Conta-se que um homem, tendo chegado à extrema velhice e necessitando de cuidados, foi morar com seu único filho. Este era casado com uma mulher muito exigente e sovina, com a qual tinha uma filhinha.
Com o correr dos dias, a esposa passou a implicar com o pobre velho, e já não suportava mais sua presença, principalmente à mesa, pois o ancião com suas mãos trêmulas sempre deixava cair restos de comidas no chão, e não raras vezes quebrava pratos e xícaras.
- Já não o suporto mais - disse um dia ao marido. - Só nessa semana já me quebrou dois pratos e três xícaras. Você precisa fazer algo a respeito, pois do contrário vou embora pra casa de mamãe.
O homem, que nutria de amores pela mulher, prometeu-lhe que mandaria o velho para um asilo. Naquele dia foi ao pai e disse-lhe:
- Meu pai, o senhor precisa deixar essa casa. Minha mulher não o quer mais aqui. Arranjei um lugarzinho na cidade, onde o senhor poderá viver em paz os restos de seus dias.
O pobre idoso nada respondeu. Com os olhos lacrimejantes, limitou a fazer-lhe um sinal positivo com a cabeça.
Naquele dia, quando o casal se preparava para dormir, a filhinha chegou-se a eles e pediu-lhes:
- Papai, queria ir com o senhor amanhã, para ver o lugar onde meu avozinho vai morar. Será que a mamãe poderia ir também conosco?
O pai não fez objeção ao pedido da menina. No entanto, não via nenhuma razão para que a esposa os acompanhasse. A filha, no entanto, instou muito que queria a companhia da mãe. E acrescentou chorando:
- Por favor, paizinho!
O homem, intrigado com aquela insistência da menina, perguntou-lhe:
- Por que, filha, sua mãe deve ir também?
A garotinha, com voz firme, respondeu:
- É que quero que
vocês dois conheçam o lugarzinho onde viverão depois que ficarem velhinhos como o vovô.
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Iba Mendes: Fabulário (fevereiro de 2023)
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