A BANDEIRA DE RETALHOS
O alfaiate Lindolfo não era um homem honrado,
nem um negociante probo, conquanto fosse um dos mais hábeis artistas que se
pode imaginar.
A roupa cortada e cosida por ele era primorosa
e elegante, assentando no corpo como uma luva, mas ficava por preço
elevadíssimo.
Lindolfo tinha o mau costume de pedir mais um
metro de fazenda do que era preciso para um terno. Um dia teve um sonho terrível.
Sonhou que tinha morrido, e como havia gatunado
muito na terra, foi para o inferno.
Aí procedeu-se ao seu julgamento, para saber-se
a que penas tremendas seria condenado.
Então o diabo, que o acusava, para fazer
grande carga sobre ele, apresentou uma grande bandeira com todos os retalhos de
fazenda que havia roubado na terra.
Ao despertar, Lindolfo ficou desagradavelmente
impressionado, e jurou consigo mesmo que nunca mais furtaria, pedindo excesso
de fazenda.
Para não esquecer, recomendou a seus aprendizes
que lhe puxassem pelo paletó, todas as vezes que o vissem exigir mais
quantidade de pano do que a necessária.
Com os primeiros fregueses que apareceram na
loja, o alfaiate procedeu honradamente.
Chegando, porém, um deles que trazia uma casimira
de lindíssimo padrão, mestre Lindolfo esqueceu-se do sonho e do protesto e
pediu um metro a mais..
Imediatamente um dos aprendizes puxou-lhe com
força pela aba do paletó, e ele, voltando-se, disse:
— "Não há novidade, rapaz! Desta casimira
não havia na bandeira do inferno!..."
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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