Adoeceu o cão do tio Lucas, um lavrador
honrado, que tinha duas filhinhas, lindas como os amores: Rosinha e Marieta.
Tio Lucas mandou chamar o veterinário, e as
pequeninas ficaram muito admiradas.
— "Pois também há médicos para os
cães?", perguntou Rosinha, a mais velha.
— "Pois não, minha filha", respondeu
tio Lucas; "os animais têm tanto direito à vida como nós!"
Acontece que dali a quinze dias, tendo ido à
cidade o padrinho de Marieta, a pequenita mais nova, trouxe-lhe um carneirinho
muito interessante. Era de pau, mas parecia vivo. Dava-se-lhe um movimento à
cabeça, e ela fazia "Mé... Mé..."
Marieta, porém, tantas vezes quis ouvir o carneirinho
fazer "Mé!... Mé!..." que acabou por degolá-lo.
A pobre pequerrucha ficou inconsolável. Rosinha
disse-lhe que guardasse os destroços, para que tio Lucas os não visse, — poderia zangar-se, — e no dia seguinte, tendo de ir buscar leite a
um estábulo próximo, recomendou à irmãzinha que a acompanhasse, levando consigo
o pobre degolado.
Marieta obedeceu e, uma vez fora, as duas pequenas
deitaram a correr para casa do veterinário.
Este, que era um velho rabugento e surdo, recebeu-as
de mau humor.
Mas quando Rosinha, ao som do pranto de Marieta,
acabou de expor-lhe, com muito medo, o grave motivo que as levara ali,
dissipou-se o mau humor do bom velhote.
— "Ah! querem então que lhes ponha bom o
carneirinho? Pois vão para a casa... deixem-no ficar... e lá o mandarei são
como um perro".
* * *
Efetivamente, dois dias depois, o veterinário
levava-lhes o carneirinho, completamente restabelecido. Dava-se-lhe movimento à
cabeça, e ele fazia "Mé..." como dantes.
Nem Rosinha nem Marieta perceberam que o
carneirinho era outro.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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