Isabel da Hungria, apesar de haver nascido no
trono e ter vivido sempre no meio do luxo, e da abastança, era uma rainha
virtuosa, meiga e compassiva.
Padecia com as necessidades dos outros, e não
podia ver os sofrimentos alheios sem se sentir movida de compaixão, e buscar
todos os esforços possíveis para aliviá-los.
Todas as vezes que podia, Isabel distribuía esmolas
pelos pobres, economizando nas suas despesas e gastos, poupando para poder
repartir com os desgraçados.
O mesmo não sucedia, entretanto, com seu marido.
O rei era um homem mau, gostando de praticar
crueldades, e por isso ao passo que a virtuosa Isabel era abençoada pelo povo, ele
ia cada vez granjeando mais antipatias e ódios.
No corte real ostentava-se o mais deslumbrante
fausto: ouro, pedras preciosas, baixelas de prata, seda, veludo, viam-se por toda
parte.
Gastava-se sem conta, arrancando-se dinheiro
ao povo, que gemia sob pesadíssimos impostos.
Nos dias de festa, quando havia bailes e recepções,
o rei e a rainha, sentados no trono de marfim incrustado de diamantes, rubis,
safiras e pérolas, traziam sobre si extraordinárias riquezas em jóias e
enfeites.
Mas Isabel sofria com aquilo. Toda aquela opulência,
todas aquelas roupas de finíssima seda, pesavam-lhe, como se trouxesse vestidos
de ferro.
É que conhecia a miséria do povo e viu-se na
absoluta impossibilidade de minorá-la.
O rei não consentia que distribuísse esmolas,
e para isso deixou até de lhe dar dinheiro.
Ainda assim a rainha achava meios de socorrer
ocultamente a pobreza, mandando aos mais infelizes roupas velhas e repartindo
com os miseráveis as sobras da comida.
Sabendo daquele procedimento, o marido declarou
que se a visse distribuir mais uma migalha de pão sequer, mandaria matá-la.
Foi justamente quando o povo mais necessitado
ficou.
O inverno nesse ano mostrara-se rigorosíssimo:
a neve caindo dia e noite destruía as plantações; o frio matava aves e animais;
a lenha estava caríssima. O povo padecia frio e fome.
Quando acabava o jantar recolhia toda a comida
que sobejava, e ia, muito às ocultas, reparti-la com o bando de mendigos
esfomeados que cercava o palácio..
Uma tarde em que ela como costumava, descia as
escadas do régio paço, trazendo os restos do jantar no avental, encontrou o
rei.
Mais que depressa escondeu a comida, mas o rei,
desconfiando do que se tratava, interpelou:
— "Que levas aí escondido no
avental?"
— "São flores", respondeu ela
atrapalhada, tremendo de susto, já antevendo a horrível morte que lhe estava
reservada.
— "Flores no inverno, e num inverno tão
rigoroso!" — exclamou o rei. "São flores ou são restos que levas aos
pobres? Deixa-me ver".
E com um safanão brusco, puxou o avental.
Oh! milagre! Caíram ao chão flores de toda a
sorte, formosas flores da primavera, as mais lindas, as mais perfumadas.
O rei, tocado por aquele prodígio,
converteu-se e tornou-se humano e caritativo.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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