Um rei muito bom, dotado de
excelente coração, costumava sair sozinho e disfarçado, pelas ruas da cidade, a
fim de poder bem apreciar as necessidades do seu povo.
Uma vez, ao passar por uma rua,
ouviu alguém cantando:
Ribeiros correm pro rio,
Os rios correm pro mar;
Quem nasceu para ser pobre,
Não lhe vale o trabalhar.
O rei parou, observou a casa, e
indagou quem nela residia.
Era um pobre sapateiro, honesto e
trabalhador, cheio de filhos, que vivia na maior miséria possível. Sua
majestade tomou nota do número e da rua.
No dia seguinte mandou preparar
pelo seu cozinheiro um saboroso bolo, que encheu de moedas de ouro, e fez
levá-lo ao sapateiro.
Na outra tarde, passando pela mesma
rua, escutou a mesma cantiga:
Ribeiras correm pro rio,
Os rios correm pro mar;
Quem nasceu para ser pobre,
Não lhe vale o trabalhar.
O rei entrou e gritou para a
sapateiro:
— "Esta cantiga é mentirosa,
ou tu não dizes o que pensas! Onde está o bolo que te mandei ontem cheio de
moedas?"
— "Oh! real senhor, eu não
sabia! Devendo muitos favores a um amigo, enviei-lhe de presente".
Então o rei fê-lo acompanhar ao
palácio.
Aí, mandou-o encher um saco de
ouro, e despediu-o.
O sapateiro voltava alegremente
para a casa, quando de súbito caiu morto, fulminado pela comoção.
Transportaram-no para o necrotério,
e acharam-lhe um papel na mão.
O delegado de polícia abriu-o e
leu:
Eu, para pobre o criei,
Tu, rico fazê-lo queres;
Agora ai o tens morto,
Dá-lhe a vida, se puderes.
---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...