Era uma vez um rei que tinha uma filha, a quem
desejava imensamente ver casada.
Para esse fim tinha mandado ir ao palácio muitos
príncipes, para que escolhesse o que mais lhe agradasse. Ela, porém, não se
agradava de nenhum e dizia que só casaria com o senhor das Janelas Verdes, que
tinha os cabelos e a barba de ouro e os dentes de prata.
O rei, então, mandou procurar por toda a parte
o tal personagem, mas não foi possível encontrá-lo.
Passaram-se anos e o rei sempre esperando pelo
senhor das Janelas Verdes.
Um dia, estava ele à janela do palácio, quando
viu passar uma carruagem com janelas verdes e cortinas da mesma cor e com dois
lacaios vestidos do mesmo modo. Mandou parar a carruagem para ver quem ia
dentro, e qual não foi a sua alegria ao ver um mancebo gentil de barbas e
cabelos de ouro e dentes de prata! Chamou logo a princesa e perguntou-lhe se
era aquele o senhor a quem ela se referia e que pretendia para esposo.
A princesa disse que sim, e então o rei
convidou o tal senhor a entrar no seu palácio e ofereceu-lhe a mão da filha.
Ele aceitou e fez-se logo o casamento.
Realizado, este, o senhor das Janelas Verdes
partiu para as suas terras com a princesa. A carruagem em que iam parecia que
voava, ora atravessando matas e tapadas, ora passando por pontes e estradas, e
a princesa sempre triste. Chegados a uma floresta muito sombria, levantou-se
tal tempestade, que os raios caíam em grande quantidade, e pareciam que saiam
da terra labaredas de fogo.
A princesa, toda assustada, gritou com todas
as forças:
— "Jesus, valei-me — Jesus,
valei-me!"
E logo cessou a tempestade e ao mesmo tempo
desapareceram, a carruagem, os lacaios e o senhor das Janelas Verdes, que sendo
o Diabo em pessoa, logo que ouviu o nome de Jesus, fugiu para as profundezas do
inferno.
A princesa, ao ver-se só, em tal descampado,
chamou por Nossa Senhora e prometeu-lhe que se alguém dali a tirasse havia de
andar um ano sem dar palavra.
Foi sentar-se junto a uma árvore e viu logo
chegar um príncipe que ia caçar àqueles sítios, o qual, assim que a viu, lhe
perguntou:
— "Quem vos deixou aqui só, exposta às
tempestades e sem receio de que vos façam mal?"
A princesa não respondeu, pois começava a cumprir
a promessa, que fizera a Nossa Senhora. O príncipe fez-lhe várias outras
perguntas, e, como visse que não respondia, convenceu-se de que ela era muda, e
levou-a para o seu palácio.
Tratou o príncipe de ir indagar por várias terras
se conheciam a princesa, mas ninguém lhe soube indicar coisa alguma a seu respeito.
Assim se passou um ano e então o príncipe sentia
já grande paixão pela princesa, desprezando a outra com quem tinha o casamento
tratado.
Exatamente quando fazia um ano que a princesa fora
para o palácio, mandou o príncipe que a vestissem com os fatos mais ricos que
se pudessem, e depois dela assim vestida, foi vê-la a tal condessa, a quem o
ciúme e a inveja consumiam, que lhe disse:
Quem assim
te aperaltou,
Bem mal o tempo empregou!
Então a princesa respondeu-lhe, com voz cristalina,
deliciosa:-
Quem me
aperaltou assim,
É quem está doido por mim"
A rainha, que isto ouvira, correu logo a informar
o príncipe do que a formosa menina havia falado.
Então o príncipe pediu à princesa que lhe contasse
a sua história, o que ela fez, e o príncipe escreveu ao rei da princesa,
participando-lhe como a encontrara e que ia casar com ela, pois a amava muito
pela sua formosura.
Casaram-se e viveram muito felizes, e a condessa
foi posta fora do palácio.
---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...