Leandro era pescador.
Todos os dias, mal rompia a aurora, saía de
casa, e desamarrando a pequenina canoa, ia pelo mar em fora lançar as rede.
Nem sempre era bem sucedido na pesca, e dias
havia em que nem um pequenino peixe colhia.
Um dia, depois de pescar durante muito tempo,
voltava desanimado quando viu de repente, sair das espumas da água uma mulher
formosíssima, que lhe disse:
— "Lança de novo a tua rede, Leandro, que
terás peixe".
— "Quem és, para assim me prometeres
pesca — perguntou o pescador.
— "Sou uma fada, e compadeço-me de
ti".
— "Se és fada, como dizes, por que não me
dás logo fortuna?"
— "Já que queres, dar-te-ei. De hoje em
diante, em vez de pescador, serás o maior ricaço do mundo. Todas as manhãs
terás cem mil cruzeiros em ouro. Ficarás, porém, na obrigação de gastá-los
todos os dias de modo que não sobre um só centavo. O dia em que não puderes
gastar toda a quantia, morrerás. Serve-te?"
— "Ora se me serve! Não te preocupes,
fada, que gastarei até mais de um milhão de cruzeiros". "Então, está
tratado", disse a fada desaparecendo.
* * *
Leandro, ao acordar, na manhã seguinte, encontrou
os cem mil cruzeiros.
Saiu de casa e começou a gastá-los. Comprava
palacetes, terras, escravos, jóias — tudo quanto via.
Depois começou a realizar festas deslumbrantes,
oferecendo banquetes e bailes a amigos e aduladores que o rodeavam.
Comprando sempre, em pouco tempo tornou-se o
maior milionário da terra.
Houve um dia em que não teve mais em que
gastar.
Jogou o dinheiro pelas janelas, mas passaram
homens honrados que lho restituíram.
Queimou no fogo as moedas, mas como eram de
ouro, e prata, não puderam ser consumidas.
Então, Leandro, viu que não podia mais gastar,
que nada mais tinha a comemorar.
Nesse dia esperou a fada que chegou pontualmente,
à meia-noite.
— "Esgotei todos os meios de gastar os
cem mil cruzeiros", disse-lhe tristemente Leandro.
— "Todos os meios?" perguntou a
fada.
— "Todos".
— "Todos, não! Esqueceste um".
— "Qual?", inquiriu o desgraçado
milionário.
— "A caridade".
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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