As Três Idades
À sombra dos camboins em flor, onde esvoaçam os insetos como irrequieta poeira
multicor, Mimi, a galante Mimi, atirou-se ofegante de cansaço, deixando
transbordar do vestidinho regaçado os louros malmequeres colhidos na campina.
Uma alegria
infinita lhe brilha nos grandes olhos negros e desabrocha-lhe nos lábios o mais
encantador dos sorrisos infantis.
Oh! os
malmequeres! Ela adora loucamente essas florinhas cor de ouro, que lhe parecem
estrelas caídas do céu.
Como é bom tê-los
tantos assim e poder brincar com eles à vontade!
E no imenso prazer
que lhe enche a alma travessa, que lhe dilata o pequenino coração, Mimi
desfolha nervosamente no regaço os seus belos malmequeres. Nenhum mais resta
inteiro e Mimi, extasiada, contempla a sua obra de destruição com indizível
contentamento.
Por detrás dela,
em pé, a mãe, a extremosa mãe, que toda solicitude a observa com um sorriso
cheio de bondade, murmura erguendo os olhos para o céu:
— Oh! meu Deus,
como a inocência é má!
***
À sombra dos
camboins em flor, onde os insetos esvoaçam como irrequieta poeira multicor,
Mimi, a esplêndida Mimi, lança-se exausta de fadiga, deixando transbordar do
regaço uma nuvem de malmequeres.
Um fulgor divino
brilha-lhe nos grandes olhos negros e entreabre-lhe os lábios nacarados no mais
indefinível dos sorrisos.
Oh! os
malmequeres! Ela adora loucamente essas florinhas cor de ouro, que lhe dizem
coisas deliciosamente belas. E, no imenso prazer que lhe inebria a alma
enamorada e lhe faz palpitar apressado o coração, Mimi desfolha nervosamente no
regaço os feiticeiros malmequeres.
Ei-los desfeitos,
dizendo-lhe todos o mesmo precioso segredo. E Mimi, extasiada, contempla a sua
obra de destruição com místico encantamento.
Mas a mãe, que
junto dela assoma, naquele mesmo sorriso cheio de bondade, postos no céu os
olhos, exclama:
— Oh! Deus, como o
amor é egoísta!
***
Mimi declina no
ocaso da vida.
Ei-la tristemente
reclinada à sombra dos camboins em frutos, onde esvoaçam os insetos como iriada
nuvem a envolvê-lo.
Uma linda criança
corre pela campina em busca dos malmequeres cor de ouro.
Mimi, impaciente,
chama a filha e prende-a junto a si.
E a mãe, aquela
boa e solícita mãe que não a deixa nunca, suspira com mágoa aos soluços da
criança e murmura, ainda para o céu erguendo os olhos quase sem luz:
— Oh! Senhor, como
é cruel a experiência!
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