3/23/2025

Lenda de Santa Isabel ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel

 


LENDA DE SANTA ISABEL

Isabel da Hungria, apesar de haver nascido no trono e ter vivido sempre no meio do luxo, e da abastança, era uma rainha virtuosa, meiga e compassiva.

Padecia com as necessidades dos outros, e não podia ver os sofrimentos alheios sem se sentir movida de compaixão, e buscar todos os esforços possíveis para aliviá-los.

Todas as vezes que podia, Isabel distribuía esmolas pelos pobres, economizando nas suas despesas e gastos, poupando para poder repartir com os desgraçados.

O mesmo não sucedia, entretanto, com seu marido.

O rei era um homem mau, gostando de praticar crueldades, e por isso ao passo que a virtuosa Isabel era abençoada pelo povo, ele ia cada vez granjeando mais antipatias e ódios.

No corte real ostentava-se o mais deslumbrante fausto: ouro, pedras preciosas, baixelas de prata, seda, veludo, viam-se por toda parte.

Gastava-se sem conta, arrancando-se dinheiro ao povo, que gemia sob pesadíssimos impostos.

Nos dias de festa, quando havia bailes e recepções, o rei e a rainha, sentados no trono de marfim incrustado de diamantes, rubis, safiras e pérolas, traziam sobre si extraordinárias riquezas em jóias e enfeites.

Mas Isabel sofria com aquilo. Toda aquela opulência, todas aquelas roupas de finíssima seda, pesavam-lhe, como se trouxesse vestidos de ferro.

É que conhecia a miséria do povo e viu-se na absoluta impossibilidade de minorá-la.

O rei não consentia que distribuísse esmolas, e para isso deixou até de lhe dar dinheiro.

Ainda assim a rainha achava meios de socorrer ocultamente a pobreza, mandando aos mais infelizes roupas velhas e repartindo com os miseráveis as sobras da comida.

Sabendo daquele procedimento, o marido declarou que se a visse distribuir mais uma migalha de pão sequer, mandaria matá-la.

Foi justamente quando o povo mais necessitado ficou.

O inverno nesse ano mostrara-se rigorosíssimo: a neve caindo dia e noite destruía as plantações; o frio matava aves e animais; a lenha estava caríssima. O povo padecia frio e fome.

Quando acabava o jantar recolhia toda a comida que sobejava, e ia, muito às ocultas, reparti-la com o bando de mendigos esfomeados que cercava o palácio..

Uma tarde em que ela como costumava, descia as escadas do régio paço, trazendo os restos do jantar no avental, encontrou o rei.

Mais que depressa escondeu a comida, mas o rei, desconfiando do que se tratava, interpelou:

— "Que levas aí escondido no avental?"

— "São flores", respondeu ela atrapalhada, tremendo de susto, já antevendo a horrível morte que lhe estava reservada.

— "Flores no inverno, e num inverno tão rigoroso!" — exclamou o rei. "São flores ou são restos que levas aos pobres? Deixa-me ver".

E com um safanão brusco, puxou o avental.

Oh! milagre! Caíram ao chão flores de toda a sorte, formosas flores da primavera, as mais lindas, as mais perfumadas.

O rei, tocado por aquele prodígio, converteu-se e tornou-se humano e caritativo.



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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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