3/23/2025

O homem riquíssimo ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


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O HOMEM RIQUÍSSIMO

Leandro era pescador.

Todos os dias, mal rompia a aurora, saía de casa, e desamarrando a pequenina canoa, ia pelo mar em fora lançar as rede.

Nem sempre era bem sucedido na pesca, e dias havia em que nem um pequenino peixe colhia.

Um dia, depois de pescar durante muito tempo, voltava desanimado quando viu de repente, sair das espumas da água uma mulher formosíssima, que lhe disse:

— "Lança de novo a tua rede, Leandro, que terás peixe".

— "Quem és, para assim me prometeres pesca — perguntou o pescador.

— "Sou uma fada, e compadeço-me de ti".

— "Se és fada, como dizes, por que não me dás logo fortuna?"

— "Já que queres, dar-te-ei. De hoje em diante, em vez de pescador, serás o maior ricaço do mundo. Todas as manhãs terás cem mil cruzeiros em ouro. Ficarás, porém, na obrigação de gastá-los todos os dias de modo que não sobre um só centavo. O dia em que não puderes gastar toda a quantia, morrerás. Serve-te?"

— "Ora se me serve! Não te preocupes, fada, que gastarei até mais de um milhão de cruzeiros". "Então, está tratado", disse a fada desaparecendo.

* * *

Leandro, ao acordar, na manhã seguinte, encontrou os cem mil cruzeiros.

Saiu de casa e começou a gastá-los. Comprava palacetes, terras, escravos, jóias — tudo quanto via.

Depois começou a realizar festas deslumbrantes, oferecendo banquetes e bailes a amigos e aduladores que o rodeavam.

Comprando sempre, em pouco tempo tornou-se o maior milionário da terra.

Houve um dia em que não teve mais em que gastar.

Jogou o dinheiro pelas janelas, mas passaram homens honrados que lho restituíram.

Queimou no fogo as moedas, mas como eram de ouro, e prata, não puderam ser consumidas.

Então, Leandro, viu que não podia mais gastar, que nada mais tinha a comemorar.

Nesse dia esperou a fada que chegou pontualmente, à meia-noite.

— "Esgotei todos os meios de gastar os cem mil cruzeiros", disse-lhe tristemente Leandro.

— "Todos os meios?" perguntou a fada.

— "Todos".

— "Todos, não! Esqueceste um".

"Qual?", inquiriu o desgraçado milionário.

— "A caridade".


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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