O ECO
O pequeno Jorge não tinha a menor ideia
do que fosse um eco. Um dia ele lembrou-se de gritar no meio do prado: — Oh! oh!
— e ouviu repelirem no bosque — vizinho as mesmas palavras: Oh! oh! — O menino,
admirado, continuou a gritar: — Quem és tu? — A mesma voz misteriosa respondeu
logo: — Quem és tu?
Jorge ainda continuou:
— És um rapaz muito tolo. — Rapaz
tolo! repetiu a voz do fundo do bosque. Jorge ficou desesperado, redobrou as
injurias que enviava ao bosque. O eco sempre as repelia fielmente.
Procurou inutilmente o mínimo que ele
supunha lhe responder, para se vingar, porém não encontrou pessoa alguma.
Jorge, vendo baldados os seus passos, correu para casa e foi se queixar a sua mãe
de que um mau rapaz se tinha escondido no bosque para injuriá-lo.
— Vê, meu filho, lhe disse ela, tu
te acusas e te trais a ti mesmo. Sabe que apenas ouviste tuas palavras; assim
como tens visto teu semblante muitas vezes no regato, da mesma sorte acabas de
ouvir a tua voz na floresta. Se houvesses gritado uma palavra delicada,
ouvirias outra igual. Tudo é assim neste mundo. A conduta dos outros a nosso
respeito é geralmente o eco da nossa. Se tratarmos com benevolência aos nossos
iguais, eles nos tratarão da mesma maneira; se, porém, usarmos de grosseria,
não poderemos nem teremos o direito de esperar melhor tratamento.
O eco repete sempre
Nossos gritos na floresta.
Seja sempre a nossa voz
Casta, pura e modesta.
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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.
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