Zacarias e Teodora, marido e
mulher, dois velhinhos, muito velhos e sem filhos, estavam uma vez em sua
choupana.
Era por uma noite fria de junho.
Acocorados em frente a um braseiro, aqueciam as mãos engelhadas e trêmulas,
enquanto conversavam, a recordar os dias felizes do seu passado distante.
Depois a conversa caiu.
—"Que lindas brasas, disse
Zacarias, para dizer alguma coisa, apontando os carvões ardentes.
— "É verdade!", concordou
a mulher.
Cessaram novamente de falar.
— "Se uma fada nos aparecesse
agora", disse Teodora, ao cabo de algum tempo, "e mandasse que
formulássemos três desejos, que pedirias tu, meu velho?"
— "Não sei: nós somos pobres,
somos velhos, as doenças vêm vindo, nunca tivemos filhos... Há tanta coisa a
pedir...
— "Pois eu", falou a
velhota, "vendo estas brasas tão lindas, pediria um chouriço para assarmos..."
Palavras não eram ditas, e no meio
do fogo caiu, vindo do alto, um gordo e saboroso chouriço.
Zacarias, indignado, bradou:
— "Pois eu pediria que ele
ficasse agarrado na ponta do teu nariz, para não pedires insignificâncias!"
E vai o chouriço, salta das brasas
e agarrara-se ao nariz da velha Teodora.
Os velhotes não esperavam por
aquilo, e mais pasmos ficaram, vendo aquele segundo desejo realizado.
— "E agora, mulher?! Que
havemos de pedir?
— "Ai Zacarias, vamos pedir
para que o chouriço se desprenda do meu nariz".
— "Mas Teodora, só falta um
desejo. Peçamos dinheiro, ou saúde, ou mocidade..."
— "O chouriço corta-se...
corta-se com um pedaço do nariz..."
— "Deus me livre! ficar
defeituosa?!..."
— "Você já é velha,
Teodora..."
Discutiram muito tempo, mas a
mulher venceu. Pediram para que o chouriço saísse, e o chouriço desapareceu...
E assim não se aproveitaram dos benefícios
da fada.
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