A sentença
Conta-se que um rapaz atoleimado, tinha por costume sempre manter a cabeça raspada. O estranho hábito, no entanto, trazia-lhe um grande dissabor. É que as muriçocas, por serem muito abundantes naquelas paragens, o atormentava sobremaneira com frequentes picadelas. Em vista disso, o pobre diabo tomou uma resolução deveras inusitada: apresentou-se a um juiz da cidade e expôs-lhe o seu caso. O magistrado, que já conhecia suas maluquices, atendeu-o de pronto e, esforçando-se para mostrar seriedade, sentenciou:
- No uso de minhas atribuições, concedo-lhe o pleno direito de matar a paulada todo mosquito que encontrar.
O tolo, muito
satisfeito com esta resolução, quis exercer ali mesmo o seu direito. Vendo um
mosquito pousar sobre a careca do meritíssimo, tomou de um bastão e sem delonga
tascou-lhe um certeiro golpe bem no meio
da testa. Ainda tentaram socorrer o
agonizante, mas o ferimento foi tão profundo que o levou à morte ali mesmo. Preso, o maluco fora levado a julgamento um
mês depois. Ele, porém, exigiu duas testemunhas, as quais confirmaram a
sentença do juiz morto, que lhe havia autorizado a matar a paulada todo mosquito que
encontrasse. Diante disso, o outro magistrado não teve remédio senão conceder-lhe
a liberdade.
---
Iba Mendes: Fabulário (fevereiro de 2023)
Muito bom!!!!!
ResponderExcluir