3/19/2025

O rei e o sapateiro ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


O REI E O SAPATEIRO

Um rei muito bom, dotado de excelente coração, costumava sair sozinho e disfarçado, pelas ruas da cidade, a fim de poder bem apreciar as necessidades do seu povo.

Uma vez, ao passar por uma rua, ouviu alguém cantando:

Ribeiros correm pro rio,
Os rios correm pro mar;
Quem nasceu para ser pobre,
Não lhe vale o trabalhar.

O rei parou, observou a casa, e indagou quem nela residia.

Era um pobre sapateiro, honesto e trabalhador, cheio de filhos, que vivia na maior miséria possível. Sua majestade tomou nota do número e da rua.

No dia seguinte mandou preparar pelo seu cozinheiro um saboroso bolo, que encheu de moedas de ouro, e fez levá-lo ao sapateiro.

Na outra tarde, passando pela mesma rua, escutou a mesma cantiga:

Ribeiras correm pro rio,
Os rios correm pro mar;
Quem nasceu para ser pobre,
Não lhe vale o trabalhar.

O rei entrou e gritou para a sapateiro:

— "Esta cantiga é mentirosa, ou tu não dizes o que pensas! Onde está o bolo que te mandei ontem cheio de moedas?"

— "Oh! real senhor, eu não sabia! Devendo muitos favores a um amigo, enviei-lhe de presente".

Então o rei fê-lo acompanhar ao palácio.

Aí, mandou-o encher um saco de ouro, e despediu-o.

O sapateiro voltava alegremente para a casa, quando de súbito caiu morto, fulminado pela comoção.

Transportaram-no para o necrotério, e acharam-lhe um papel na mão.

O delegado de polícia abriu-o e leu:

Eu, para pobre o criei,
Tu, rico fazê-lo queres;
Agora ai o tens morto,
Dá-lhe a vida, se puderes.

 

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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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