Em uma aldeia vivia um campônio que tinha três filhos; dois
eram inteligentes, mas o terceiro, que se chamava Emiliano, era parvo.
Quando o campônio já era velho, chamou os filhos e
disse-lhes:
— Queridos filhos! sinto que breve vou morrer; deixo-vos a
casa e o gado, que haveis de repartir em partes iguais; também vos deixo cem
rublos a cada um.
Daí a pouco tempo o pai deles morreu, e os filhos,
entretanto, iam vivendo felizes.
Depois os irmãos do Emiliano lembraram-se de ir para a cidade
negociar com os trezentos rublos que o pai lhes tinha deixado, e disseram para
o Parvo:
— Olha lá, Parvo! nós vamos para a cidade e levamos também os
teus cem rublos, e quando tivermos feito negócio, hás de ter a metade dos lucros,
e vamos comprar para ti um casaco encarnado, um boné encarnado e botas encarnadas.
Mas tu ficas em casa, e se as nossas mulheres e tuas cunhadas (eles eram
casados) te mandarem fazer qualquer coisa, hás de fazê-la.
O Parvo, desejando obter as coisas prometidas, disse aos
irmãos que faria tudo que lhe mandassem. Em seguida os irmãos foram para
cidade, e o Parvo ficou vivendo em casa com as cunhadas.
Um belo dia de inverno, quando fazia um frio de rachar
pedras, as cunhadas disseram ao Emiliano que fosse buscar água. Mas o Parvo,
deitado em cima do forno, disse:
— Vão vocês!
As cunhadas começaram a gritar:
— O quê, Parvo?! Então
nós é que havemos de ir? Não vês o frio que faz, que só um homem pode ir?
Mas ele respondeu;:
— Tenho preguiça!
As cunhadas tornaram a gritar:
— Que quer dizer que tens preguiça? Hás de querer comer e, se
não houver água, não podemos cozer nada. Além disso, disseram:
— Está bem, quando os nossos maridos voltarem com o casaco
encarnado e com o resto, havemos de lhes dizer que te não deem nada.
O Parvo, ouvindo isto e desejando obter o casaco encarnado e
o boné, teve de ir; desceu do forno e começou a vestir-se.
E quando estava vestido, pegou nos baldes e no machado e foi
ao rio, pois a aldeia deles estava situada mesmo à beira do rio. Quando chegou
ao rio, fez um grande buraco no gelo. Depois encheu os baldes de água e pô-los
em cima do gelo, e deixou-se estar ao pé do buraco, olhando para a água.
O Parvo viu nadar um pequeno lúcio no buraco; ora o Emiliano,
embora fosse parvo, queria não obstante apanhar o lúcio, e por isso foi-se
aproximando a pouco e pouco, e quando estava bem perto dele, agarrou-o com a mão,
tirou-o da água, meteu-o no seio e queria ir para casa. Mas o lúcio, disse-lhe:
— Oh Parvo, para quê é que me apanhaste.
— Para quê? disse ele, levo-te para casa e digo às minhas
cunhadas que te cozam.
— Não, Parvo, não me leves para casa, deita-me ao rio, que te
faço rico.
Mas o Parvo não se fiava nele e queria ir para casa.
O lúcio, vendo que o Parvo o não largava, disse:
— Escuta, Parvo, deita-me ao rio; hei de te fazer tudo que
desejares.
O Parvo, ao ouvir isto, ficou muito contente, porque era
muitíssimo preguiçoso, e pensava consigo:
— Se o lúcio fizer que eu tenha tudo que desejar, não preciso
de trabalhar!
Depois disse para o lúcio:
— Vou largar-te, mas hás de fazer o que me prometeste.
O lúcio respondeu:
— Primeiro deita-me ao rio, depois cumprirei a minha
promessa.
Porém, o Parvo disse-lhe que primeiro havia, de cumprir a
promessa e que depois o largaria. Como o lúcio via que ele não queria deitá-lo
ao rio, disse:
— Se queres que eu te diga como se há de fazer o que
desejares, tens que dizer já o que queres.
O Parvo disse-lhe:
— Quero que os meus baldes com água vão por si para a
montanha (pois aquela aldeia encontrava-se em cima de uma montanha) e que a
água se não entorne.
O lúcio disse-lhe logo:
— Não tem dúvida; não se há de entornar. Mas lembra-te bem
das palavras que te vou ensinar; as palavras são estas: "Manda o lúcio e
peço eu que os baldes vão por si para a montanha!
Depois do lúcio, disse o Parvo:
— Manda o lúcio e peço eu que os baldes vão por si para a
montanha!
E logo os baldes foram por si para a montanha. Ao ver isto, o
Emiliano ficou muito admirado, e depois disse para o lúcio:
O lúcio respondeu-lhe que tudo havia de ser assim, mas que o Parvo não devia esquecer as palavras que lhe tinha ensinado. Depois deitou o lúcio ao rio, e foi atrás dos baldes. Quando os vizinhos viram aquilo, ficaram admirados e disseram uns para os outros:
— Olhe o que o Parvo anda a fazer! Os baldes com água andam por si, e ele vai andando atrás deles.
Mas o Emiliano não lhes disse nada e chegou a casa.
Os baldes entraram na cabana e puseram-se em cima dum banco, e o Parvo deitou-se em cima do forno.
Passado tempo, as cunhadas disseram-lhe:
— Emiliano! então estás deitado? era melhor que fosses à lenha.
Mas o Parvo respondeu:
— Vão vocês!
— O quê?! gritaram as cunhadas; olha, agora é inverno, e se não fores à lenha, terás frio.
— Tenho preguiça! respondeu o Parvo.
— Que quer dizer que tens preguiça? disseram-lhe as cunhadas; olha que morres com frio.
Além disso disseram:
— Se não fores à lenha, havemos de dizer aos nossos maridos que te não deem o casaco encarnado, nem o boné encarnado, nem as botas encarnadas.
O Parvo, desejando obter essas coisas, não teve outro remédio senão ir à lenha; mas como era muitíssimo preguiçoso e não tinha vontade de se tirar do forno, disse em voz, baixa:
— Manda o lúcio e peço eu que o machada vá rachar lenha, e que esta venha para a cabana e se coloque por si no forno!
O machado saltou logo para o pátio, e começou a rachar lenha, e a lenha foi por si para a cabana, e colocou-se no forno.
As cunhadas, ao verem isto, ficaram muita admiradas. E o mesmo acontecia todos os dias; quando mandavam ao Parvo rachar lenha, era, o machado que a rachava.
Passado tempo, as cunhadas disseram:
— O Emiliano! agora não temos lenha; vai à floresta buscar lenha.
O Parvo disse-lhes:
— Vão vocês!
— O quê? responderam as cunhadas. A floresta fica longe daqui, e agora é inverno, e temos frio para ir à lenha.
Mas o Parvo disse-lhes:
— Tenho preguiça!
— Que quer dizer que tens preguiça? disseram as cunhadas; olha que terás frio; e se não fores, havemos de dizer aos nossos maridos, quando voltarem, que te não deem nada: nem o casaco encarnado, nem o boné encarnado, nem as botas encarnadas.
O Parvo, desejando obter tudo isto, não teve outro remédio senão ir à lenha, e levantando-se, desceu do forno e começou a vestir-se depressa.
Quando estava vestido, foi ao pátio, tirou o trenó do alpendre, pegou em uma corda e no machado, sentou-se no trenó e disse às cunhadas que abrissem o portão. Quando as cunhadas viram que ele ia no trenó sem cavalo, disseram-lhe:
— O que é isso, Emiliano, então sentaste-te no trenó, e não engataste o cavalo?
Mas ele disse que não precisava de cavalo, e só queria que lhe abrissem o portão.
As cunhadas abriram
o portão, e o Parvo, sentado no trenó, disse:
— Manda o lúcio e peço eu que o trenó vá à floresta!
Logo o trenó saiu do pátio. Quando os campônios, que viviam naquela aldeia, viram isto, ficaram muito admirados, pois nem que o trenó fosse puxado por uma parelha, não podia andar mais depressa.
E como o Parvo, para ir à floresta, tinha que atravessar a cidade, atravessou-a; mas como não sabia que era preciso gritar, para não esmagar o povo, ele ia sem gritar, para o povo se acautelar, e assim esmagou muita gente, e embora corressem atrás dele, não puderam apanhá-lo.
O Emiliano saiu da cidade, e chegado à floresta, parou, apeou-se e disse:
— Manda o lúcio e peço eu que o machado rache lenha, e que as achas se atem por si e se coloquem no trenó.
Mal o Parvo acabou de dizer estas palavras, logo o machado começou a rachar lenha, e as achas ataram-se por si com uma corda e colocaram-se no trenó. Depois, quando o Parvo já tinha a lenha, mandou ao machado cortar um varapau.
E quando tudo estava pronto, sentou-se no trenó e disse:
— Manda o lúcio e peço eu que o trenó vá por si para casa.
Logo o trenó partiu muito depressa, e quando o Emiliano chegou à cidade onde já tinha esmagado muita gente, o povo estava à espera dele, para o apanhar, e quando entrou na cidade, agarraram-no e começaram a tirá-lo do trenó, batendo-lhe.
O Parvo, ao ver que o agarravam e lhe batiam, disse em voz baixa:
— Manda o lúcio e peço eu que o varapau lhes parta os braços e as pernas!
Logo o varapau saltou e começou a bater em todos. E enquanto o povo fugia, o Parvo foi para casa; e o varapau depois de ter desancado a todos, desatou a correr atrás dele.
E assim que o Emiliano chegou a casa, deitou-se em cima do forno.
Depois que o Parvo saiu da cidade, não se falava noutra coisa, não tanto por ter esmagado muita gente, quanto por o trenó andar por si só.
Finalmente, os ditos do povo chegaram aos ouvidos do próprio rei. Mal o rei ouviu isso, manifestou grande desejo de o ver, e por isso mandou um oficial com alguns soldados à procura do Emiliano. O oficial, enviado pelo rei, deixou logo a cidade e foi ter ao caminho por onde o Parvo ia à floresta.
Quando o oficial chegou à aldeia onde vivia o Emiliano, mandou chamar o regedor e disse-lhe:
— O rei manda-me buscar o vosso Parvo para ir comigo ao palácio.
O regedor ensinou-lhe logo a casa onde morava o Emiliano, e o oficial entrou na cabana e perguntou:
— Onde está o Parvo?
E este, deitado em cima do forno, respondeu:
— Para que é?
— Queres saber para que é? veste-te depressa e vamos ao rei.
Mas o Emiliano disse:
— Que vou eu lá fazer?
O oficial zangou-se com a resposta pouco respeitosa e deu-lhe uma bofetada. Mas quando o Parvo viu que lhe batiam, disse em voz baixa:
— Manda o lúcio e peço eu que o varapau lhes parta os braços e as pernas.
O varapau saltou-lhes logo em cima e começou a bater neles, e chegou-lhes a todos, tanto ao oficial como aos soldados.
O oficial foi obrigado a voltar, e quando chegou à cidade, contou ao rei que o Parvo tinha batido em todos.
O rei ficou muito admirado e não acreditou que o Parvo pudesse bater em todos; contudo escolheu um homem inteligente, e mandou-lhe buscar o Parvo, sem falta, nem que fosse com uma mentira.
O enviado do rei partiu, e quando chegou à aldeia onde vivia o Emiliano, mandou chamar o regedor e disse-lhe:
— O rei manda-me buscar o vosso Parvo; vá chamar as pessoas que vivem com ele.
O regedor foi logo chamar as cunhadas do Emiliano. O enviado do rei perguntou-lhes:
— De que gosta o Parvo?
As cunhadas responderam:
— Meu senhor, o Parvo, para fazer qualquer coisa, gosta que lhe peçam muito; à primeira vez e à segunda, recusa; mas à terceira vez, já não recusa e faz tudo; ele não gosta que o tratem grosseiramente.
O enviado do rei mandou-as embora e disse-lhes que não contassem ao Emiliano que tinham falado com ele. Depois comprou passas, ameixas secas e figos, e foi ter com o Parvo, e quando entrou na cabana, chegou-se ao forno e disse:
— Então, Emiliano, estás deitado em cima do forno? e deu-lhe passas, ameixas secas e pedindo-lhe que fosse com ele ao rei.
Mas o parvo disse:
— Estou aqui tão quentinho! pois ele nada apreciava tanto como o calor. E o enviado começou a pedir-lhe:
— Emiliano, faz favor de vir comigo; hás de te dar bem lá!
O Parvo disse:
— Tenho preguiça!
Mas o enviado continuou a pedir-lhe:
— Faz favor de vir comigo, o rei vai mandar fazer-te um casaco encarnado, um boné encarnado e botas encarnadas.
Quando o Parvo ouviu que lhe faziam um casaco encarnado, se fosse, disse:
— Então vai tu primeiro, que eu vou atrás de ti.
O enviado não quis importuná-lo mais, afastou-se dele e perguntou em voz baixa às cunhadas se o Parvo o não enganava. Mas elas afiançaram-lhe que não o enganava.
O enviado voltou ao palácio, e o Parvo deixou-se estar ainda um pouco em cima do forno e disse:
— Tenho pouca
vontade de ir ao rei, mas tem de ser!
Depois disse:
— Manda o lúcio e peço eu que o forno vá direito à cidade.
No mesmo instante, um grande estrondo houve na cabana e o forno despegou-se e quando saiu do pátio, andava tão depressa que era impossível apanhá-lo; e o Parvo apanhou ainda no caminho o enviado, e depois chegaram ambos ao palácio.
Quando o rei viu que o Parvo tinha chegado, foi vê-lo em companhia de todos os seus ministros, e vendo que o Emiliano tinha chegado em cima do forno, não disse nada; depois o rei perguntou-lhe:
— Por que é que esmagaste tanta gente, quando ias à lenha?
Mas o Emiliano disse:
— Que culpa tenho eu? por que é que não se acautelaram?
Nisto chegou à janela a filha do rei e olhava para o Parvo, e o Emiliano olhou por acaso para a janela onde ela estava, e vendo que era muito bonita, disse em voz baixa:
— Manda o lúcio e peço eu que aquela linda rapariga se apaixone por mim!
Mal proferiu estas palavras, logo a filha do rei olhou para ele, e ficou apaixonada por ele.
E depois o Parvo disse:
— Manda o lúcio e peço eu que o forno vá para casa.
O forno foi logo para casa e colocou-se no seu lugar.
Depois disso o Emiliano viveu feliz por algum tempo; mas em casa do rei passava-se outra coisa, pois, por causa das palavras do Parvo, a princesa apaixonou-se por ele e pedia ao pai que a casasse com o Parvo. Ora o rei ficou por isso muito zangado com o Parvo, e não sabia como havia de o apanhar. Então os ministros disseram-lhe que mandasse aquele oficial que já tinha ido buscar o Emiliano sem ter podido trazê-lo. Por castigo, o rei mandou dizer ao oficial que se apresentasse. Quando o oficial se apresentou, o rei disse-lhe:
— Escute amigo, mandei-o buscar o Parvo, e você não o trouxe; para o castigar, mando-o mais uma vez, e há de trazer-mo sem falta; se o trouxer, será recompensado, e se o não trouxer, será castigado.
O oficial ouviu as
palavras do rei e foi logo buscar o Parvo, e quando chegou à aldeia, mandou
outra vez chamar o regedor e disse-lhe:
O regedor sabia que
o oficial era mandado pelo rei, por isso teve que obedecer; comprou tudo e
convidou o Parvo.
Como o Emiliano prometeu ir, o oficial esperava-o com grande alegria.
No outro dia, o Parvo foi a casa do regedor; este embriagou-o de sorte que o Emiliano adormeceu. Quando o oficial viu que estava a dormir, algemou-o, mandou vir um carro e meteu-o dentro; depois o oficial meteu-se também no carro e levou o Parvo para a cidade. E assim que chegou à cidade, levou-o diretamente ao palácio. Os ministros disseram ao rei que o oficial tinha chegado.
E assim que o rei ouviu isto, ordenou que lhe trouxessem um tonel com arcos de ferro. Trataram imediatamente de fazer o tonel e trouxeram-no ao rei. Quando o rei tinha tudo pronto, mandou meter no tonel a filha e o Parvo, e alcatroar o tonel; e depois o rei mandou deitar o tonel ao mar, na sua presença. Deitaram-no ao mar, conforme a ordem do rei; e este voltou para a cidade.
O tonel, lançado ao mar, flutuou nas ondas durante algumas horas; mas o Parvo dormiu todo este tempo e quando viu ao acordar que estava escuro, perguntou a si próprio:
— Onde estou eu? pois julgava que estava só.
A princesa disse-lhe:
— Estás num tonel, Emiliano, e eu também cá estou contigo.
— Mas quem és tu? perguntou o Parvo.
— Sou a filha do rei, respondeu ela, e contou-lhe a razão porque os tinham metido no tonel, depois pediu-lhe que fizesse com que se livrassem do tonel. Mas ele disse:
— Aqui também estou quentinho!
— Faz-me este favor, disse a princesa; tem dó das minhas lágrimas, livra-nos deste tonel.
— Não tinha mais que fazer, disse o Emiliano; tenho preguiça!
A princesa tornou a pedir-lhe:
— Faz-me este favor, Emiliano; livra-me deste tonel, e não me deixes morrer!
O Parvo, condoído das lágrimas e dos rogos dela, disse-lhe:
— Está bem, faço-to a ti.
Depois ele disse em voz baixa:
— Manda o lúcio e peço eu que o mar deite este tonel em seco, na praia, perto do nosso reino; e que o tonel se parta por si quando estiver na praia!
Mal o Parvo proferiu estas palavras, logo o mar começou a agitar-se e deitou o tonel em seco, na praia, e o tonel partiu-se por si.
O Emiliano levantou-se e foi com a princesa por aquele sítio onde se encontravam, e viu que estavam numa ilha muito bonita, onde havia muitíssimas e variadas árvores de fruta. Quando a princesa viu que estavam numa ilha tão bonita, ficou muito contente; e depois disse:
— Bem, Emiliano, onde vamos nós viver? pois aqui não há nem uma cabana.
Mas o Parvo respondeu:
— Tu já pedes
demais!
Mas o Parvo respondeu:
— Tenho preguiça!
Ela tornou a pedir-lhe, e o Emiliano, comovido, não teve outro remédio senão fazer-lhe a vontade. Depois afastou-se dela e disse:
— Manda o lúcio e peço eu que, no meio desta ilha, apareça um palácio melhor que o do rei, e que uma ponte de cristal ligue o meu palácio com o do rei, e que no meu haja gente de todas as condições.
Mal proferiu estas palavras, apareceu logo um palácio enorme e uma ponte de cristal. O Parvo e a princesa entraram no palácio e encontraram os aposentos ricamente mobiliados e muita gente, que esperava as ordens do Parvo.
Notando o Emiliano que todos eram pessoas de valor, e só ele era feio e estúpido, também quis tornar-se melhor, e por isso disse:
— Manda o lúcio e peço eu que me torne muitíssimo esperto e tão perfeito que não haja igual!
Assim que proferiu estas palavras, ficou logo tão bonito e esperto que todos se admiraram.
Depois o Emiliano mandou um criado ao rei, a convidá-lo mais os seus ministros.
O enviado do Emiliano foi ao rei pela ponte de cristal, que o Parvo tinha arranjado, e quando chegou ao palácio, os ministros apresentaram-no ao rei; e o enviado do Emiliano disse:
— Meu senhor! o meu amo manda-me convidar-vos respeitosamente a jantar com ele.
O rei perguntou-lhe:
— Quem é o seu amo?
Mas o enviado respondeu:
— Não posso dizer-vos quem seja (pois o Parvo tinha-lhe proibido dizer quem era o amo dele): não se sabe nada a respeito do meu amo; mas quando jantardes com ele, então vos dirá quem é.
Tendo a curiosidade de saber quem o convidava, o rei disse ao enviado que não faltaria.
Quando o enviado partiu, o rei foi logo atrás dele com todos os ministros.
A volta, o enviado disse que o rei não faltaria e assim que acabou de falar, chegou logo o rei mais os príncipes, pela ponte de cristal.
E quando o rei entrou no palácio, o Emiliano foi-lhe ao encontro, abraçou-o, beijou-o e introduziu-o no seu magnífico palácio, e sentou-se a uma rica mesa, cheia de boas comidas e bebidas.
O rei e os ministros beberam, comeram e divertiram-se, e quando acabou o jantar, o Parvo disse para o rei:
— Excelentíssimo senhor! conheceis-me e sabeis quem sou?
Mas como o Emiliano trazia um rico fato, e era muito bonito, não era fácil conhecê-lo; por isso o rei disse que o não conhecia.
— Mas o Parvo disse:
— Excelentíssimo senhor! Não vos lembrais do Parvo que foi ao vosso palácio em cima do forno, e vós mandastes metê-lo num tonel alcatroado em companhia de vossa filha, e deitá-los ao mar. Pois ficai sabendo que sou eu mesmo aquele Emiliano!
O rei, ao vê-lo, ficou muito assustado e não sabia o que havia de fazer; mas o Parvo foi no entretanto buscar a filha do monarca e apresentou-a ao pai. Quando o rei viu sua filha, ficou muito contente, e disse para o Parvo:
— Sinto-me muito culpado perante ti, e por isso dou-ta em casamento.
Quando o Parvo ouviu
isto, agradeceu muito ao rei; e visto que o Emiliano tinha tudo pronto para o
casamento, este festejou-se com grande pompa naquele próprio dia. E no outro
dia, o Parvo deu um magnífico banquete aos ministros, e para o povo mandou pôr
balseiros com várias bebidas. E quando a festa terminou, o rei queria dar-lhe o
seu reino; mas ele não quis aceitar. Depois o rei voltou para o seu remo, e o
Parvo ficou vivendo feliz no seu palácio.
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