O padre Antônio estava uma vez em Pádua, a
pregar um sermão na igreja, quando um anjo, baixando dos céus, veio dizer-lhe
que fosse a Lisboa salvar seu pai, condenado injustamente à morte.
Sem sair do púlpito, Antônio chegou no mesmo
instante a Lisboa.
Viu numeroso cortejo.
A frente da grande massa popular, estavam soldados,
o carrasco, juízes e o condenado. Em todas as esquinas, um oficial de justiça
lia em voz alta um pregão.
Nele se contava que tendo o réu assassinado um
homem, para roubar, como o haviam jurado testemunhas de vista, fora condenado
ao patíbulo.
Chegado o lúgubre cortejo à praça onde se erguia
a forca, Antônio fê-lo parar e exclamou:
— "Homens da justiça! Deus mandou-me aqui
dizer-vos que ides matar um inocente!"
— "Não é inocente!" respondeu o
magistrado. "Há testemunhas".
— "É inocente!" repetiu o padre
Antônio.
— "Como poderás prová-lo?".
— "Perguntando ao morto. Vamos ao cemitério,
que, pelo poder de Deus, o morto falará".
* * *
O fúnebre cortejo dirigiu-se ao cemitério, e
parou em frente ao túmulo do assassinado,
— "Homem morto!", ordenou Antônio,
"em nome de Deus, ordeno-te que digas a verdade. Levanta-te!... Quem te
matou?
Viu-se o túmulo abrir, e o cadáver, envolto na
mortalha, disse:
— "Quem me matou não posso dizê-lo,
porque Deus não quer que eu seja denunciante. Direi apenas que não foi o que
ides enforcar. Esse é inocente...""
O túmulo fechou-se de novo com o cadáver.
— "Milagre!... Milagre!... bradou o povo.
Soltaram o condenado.
Antônio voltou a Pádua, no mesmo instante, e
continuou o seu sermão.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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