O EXILADO DO TEMPO
Sigamos aquele velho... Acompanhemos seus passos trôpegos por aquele longo caminho, cujo destino é o incógnito absoluto...
Ali vai ele no seu caminhar vacilante. Repare bem seu olhar confuso. Observe como contempla o nada como se visse o tudo. Veja bem como desvia os olhos daquela moça jovem e bonita. Ela lhe lembra um tempo em que as flores nunca murchavam, quando a primavera era a única estação e quando seu maior tesouro era o próprio coração.
Veja como ele mira agora fixamente o longo horizonte. É como se procurasse naquele azul infinito a finitude de sua própria existência.
Sua figura esquálida e patética não desperta a atenção de
ninguém. É como se estivesse peregrinando
sozinho por um árido deserto. E essa invisibilidade apenas faz realçar sua
alma desnuda. Sim, ele tem uma alma! Mas o que é essa alma? Essa alma é o seu
passado, é o seu presente, é o seu futuro, é o seu tudo, é o seu nada... Ela o que lhe restou desse longo exílio. É o
que sobreviveu de sua morte...
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São Paulo, 2023.
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