1/28/2023

Os três malfeitores (Fabulário), por Iba Mendes

 

Os três malfeitores

Conta-se que um homem, tendo juntado grande quantidade de ouro de uma jazida, trazia sua preciosa carga num burro. A certa altura do caminho deparou-se com três homens mal-encarados, os quais o ordenou que parasse, exigindo-lhe que mostrasse o que carregava no animal.  O homem, vendo que não podia enfrentar sozinho os três malvados, ergueu a lona e lhes mostrou o valioso tesouro.

- Posso repartir um pouco com vocês -  falou já prevendo o pior. - Isso é tudo que conseguir em dez anos de árduo trabalho nas minas. 

Mas os homens, quando viram toda aquela preciosidade, não quiseram conversa: agarraram-no à força e desferiram-lhe vários golpes de faca. Agonizando, o miserável ainda pôde balbuciar:

- Maldito serão vocês!... maldito será esse ouro!...

Já no covil, os três malfeitores deliberaram repartir entre si o imenso tesouro. Contudo, para comemorar a façanha, os dois mais velhos incumbiram o menor que fosse até o alambique próximo e trouxesse a melhor pinga.  Ausente este, os dois velhacos, vislumbrados com toda aquela imensa fortuna, acharam por bem dividi-la apenas entre si. Mas para isso tinham que matar o irmão.

- Quando ele voltar, você o segura bem firme que eu aplico os golpes.

Dito e feito. Tão logo o mais novo apeou do cavalo trazendo a bebida, o mais velho agarrou-o por trás, enquanto o outro desferia-lhe vários golpes de faca.

- Agora é tudo nosso!... Só nosso!... Só nosso!... - gritavam eufóricos e já inebriados pela pinga.

Tinham começado a dividir o ouro quando passaram a sentir as entranhas arderem como brasas vivas. Minutos depois, entre golfadas de sangue, tombavam sobre a relva verde. A cachaça havia sido envenenada.

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