AS PÉROLAS ROUBADAS
Era
uma vez um fidalgo que tinha um lacaio e um cocheiro; o lacaio chamava-se
Pança, e o cocheiro, Costas.
Um
belo dia, eles roubaram ao patrão umas pérolas, que estavam guardadas num
cofre.
Quando
o fidalgo viu que as pérolas imo estavam no cofre, chamou os dois homens e
disse-lhes:
—
Confessai a verdade se me roubastes? Eles disseram:
—
Não, senhor! nunca; nem sabemos de nada.
O
fidalgo disse:
—
Vede bem o que dizeis, pois vou já chamar a adivinha, e ai de vós se ela disser
que fostes vós.
O
fidalgo mandou chamar a velha, e quando ela chegou, ele disse-lhe:
Bom
dia, tiazinha! faz favor de me deitar cartas, pois roubaram-me umas pérolas de
muito valor.
A
velha respondeu:
—
Está muito bem, patrão, já lá vou; mas antes de tudo, mande-me aquecer água
para um banho, pois venho muito suja do caminho e quero lavar-me.
Prepararam
o banho, e a velha começou a fustigar-se com a vassoura e a dizer.
—
Agora a pança e as costas hão de apanhar. Mas o lacaio e o cocheiro estavam à
janela a escutar o que ela dizia. Diz o cocheiro.
—
Oh, amigo, ela já sabe tudo. O que vai ser de nós?
Mal
a velha saiu do banho, eles começaram a pedir-lhe:
—
Ó, tiazinha! por amor de Deus, não diga nada ao patrão.
Pergunta
a velha:
—
Mas que é feito das pérolas? Ainda estão intactas?
Eles
disseram:
—
Estão, sim, tiazinha.
A
velha disse:
—
Pois enrolai cada uma das pérolas em miolo de pão e dai-o de comer ao ganso.
Dito
e feito. A velha foi ter com o fidalgo, que lhe perguntou:
—
Então, tiazinha, já sabe?
A velha disse:
—
Sei, meu caro.
O
fidalgo perguntou-lhe:
—
Mas quem tem a culpa?
Diz
a velha:
—
E o ganso que anda no pátio; a sua casa tem as janelas abertas, e assim o ganso
entrou c comeu as pérolas.
O
fidalgo mandou apanhar e matar o ganso. Mataram o ganso, e encontraram-lhe as
pérolas na moela. O fidalgo agradeceu à velha e jantou com ela; mas mandou
trazer para o jantar uma gralha assada, para ver se a velha adivinhava o que
era. Sentaram-se à mesa. Quando trouxeram a gralha assada, a velha, olhando
para os lados, disse a respeito de si própria:
—
As gralhas voam alto, e às vezes entram em palácios.
O fidalgo disse:
—
Que esperta que ela é; sabe tudo. Depois do jantar, o fidalgo mandou vir a
carruagem para levar a velha para casa, e disse a um criado que pusesse ovos na
carruagem sem ela saber. O criado assim fez. Como a carruagem parecia um cabaz,
diz a velha ao sentar-se:
—
Lá vai a galinha para o choco. O fidalgo admirou-se da velha saber tudo,
deu-lhe dinheiro, e mandou-a para casa.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2006.
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