DEUS
Um menino muito piedoso vivia junto de um idólatra, a quem muitas vezes dizia:
— Não há senão um só Deus poderoso,
que criou o céu e a terra; é ele que faz brilhar o sol e cair a chuva; conhece todas
as nossas ações e todos os nossos pensamentos, e presta ouvidos às nossas súplicas.
Só ele tem o poder de nos punir e de nos recompensar, de nos salvar a de nos
perder. Os ídolos que vós adorais são feitos de barro, não têm a faculdade de
ver e de ouvir, e por esse motivo não podem fazer nem bem nem mal algum.
O idólatra, porém, se conservava surdo a essas
verdades.
Um dia ele saiu para o campo. O
menino aproveitou-se desta ausência para quebrar todos os seus ídolos, excetuando
o maior, em cujas mãos depôs um grosso e nodoso cajado.
Quando voltou o pagão, ardendo em
cólera, bradou enfurecido:
— Quem foi o autor de uma ação tão
infame?
— Como! lhe disse o menino, não acreditais
que o vosso ídolo maior tenha quebrado por suas mãos os outros, que são muito
menores do que ele?
— Não, lhe replicou o pagão encolerizado,
não o creio, porque nunca vi ele fazer um único movimento. Foste tu, invejoso,
que quebraste os meus deuses, e com este cajado vou punir a tua perversidade.
— Acalmai-vos, atalhou o moço com
doçura; se não concedeis ao vosso ídolo o poder de fazer aquilo que eu, sendo
uma simples criança, acabo de fazer, como poderá ele ser tão poderoso que tem
há criado o céu e a terra?
O pagão emudeceu a estas palavras;
refletiu um instante, e por último quebrou o ídolo que lhe restava, e,
prostrando-se per terra, adorou pela primeira vez ao verdadeiro Deus.
Feliz aquele que, era Deus
Tendo fé sincera e pura,
Pode crer que nesta vida
Ele é pai da criatura.
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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.
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