1/28/2023

Gratidão (Fabulário), por Iba Mendes

 

Gratidão

Conta-se que um homem ao chegar na mais avançada velhice, resolveu plantar certo tipo de árvore, cujos frutos eram a principal fonte de alimentação do povo de sua aldeia.

Pela manhã tomou café,  aprontou a marmita, pegou um punhado de sementes e saiu com destino ao campo. Seu caminhar trôpego e vacilante indicavam que já havia passado dos oitenta anos de idade.  

Enquanto preparava o solo para o plantio ia pensando na vida. Sabia que lhe restava pouco tempo, e por isso procurava acelerar o trabalho. Chegado ao meio-dia já havia capinado um bom pedaço de terra, o suficiente para plantar umas cinquenta árvores.  Tendo feito uma pausa para o almoço, retornou imediatamente à labuta, cavando a terra com uma velha enxada. Feitas as covas, principiou a semeadura.  As pessoas que ali iam passando, admiravam-se que um homem naquela idade pudesse realizar um trabalho de tamanha envergadura. Uma delas, um moço na flor da juventude, vendo todo aquele esforço do pobre homem, parou e perguntou-lhe:

- Bom velho, que plantas aí?

O velho explicou que se tratava da famosa árvore, de cujos frutos todos os aldeões se alimentavam.

- Bem, vejo que já estás em idade muito avançada. Certamente não terás muitos anos de vida pela frente. Sendo assim, por que toda essa trabalheira se não chegarás a comer dos frutos dessas árvores?

A essa pergunta o velho respondeu:

- Há mais de oitenta anos que venho me alimentando de frutos que nunca plantei.  Portanto, em retribuição aos que vieram antes de mim, deixo para a posteridade um pouco da minha gratidão.  Não planto, pois, para mim, mas para os que virão depois de mim, para seus filhos, seus netos...

O rapaz, muito comovido com o gesto do bom velho e convencido de seus justos argumentos, ofereceu-se de pronto para ajudá-lo naquela preciosa tarefa.

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