3/19/2025

O chouriço ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


O CHOURIÇO

Zacarias e Teodora, marido e mulher, dois velhinhos, muito velhos e sem filhos, estavam uma vez em sua choupana.

Era por uma noite fria de junho. Acocorados em frente a um braseiro, aqueciam as mãos engelhadas e trêmulas, enquanto conversavam, a recordar os dias felizes do seu passado distante.

Depois a conversa caiu.

—"Que lindas brasas, disse Zacarias, para dizer alguma coisa, apontando os carvões ardentes.

— "É verdade!", concordou a mulher.

Cessaram novamente de falar.

— "Se uma fada nos aparecesse agora", disse Teodora, ao cabo de algum tempo, "e mandasse que formulássemos três desejos, que pedirias tu, meu velho?"

— "Não sei: nós somos pobres, somos velhos, as doenças vêm vindo, nunca tivemos filhos... Há tanta coisa a pedir...

— "Pois eu", falou a velhota, "vendo estas brasas tão lindas, pediria um chouriço para assarmos..."

Palavras não eram ditas, e no meio do fogo caiu, vindo do alto, um gordo e saboroso chouriço.

Zacarias, indignado, bradou:

— "Pois eu pediria que ele ficasse agarrado na ponta do teu nariz, para não pedires insignificâncias!"

E vai o chouriço, salta das brasas e agarrara-se ao nariz da velha Teodora.

Os velhotes não esperavam por aquilo, e mais pasmos ficaram, vendo aquele segundo desejo realizado.

— "E agora, mulher?! Que havemos de pedir?

— "Ai Zacarias, vamos pedir para que o chouriço se desprenda do meu nariz".

— "Mas Teodora, só falta um desejo. Peçamos dinheiro, ou saúde, ou mocidade..."

— "O chouriço corta-se... corta-se com um pedaço do nariz..."

— "Deus me livre! ficar defeituosa?!..."

— "Você já é velha, Teodora..."

Discutiram muito tempo, mas a mulher venceu. Pediram para que o chouriço saísse, e o chouriço desapareceu...

E assim não se aproveitaram dos benefícios da fada.



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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025).

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