Foi um dia uma princesa, filha de uma fada
muito poderosa, e do rei da Lua, que era o marido da fada.
Sua mãe fizera dela Rainha das Águas, para governar
todos os mares e todos os rios.
A princesa era formosa como a Virgem Maria. Os
cabelos verdes, muito verdes, chegavam até aos pés, e ainda arrastavam pelo
chão — os fios verdes que andam boiando em cima d'água, e se chamam limo, são
tranças dela. Os olhos, sem cor — eram assim como uma claridade de luar
cegante.
Ficou-se chamando a Mãe d'água, e como era
assim bonita, foi adorada por muitos príncipes, que com ela pretendiam casar.
Mas o seu coração já pertencia a um rei, lindo
como o Sol, que, segundo se dizia mesmo, era filho dele.
Houve muitos combates, e tendo o filho do Sol
saído sempre vencedor, alcançou a mão da princesa. Celebrou-se o casamento, por
entre festas deslumbrantes, que duraram nove dias e nove noites.
Ao cabo desse tempo partiu o rei para o seu
palácio, levando consigo a esposa.
A princesa disse-lhe, então, que três meses de
ano havia de passar com a fada, sua mãe, e o resto do tempo com ele.
O rei, que lhe queria imensamente, ficou
triste. Era, porém, tão bom, que consentiu, porque pensava, com razão, que se
ela não fosse filha extremosa, não poderia ser nem boa esposa nem boa mãe.
Assim sucedeu, e em certa época do ano, a princesa
passava com a fada no seu palácio de diamantes, no fundo do mar.
Viveram felizes alguns anos, até que a
princesa teve um filho — o menino mais bonito que jamais se viu. A mãe
adorava-o, o pai morria por ele, e todos quantos o viam ficavam encantados.
* * *
Chegando o tempo em que ela tinha de visitar a
fada, quis levar o filhinho em sua companhia porém o rei tanto pediu e rogou,
que ela teve pena do pobre, e deixou-o muito pesarosa, depois de recomendar ao
esposo que lhe dispensasse todos os cuidados.
Entretanto no palácio de diamantes, a filha do
rei Lua não encontrou sua mãe, que fora transformada numa flor muito grande,
muito alva, dessas que nascem em cima das águas.
A princesa procurou-a por toda a parte com tal
desespero, chorando tanto, que o rei das fadas perdoou a velha, dando-lhe a sua
primeira forma.
Mãe e filha abraçaram-se contentíssimas, e
dali saíram, navegando em uma concha de pérola e ouro, ansiosas por verem — a
rainha, seu esposo e filho — a fada, seu lindo netinho.
Haviam decorridos longos anos, e o rei, vendo
que a mulher não voltava, ficou desconsolado e triste.
Como na corte havia muita gente malfazeja, espalhou-se
que a rainha se havia apaixonado por um príncipe do mar.
Sua majestade, a princípio não deu crédito à
calúnia, mas finalmente acreditou em vista da demora.
Para se vingar, casou com outra princesa.
A madrasta, malvada e sem coração, mandou o
principezinho para a cozinha, fazendo-o trabalhar como um negro.
Um dia em que o menino vinha todo sujo de
carvão, carregando lenha do mato, encontrou com a princesa do mar que chegava.
Não sabia quem era mas ela logo o reconheceu e o abraçou comovida. Então soube
o que tinha passado.
Sem querer ver mais o ingrato, sumiu-se com o
filho do seu coração para o fundo do mar.
Por sua ordem, as águas começaram a crescer...
a subir... a subir... e afogaram o palácio, o rei, a nova rainha, e todos os
que a tinham caluniado.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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