O IRMÃO E A IRMÃ
Diogo e Ana se achavam sozinhos em
casa. O primeiro disse à irmã:
— Vem comigo, Ana, vamos procurar
alguma comida e nos regalar com ela.
— Se puderes me levar a um lugar em
que ninguém nos veja, não duvidarei em te acompanhar, respondeu Ana.
— Muito bem! disse Diogo, iremos ao
quartinho onde está o leite, e aí poderemos comer o doce de creme.
— Não, respondeu a irmã: ali está
um homem rachando madeira na rua, que infalivelmente nos havia de ver.
— Nesse caso, disse Diogo,
acompanha-me até à cozinha; tiraremos o mel do armário e faremos um manjar. Ana
replicou ainda:
— Tu bem sabes que a vizinha
trabalha assentada junto da janela, e nos veria com a maior facilidade.
— Vamos então comer maças no subterrâneo,
replicou o pequeno glutão; ali é tão escuro que ninguém poderia nos descobrir.
— Oh! meu irmão, disse Ana, supões
realmente que ninguém poderia nos ver? Não conheces um olho que penetra através
dos muros até mesmo na obscuridade? Diogo, ferido dessa observação, corou e
disse à irmã:
— Tens razão, Deus está presente em
todas as partes, e nunca lhe poderíamos escapar. Eu já não quero fazer mais o
que te propunha ainda agora. Ana alegrou-se de ver que o irmão acolhia no
coração as suas palavras, e lhe fez presente de uma bela estampa, onde se via,
entre outras cousas, o olho de Deus cercado de raios, e embaixo estas palavras:
Possa o teu olho divino
Me infundir santo temor,
Me afastando do pecado,
O meu Deus! meu puro amor!
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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.
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