3/23/2025

A promessa ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


A PROMESSA

Era uma vez um rei que tinha uma filha, a quem desejava imensamente ver casada.

Para esse fim tinha mandado ir ao palácio muitos príncipes, para que escolhesse o que mais lhe agradasse. Ela, porém, não se agradava de nenhum e dizia que só casaria com o senhor das Janelas Verdes, que tinha os cabelos e a barba de ouro e os dentes de prata.

O rei, então, mandou procurar por toda a parte o tal personagem, mas não foi possível encontrá-lo.

Passaram-se anos e o rei sempre esperando pelo senhor das Janelas Verdes.

Um dia, estava ele à janela do palácio, quando viu passar uma carruagem com janelas verdes e cortinas da mesma cor e com dois lacaios vestidos do mesmo modo. Mandou parar a carruagem para ver quem ia dentro, e qual não foi a sua alegria ao ver um mancebo gentil de barbas e cabelos de ouro e dentes de prata! Chamou logo a princesa e perguntou-lhe se era aquele o senhor a quem ela se referia e que pretendia para esposo.

A princesa disse que sim, e então o rei convidou o tal senhor a entrar no seu palácio e ofereceu-lhe a mão da filha. Ele aceitou e fez-se logo o casamento.

Realizado, este, o senhor das Janelas Verdes partiu para as suas terras com a princesa. A carruagem em que iam parecia que voava, ora atravessando matas e tapadas, ora passando por pontes e estradas, e a princesa sempre triste. Chegados a uma floresta muito sombria, levantou-se tal tempestade, que os raios caíam em grande quantidade, e pareciam que saiam da terra labaredas de fogo.

A princesa, toda assustada, gritou com todas as forças:

— "Jesus, valei-me — Jesus, valei-me!"

E logo cessou a tempestade e ao mesmo tempo desapareceram, a carruagem, os lacaios e o senhor das Janelas Verdes, que sendo o Diabo em pessoa, logo que ouviu o nome de Jesus, fugiu para as profundezas do inferno.

A princesa, ao ver-se só, em tal descampado, chamou por Nossa Senhora e prometeu-lhe que se alguém dali a tirasse havia de andar um ano sem dar palavra.

Foi sentar-se junto a uma árvore e viu logo chegar um príncipe que ia caçar àqueles sítios, o qual, assim que a viu, lhe perguntou:

— "Quem vos deixou aqui só, exposta às tempestades e sem receio de que vos façam mal?"

A princesa não respondeu, pois começava a cumprir a promessa, que fizera a Nossa Senhora. O príncipe fez-lhe várias outras perguntas, e, como visse que não respondia, convenceu-se de que ela era muda, e levou-a para o seu palácio.

Tratou o príncipe de ir indagar por várias terras se conheciam a princesa, mas ninguém lhe soube indicar coisa alguma a seu respeito.

Assim se passou um ano e então o príncipe sentia já grande paixão pela princesa, desprezando a outra com quem tinha o casamento tratado.

Exatamente quando fazia um ano que a princesa fora para o palácio, mandou o príncipe que a vestissem com os fatos mais ricos que se pudessem, e depois dela assim vestida, foi vê-la a tal condessa, a quem o ciúme e a inveja consumiam, que lhe disse:

Quem assim te aperaltou,
Bem mal o tempo empregou!

Então a princesa respondeu-lhe, com voz cristalina, deliciosa:-

Quem me aperaltou assim,
É quem está doido por mim"

A rainha, que isto ouvira, correu logo a informar o príncipe do que a formosa menina havia falado.

Então o príncipe pediu à princesa que lhe contasse a sua história, o que ela fez, e o príncipe escreveu ao rei da princesa, participando-lhe como a encontrara e que ia casar com ela, pois a amava muito pela sua formosura.

Casaram-se e viveram muito felizes, e a condessa foi posta fora do palácio.



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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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