RETRATO
(Cecília Meireles)
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
O que leva uma pessoa a manipular uma fotografia a fim de “melhorar” sua aparência real?
Certamente muitas serão as justificativas e todas elas perfeitamente compreensíveis do ponto de vista da estética pessoal: para esconder uma espinha inconveniente, para ocultar uma cicatriz da infância, para dirimir uma ruga indecente (ou várias delas), enfim, para “conseguir uma aparência perfeita”. Muitos, porém, vão mais além e buscam ampliar o tamanho dos olhos, afinar o nariz ou a cintura, aumentar a bunda, alargar as pernas, engrossar os lábios etc. Em outras palavras: buscam ser o que não são e o que jamais serão.
A Psicologia parece abordar a questão pelo viés da autoestima e alguns especilaistas até já tratam o problema como uma doença, a que denominam de "Transtorno Dismórfico Corporal", patologia essa que leva uma pessoa a se preocupar excessivamente com aquilo que considera um defeito no seu corpo, a ponto de evitar determinadas situações sociais e em casos extremos levar até ao isolamento. Nesse estado a pessoa fica obcecada pela aparência, e os chamados “filtros” transformam-se assim numa ferramenta “grandemente eficaz” para dirimir os efeitos mentalmente “catastróficos”. A indústria da estética, incluindo aí os diversos tratamentos e remédios, acaba sendo o passo seguinte, para quem pode, é claro.
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