4/19/2025

A princesa em cima duma ervilha (Conto), de Maria Pinto Figueirinhas

A PRINCESA EM CIMA DUMA ERVILHA

Havia um príncipe que pretendia desposar uma princesa, mas que fosse uma princesa a valer. Deu volta ao mundo à procura de uma, e, de fato, princesas não faltavam; todavia, não tinha a certeza de que fossem princesas verdadeiras, porque descobria sempre nelas qualquer coisa que o deixava indeciso.

Foi por não ter encontrado o que tanto desejava que o príncipe voltou muito penalizado.

Num dia de muito mau tempo, cheio de relâmpagos de trovões e de chuva, alguém bateu à porta do castelo. Foi o próprio rei, já velho, que veio em pessoa abrir a porta a toda a pressa.

Era uma princesa! Mas meu Deus! em que desalinho a tinha posto a chuva! O cabelo e o vestido estavam alagados; a água entrava pela biqueira dos sapatos e saía pelos saltos. No entanto, ela dava-se ares duma verdadeira princesa.

“É o que em breve havemos de saber”, pensou a velha rainha. E, sem dizer nada, entrou no quarto de dormir, tirou toda a roupa da cama e pôs no fundo desta uma ervilha. A seguir, estendeu por cima da ervilha vinte colchões e, por cima destes, vinte edredons. Era esta cama destinada à princesa, a quem, no dia seguinte, perguntavam como tinha passado a noite.

Muito mal disse ela não pude dormir em toda a noite. Não sei o que havia na cama; era uma coisa dura que me encheu o corpo de pisaduras. Foi um verdadeiro suplício.

Só depois de se ouvir esta confissão, é que se reconheceu que era uma verdadeira princesa, porque foi capaz de sentir uma ervilha que estava debaixo de vinte colchões e vinte edredons.

Qual devia ser a mulher com uma pele tão sensível, a não ser uma princesa?

Convencido de que era uma verdadeira princesa, o príncipe casou com ela e a ervilha foi para um museu, onde deve estar ainda, a não ser que tivesse sido roubada por algum amador.

E aqui está uma história tão verdadeira como a princesa!

 

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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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