3/19/2025

O dinheiro enterrado ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel



O DINHEIRO ENTERRADO

Tendo certeza de que não viveria muito tempo, sentindo-se mal, já no último período da vida, o velho Samuel chamou junto ao seu leito de agonia os três filhos que tinha e lhes disse:

— "Meus filhos: até hoje nós vivemos sofrivelmente, nem ricos nem pobres, somente por culpa vossa. Enquanto fui moço e forte trabalhei no serviço da lavoura. Depois fostes crescendo, mas jamais quisestes trabalhar, auxiliando-me, assim, Quando eu fechar os olhos, sei que vendereis esta roça, e que, acabando o dinheiro, vos tornareis vagabundos... talvez ladrões... talvez assassinos. Prevendo isso, economizei quanto pude, e deixo-vos uma grande fortuna. Enterrei neste campo vários cofres de ouro e pedras preciosas. Não me lembro mais em que lugar. Procurai-os, porém, que os achareis".

O velho Samuel morreu, e desde o dia seguinte os três rapazes começaram a revolver as terras, em todos os sentidos, na esperança de encontrar o tesouro oculto.

Passaram-se dias, passaram-se semanas, meses e meses, e os moços não cessavam aquele afã.

Como os campos eram vastíssimos, levaram muito tempo.

Nesse intervalo as árvores floresciam e carregavam-se de frutos; as hortaliças abundavam; os canaviais e os cafeeiros produziam espantosamente.

E eles iam tomando gosto pelo trabalho, enquanto recolhiam o fruto que rendia a lavoura.

Foi só então que compreenderam o estratagema do pai.

Não havia dinheiro algum enterrado, e o velho quis significar-lhes apenas que o trabalho é nobre e rende mais que o dinheiro.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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