3/23/2025

A bandeira de retalhos ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


A BANDEIRA DE RETALHOS

O alfaiate Lindolfo não era um homem honrado, nem um negociante probo, conquanto fosse um dos mais hábeis artistas que se pode imaginar.

A roupa cortada e cosida por ele era primorosa e elegante, assentando no corpo como uma luva, mas ficava por preço elevadíssimo.

Lindolfo tinha o mau costume de pedir mais um metro de fazenda do que era preciso para um terno. Um dia teve um sonho terrível.

Sonhou que tinha morrido, e como havia gatunado muito na terra, foi para o inferno.

Aí procedeu-se ao seu julgamento, para saber-se a que penas tremendas seria condenado.

Então o diabo, que o acusava, para fazer grande carga sobre ele, apresentou uma grande bandeira com todos os retalhos de fazenda que havia roubado na terra.

Ao despertar, Lindolfo ficou desagradavelmente impressionado, e jurou consigo mesmo que nunca mais furtaria, pedindo excesso de fazenda.

Para não esquecer, recomendou a seus aprendizes que lhe puxassem pelo paletó, todas as vezes que o vissem exigir mais quantidade de pano do que a necessária.

Com os primeiros fregueses que apareceram na loja, o alfaiate procedeu honradamente.

Chegando, porém, um deles que trazia uma casimira de lindíssimo padrão, mestre Lindolfo esqueceu-se do sonho e do protesto e pediu um metro a mais..

Imediatamente um dos aprendizes puxou-lhe com força pela aba do paletó, e ele, voltando-se, disse:

— "Não há novidade, rapaz! Desta casimira não havia na bandeira do inferno!..."



---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...