professora, sentindo-se impotente, não queria desiludir a criança. Pensou num gesto. Num gesto audaz, infrutífero, mas realizou o gesto. Abriu a porta da rua.

— Sinhazinha, você onde vai?

— Vou lá na casa do major.

— Sinhazinha!! Você está doida!!

— Vosmecê fique aí com Antônio. Eu já volto.

Atravessou a rua meio escurecida. Na calçada da residência do major uns homens, armados.

— Que quer, dona?

— Falar com o seu comandante.

Apois, entre!

E a ordenança teve um sorriso brejeiro para o companheiro.

O jantar ia quase no remate. Comiam a sobremesa, bebiam cerveja. O café já derramava o seu perfume.

Joaquim dos Umbus, acovardado, regulava os olhos, crispava as mãos, fitava a espada nua sobre a mesa...

Um dos rebeldes viu a professora já no copiar e avisou o chefe:

— Uma senhora.

O oficial ergueu-se, pôs o guardanapo na toalha, e aproximou-se da moça. Mas, em vez do seu gesto costumado de ousio, os companheiros viram-lhe um gesto de respeito, de polidez, de doçura:

— A professora Sinhazinha!

— Você, Adalberto!

E a mestra estendeu, confiante, a sua mão ao antigo aluno, aquele a quem ensinara todo o curso primário na escola do alto sertão, onde iniciara o magistério.

— Disseram-me que estava estudando no Rio.

— Estive, sim, mas, depois...

A reticência foi sublinhada com um sorriso. E, em seguida, noutro tom:

— Mora aqui? hoje?

— Tomo conta da minha cadeira. Há quase um ano... Sempre na luta do ensino... É verdade: — vinha falar com o oficial e mal sabia que era você...

— E que deseja de mim, professora?

— A liberdade do homem que vocês tem preso.

— Sabe que nos atacou de surpresa? Sabe que vai ser fuzilado?

— Sei, o filho dele, que é meu melhor aluno, foi me contar tudo e está como um doido, coitado! Quero que você perdoe o homem.

Os olhos do rapaz bateram nos da professora e ele lembrou-se, em súbita, mas nítida reminiscência da infância, desses mesmos olhos quando o repreendiam mansos, doces, porém imperativos, disciplinadores.

Sob a luz desse olhar, volveu-se para um dos ajudantes que ainda bebia o café:

— Mande botar em liberdade o prisioneiro. E reembainhou a espada, silenciosamente. Dentro da noite, reunidos os cavalos, abandonado Riacho Manso, o oficial tomou a estrada principal, sem resguardo, com ousio, na ânsia de um reencontro, no desejo talvez da morte que não lhe desse tempo de murchar a flor de bondade renascida no seu coração...


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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025

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