3/23/2025

O carneirinho ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


O CARNEIRINHO

Adoeceu o cão do tio Lucas, um lavrador honrado, que tinha duas filhinhas, lindas como os amores: Rosinha e Marieta.

Tio Lucas mandou chamar o veterinário, e as pequeninas ficaram muito admiradas.

"Pois também há médicos para os cães?", perguntou Rosinha, a mais velha.

"Pois não, minha filha", respondeu tio Lucas; "os animais têm tanto direito à vida como nós!"

Acontece que dali a quinze dias, tendo ido à cidade o padrinho de Marieta, a pequenita mais nova, trouxe-lhe um carneirinho muito interessante. Era de pau, mas parecia vivo. Dava-se-lhe um movimento à cabeça, e ela fazia "Mé... Mé..."

Marieta, porém, tantas vezes quis ouvir o carneirinho fazer "Mé!... Mé!..." que acabou por degolá-lo.

A pobre pequerrucha ficou inconsolável. Rosinha disse-lhe que guardasse os destroços, para que tio Lucas os não visse, poderia zangar-se, e no dia seguinte, tendo de ir buscar leite a um estábulo próximo, recomendou à irmãzinha que a acompanhasse, levando consigo o pobre degolado.

Marieta obedeceu e, uma vez fora, as duas pequenas deitaram a correr para casa do veterinário.

Este, que era um velho rabugento e surdo, recebeu-as de mau humor.

Mas quando Rosinha, ao som do pranto de Marieta, acabou de expor-lhe, com muito medo, o grave motivo que as levara ali, dissipou-se o mau humor do bom velhote.

"Ah! querem então que lhes ponha bom o carneirinho? Pois vão para a casa... deixem-no ficar... e lá o mandarei são como um perro".

* * *

Efetivamente, dois dias depois, o veterinário levava-lhes o carneirinho, completamente restabelecido. Dava-se-lhe movimento à cabeça, e ele fazia "Mé..." como dantes.

Nem Rosinha nem Marieta perceberam que o carneirinho era outro.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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