JUVENAL E O DRAGÃO
Havia seis anos que um velho camponês tinha perdido a
esposa, restando para criar um filho e uma filha, com os quais morava numa
humilde casinha na periferia de um antigo ducado.
Certo dia o pobre homem foi acometido de uma grave e incurável
moléstia. Ciente do seu fim próximo, chamou os filhos e lhes anunciou que
morreria brevemente:
– Sinto que estou prestes a deixar este mundo.
Infelizmente os únicos bens que me restam são essa miserável choupana e os três
carneiros que ali vedes pastando. Essa será toda a herança que vos caberão.
No dia seguinte, o velho expirou. Os dois filhos, que
nesse tempo já eram adultos, combinaram então entre si o que caberia a cada um
como herança:
– Como possuem o mesmo valor, você fica com os três carneiros
e eu fico com a casa – disse a moça.
O rapaz, que se chamava Juvenal, não fez objeção à
escolha da irmã, cujo nome era Sofia. Porém, como tinha o espírito aventureiro,
anunciou que partiria pelo mundo levando seus três animais. Passado algum um
tempo, Juvenal chamou Sofia e lhe falou:
– Amanhã eu pegarei meus três carneiros e sairei por esse
mundão de Deus. Você precisa ir morar com o seu padrinho.
Já no outro dia, após tosquiar os carneiros e prover para
si o mantimento necessário, despediu-se ele da irmã e partiu cedinho.
Seguiu então seu destino e, quando deu meio-dia, parou
para descansar à sombra de um arvoredo. Enquanto isso, os três carneiros
ficaram por perto pastando. Porém, sem que se fizesse anunciar eis que aparece
ali um sujeito estranho. Era um caçador que passava com três cães e que também
queria repousar à sombra daquelas árvores. Este, assim que parou, foi logo
dizendo:
– Olá! Porventura são seus aqueles três carneiros que
pastam ali atrás? Quer trocá-los por esses três cachorros? Fará, sem dúvida, um
excelente negócio.
– Qual trocar! – respondeu Juvenal. – Os meus carneiros
buscam eles mesmos a própria comida, ao passo que os cães, para estes terei que
prover o sustento!
Ao que o outro retrucou:
– Aí é que você se engana, meu rapaz! Esses são três
excelentes cães de caça. Quando estou com fome, por exemplo, digo: “Rompe-Ferro
mão à obra”, e imediatamente ele traz comida para si e para mim. Cada um desses
cachorros tem uma característica própria e, se preciso for, são capazes de até
morrer pelo seu dono. Seus nomes são: Rompe-Ferro, Ventania e Provedor.
Embora ainda tivesse receios de ficar sem seus carneiros,
Juvenal ponderou um pouco e concluiu para si que de fato os cães costumam ser
amigos de verdade e que lhes poderiam ser de grande utilidade durante suas
aventuras.
– Fechado o negócio!
Feita a troca, Juvenal seguiu viagem com os três cães,
agora já um tanto duvidoso da verdadeira serventia desses bichos. Mais adiante
sentiu fome e notou que não havia nenhum local onde pudesse comprar alimento.
Foi então que se lembrou das palavras do sujeito, e disse:
– Rompe-Ferro, mãos à obra!
Imediatamente o animal foi buscar o almoço. E assim
sucedeu outras vezes. Num dado momento o cão trouxe-lhe uma bonita cesta
repleta de deliciosa comida. Após dividi-la com os amigos caninos, pensou ele
lá consigo: “Com três bichos desses não temo nada nessa aventura”. E continuou
a sua jornada.
Passado um mês, quando seguia ao
pé de uma serra, observou vindo ao longe uma carruagem, e concluiu que a passagem por ali seria difícil até para
dois cavalos. Olhou bem para dentro e viu sentados uma linda moça, em prantos,
e um cocheiro que suspirava e que apresentava um semblante muito abatido.
– Olá, amigo! – gritou Juvenal para o homem. – Desculpe-me
por perguntar, mas o que faz aqui nessas ermas brenhas esta linda princesa?
O cocheiro, quase sem voz, narrou os fatos como se
passavam:
– Não sou o culpado pelo choro dessa princesa. É que
existe um reinado a cinquenta léguas daqui, onde o povo há mais de cem anos
vinha sendo devorado por um terrível monstro, o qual ninguém podia vencê-lo:
nem a polícia, nem o exército, nem a marinha, nem rei, ninguém... As pessoas
viviam aterrorizadas e se sentiam totalmente desamparadas. O rei, por seu
turno, andava sempre nervoso e aguardava a morte para qualquer momento. Um dia
quando ele estava dormindo, ouviu uma voz, era o monstro que dizia: “Eu sou a fera
tirana e pretendo dar uma trégua ao seu povo, se você, ó rei, prometer dar-me,
apenas uma vez por ano, uma das moças do reino, levando-a a um lugar
determinado, do contrário deixarei minha furna e virei devorar toda a cidade.”
O pobre rei, não vendo outra alternativa, sujeitou-se às condições impostas pela
desumana fera. Eis aí a razão porque estamos aqui, caro amigo. E por tirania do
destino, este ano a sorte coube a esta infeliz princesa.
Juvenal que a tudo ouvia com profunda comoção, perguntou:
– Mas, afinal, onde vive esse terrível dragão?
O homem apontou o local com o dedo, e foi logo dizendo à
princesa:
– Não há escapatória, senhorita! Precisa descer e ir se
entregar ao monstro. Todas as outras moças fizeram assim. Se você não for até
ele, necessariamente ele virá aqui buscá-la.
A pobre moça então obedeceu e saiu andando rumo ao
esconderijo do dragão. Juvenal, que sentia grande compaixão da miserável
donzela, chamou os três cães e a seguiram. Mas o cocheiro gritou da carruagem,
atônito:
– Aonde vai, meu senhor? Não prossiga, volte depressa,
senão será devorado também pela fera!
Juvenal, porém, não deu ouvidos ao apelo do outro e continuou
andando na mesma direção para onde ia a princesa. De repente, sentiu como que a
montanha estremecendo e imaginou que era o monstro se movendo para apanhá-la.
Foi quando ouviu um urro tão espantoso que até os três cachorros se arrepiaram
de susto. A fera então avançou ligeira para agarrar a moça, mas foi logo
interposta pela presença do rapaz, que gritou para um dos cães:
– Rompe-Ferro, agora é com você. Preciso do seu socorro!
Este tão logo ouviu o comando do seu amo, avançou como um
relâmpago na direção do dragão, e ambos, Juvenal e o cachorro, partiram como
que incorporados para cima da serpente: um com um punhal e o outro com os
dentes. O monstro, apesar de possuir um corpo descomunal todo coberto por um
tipo de escama mais dura que o ferro, ainda assim ficou inerte diante da
bravura e habilidade do moço.
De longe, horrorizada, a pobre moça assistia aquela horrível cena e, temendo pela derrota
de Juvenal, ajoelhou-se por terra e clamou assim aos céus:
– Valei-me, Pai Poderoso! Livrai-me deste terror e não
permita também que esse monstro venha devorar este pobre rapaz. Prometo,
Senhor, ante os céus que, caso ele vença esta fera, prometo que me casarei com
ele.
Volveu os olhos à gruta e continuou assistindo a
tenebrosa batalha, cujos estrondosos urros da fera fazia tremer toda a terra em
derredor.
Firme ao lado de Juvenal, Rompe-Ferro observou que
debaixo da asa esquerda do monstro havia um lugar vulnerável que certamente
seria fatal caso pudesse abocanhá-lo em cheio e feri-lo com a presa. Sem perda
de tempo, lançou-se sobre a asa certa e conseguiu morder exatamente onde
pretendia fazê-lo. O bicho esturrou alto. O cão novamente avançou e mordeu a
asa pela segunda vez. Juvenal, vendo que a batalha estava ganha, sentou-se para
descansar e ordenou ao amigo peludo que terminasse o serviço.
O monstro, enfim, tombou inerte.
Imediatamente Juvenal correu até a fera e arrancou-lhe
dois dentes, dizendo:
– Servirão como prova de que lutei com a fera e que a
matei, caso alguém venha por em dúvida minha ação.
Sofia, vendo Juvenal vitorioso, ajoelhou-se diante dele e
chorando pediu-lhe que a acompanhasse até à corte imperial:
– Peço que vá comigo, para que meu pai, o rei, conheça este
homem destemido que me salvou, e para que também o recompense por tão nobre ato.
Todos do meu reinado reconhecerão o seu valor e o tratarão como um grande e
verdadeiro herói. E eu, em reconhecimento ao que fizeste por mim e por ter libertado
meu povo de tão grande opressão, ofereço de bom grado todo o meu coração.
A este pedido da moça, porém, argumentou Juvenal:
– Eu nada quero pelo que fiz. Desejo apenas que vá em paz
e que seja muito feliz. Prometo-lhe, no entanto, que irei vê-la daqui a exatos
três anos. Desculpe-me não poder ir agora.
Dizendo isto, Juvenal a colocou na carruagem e
despediu-se.
Ela, que havia fixado bem a imagem do rapaz em sua mente,
sentiu germinar no seu coração uma grande paixão por ele.
Assim que a carruagem saiu, o cocheiro, que havia
assistido a luta escondido atrás de uma pedra, principiou um diálogo malicioso
com a princesa:
– Vossa Alteza pagou ao rapaz pelo o que ele lhe fez?
– Tentei, mas ele se recusou a receber qualquer
pagamento.
– Ele é só um aventureiro, um andarilho que vive vagando
pelo mundo. Este tipo de gente não precisa de dinheiro, nem merece o seu amor.
Quanto a mim, se a senhora quisesse poderia facilmente fazer a minha
felicidade, bastando apenas dizer que fui eu quem matou a fera.
– Deus me livre de agir com tamanha falsidade para com
quem salvou minha vida. E também não permito que um Judas vil e covarde como
você venha insultar um moço tão honrado e corajoso como Juvenal.
Nisso o cocheiro parou a carruagem em cima de uma ponte,
dizendo ameaçadoramente:
– Se a senhorita não fizer esse favor, agora mesmo a
atiro daqui para debaixo desta ponte, no precipício. E não será tarefa difícil
convencer a todos que foi a fera que a devorou. Jure, pois, agora, que negará
tudo o que ele fez, e que confessará perante o rei que fui eu, o cocheiro, quem
deu cabo ao monstro. Do contrário, sua vida acaba aqui.
A pobre moça, ciente que morreria por mãos tão perversas,
não teve outra saída senão aceitar as condições impostas e garantiu:
– Eu juro perante Deus que farei vossa vontade. Negarei a
verdade e direi a todos que foi você quem obrou a grande façanha de matar a
fera.
O malvado olhou-a com um riso sardônico e disse:
– Fez muito bem, princesinha! A partir de agora serei uma
grande figura na corte e todos me terão como um grande herói.
Quando a carruagem chegou, por fim, à corte, o povo
parecia não acreditar no que via, tamanha era a surpresa e a alegria que
sentia. Todos olhavam para o cocheiro com grande admiração, pois não entendiam
como ele trouxera viva a linda princesa. O rei ficou em júbilo quando encontrou
a filha salva, e imediatamente quis saber do cocheiro o que de fato aconteceu.
– Certamente majestade, contar-lhe-ei tudo exatamente
como se passou. – E continuou: – Quando chegamos à furna, pedi à princesa que
descesse da carruagem. Quando a vi em tamanha tristeza, senti grande compaixão
da pobrezinha e então saquei do meu punhal e a acompanhei até a morada da fera.
A boa princesa, contudo, pediu-me que voltasse para a corte, que ela iria
sozinha para o sacrifício. Mas eu ignorei seu pedido e me dispus a defender sua
vida. Neste momento notei que a montanha estremecia. Sabia que era o monstro
descendo para apanhar a princesa. Ela continuou seguindo ao encontro da fera e eu
fiquei um pouco afastado. Quando avistei o terrível dragão, confesso que até
arrepiei meus pelos. Porém, sabia que era meu dever salvá-la e não me esmoreci
diante da grandeza do inimigo. Quando este avançou para agarrar a pobre menina,
senti apoderar de mim uma força até então desconhecida. Parti para cima dele e,
não obstante, o monstro ter um corpo todo protegido de escamas tão duras como
metal, ainda assim avancei com toda destreza sobre ele e num golpe certeiro
debaixo de sua asa esquerda o matei e em seguida o degolei.
A história do cocheiro pareceu tão convincente aos olhos
do povo, que dali por diante ficou sendo considerado um grande herói e foi por
seu ato de extrema bravura elevado à condição de fidalgo da corte.
– Pela sua bravura, meu bom amigo, por ter salvado minha
filha da sanha daquele horrível monstro, concedo-te sua mão em casamento.
A princesa quando soube da promessa feita pelo pai ao vil
cocheiro, ficou profundamente abalada e se arrependeu de todo o coração ter
feito aquele infame juramento. Trancou-se, pois, no quarto, e de joelhos orou:
– Meu bom Pai, oh quanto tenho sofrido! Mandai, meu bom
Deus, mandai Juvenal para que venha desmascarar este cocheiro vil e mentiroso.
Concedei-lhe, Senhor, ao menos um aviso, para que fique ciente de tão grande
traição. Ah, como eu quisera contar toda a verdade ao rei! Maldito o juramento
que fiz. Por causa dele perdi minha felicidade.
Enquanto tais coisas se passavam no palácio do rei,
Juvenal continuava a correr mundo, sempre tendo ao seu lado os três valiosos
cães. Certa noite, num outro reinado, sonhou que se achava num suntuoso
castelo, todo atapetado de flores e cheirando a inebriantes perfumes. Ele ali estava
acompanhado por belas damas, todas elegantemente vestidas. Havia também no
recinto um trono e nele viu sentada uma princesa. Nisto chegou uma importante
autoridade, e com ele um escrivão e um padre. Disseram: “Apresse-se, cidadão, para
receber a mão da princesa em casamento”. Foi quando também surgiu um homem
estranho com aspecto irado e disse: “Parem agora com este casamento, pois este
homem é um impostor”. O homem que disse essas palavras era o próprio Juvenal
que, mesmo em sonho, puxou do punhal e lutou com o inimigo. Ao fim da luta,
porém, ele notou que todas as flores estavam pisoteadas, que as damas haviam
sido atiradas ao chão e que ele mesmo se encontrava preso numa parede sobre
lanças e espadas. Viu, por fim, que o adversário ria às escancaras dele e que
troçava do seu malogro, e que todo o povo o aplaudia com grande entusiasmo. Neste
momento foi despertado do pesadelo, mas este ficou impregnado em sua mente, como se lhe quisesse anunciar
alguma coisa importante. Ele pensou então consigo: “Será que a princesa me
traiu? Ah, não pode ser! Tenho certeza que ela ainda me ama. E mesmo que algum covarde
a tenha obrigado negar meu amor, ai dele que o matarei sem piedade! Seja o que
for, muito em breve saberei toda a verdade”.
No palácio, o rei, por fim, decidiu que casaria a filha
no prazo de um ano. Ela, porém, quando soube da decisão do pai, em conluio com
um médico conhecido, declarou-se gravemente enferma. O cocheiro, por seu lado,
estava muito aperreado por apressar o casório, tendo em vista que temia que toda
a verdade fosse descoberta.
A demora no casamento levou alguns do povo a suspeitar
que talvez o rei não quisesse dar a filha ao dragão, e que por isso quem
pagaria o pato seria a nação, pois a fera viria destruir tudo. Outros, contudo,
acreditavam de fato que o cocheiro havia dado cabo ao monstro. E desta forma as
ruas se enchiam de dúvidas.
As coisas iam assim, até que o rei, muito contrariado com
aquela situação, decidiu que o casamento se realizaria dali a um mês, sem mais
delonga. A moça, embora já resignada, ainda acreditava na chegada de Juvenal,
que a libertaria das artimanhas do chacal traidor.
Dois dias antes da data estabelecida pelo pai, houve no
castelo grande movimentação de pessoas, as quais cuidavam dos preparativos:
comida, enfeites, música e tudo o mais que pudesse ser feito para um
esplendoroso casório.
Na véspera, porém, viram chegar à cidade um viajante
desconhecido, acompanhado de três bonitos cães. Era Juvenal que vinha cumprir
sua promessa depois de três longos anos. Ele, assim que viu toda aquela grande agitação
em torno do castelo, perguntou o que estava acontecendo ali, ao que disseram
tratar-se do casamento de um grande herói, o cocheiro, que salvou a princesa da
terrível fera, e que por isso recebera do rei a mão da princesa em casamento. O
rapaz mostrou-se furioso com tamanho acinte e bradou em alta voz:
– Esse homem é um covarde e mentiroso, pois quem matou
esse dragão fui eu.
Os guardas quando ouviram tamanho ultraje contra pessoa
tão nobre do reino, o declarou preso por conspiração. Juvenal, contudo, saltou
para trás e deu sinal aos cães para avançar sobre eles. Deu-se então uma
terrível luta. Um dos guardas correu até o palácio e foi dar parte ao rei que
um moço valente, chegado recentemente à cidade, estava fazendo grande
barbaridade entre os soldados, matando grande quantidade deles.
– Ele briga por dez e ainda tem a seu favor três cães que
mais parecem três panteras.
O rei pediu licença aos convidados e foi até à praça onde
se dava a confusão. Lá chegando gritou ao povo:
– Quero saber quem foi a pessoa que principiou toda esta
algazarra! Estou disposto a ouvi-lo.
Juvenal então, que sequer havia sofrido um arranhão na briga,
chegou-se à presença do soberano e foi logo dizendo:
– Sua Alteza fique sabendo que não tenho má índole e que
pretendo contar-lhe tudo exatamente como aconteceu.
O rei então conduziu o corajoso jovem a um salão nobre do
palácio, para ouvi-lo sobre as razões que o levou a se envolver em tão grande
algazarra e, consequentemente, atrapalhar o bom andamento do cerimonial de
casamento de sua filha. A moça quando o viu entrar ali, sentiu seu coração
transbordar de alegria, tanta era a emoção em saber que Juvenal a salvaria mais
uma vez. O cocheiro, no entanto, ao ver o rapaz na presença do rei, sentiu suas
pernas tremerem e disse consigo: “Estou perdido!”
– Diga lá, meu jovem: o que o trouxe ao meu reino e por que
se envolveu nessa luta sangrenta com meus soldados?
– Grande rei! Assim que cheguei a este reino, fiquei logo
sabendo que um tal herói que matou um dragão iria se casar com a princesa sua
filha. Quando ouvi tal relato fiquei cego de raiva, porque tudo não passava de
uma grande farsa. Sim, este suposto herói é um grande falsário, pois o tal
dragão que devorava esta cidade, fui eu quem matou. Posso provar tudo.
Portanto, minha luta foi justa, pois estava batalhando em defesa da verdade. A princesa sua filha foi testemunha de tudo e pode
confirmar agora mesmo exatamente o que se passou.
O rei, mais que depressa mandou chamar a moça e ordenou-a
que explicasse se o moço dizia a verdade
ou se mentia, ao que ela de pronto respondeu:
– Contarei toda a verdade, meu pai! Quando cheguei à
furna da fera, desci da carruagem e fui andando ao seu encontro. Este moço, que
se achava naquele local, acompanhou-me juntamente com seus cães. Ao chegar à
gruta, a fera avançou sobre mim, mas este corajoso moço saltou sobre ela e a
matou, arrancando-lhe, para servirem de prova, dois dos seus enormes dentes. Em
seguida, conduziu-me à carruagem, prometendo visitar-me dali a três anos. E
seguiu sua viagem. Mas tão logo íamos voltando, o cocheiro pediu-me para que
mentisse, dizendo a todos que foi ele quem havia matado o dragão. Como eu
recusei fazer tão ultrajante papel, ele então me ameaçou lançar sobre o abismo abaixo
de uma ponte. Não tive, pois, outra saída senão concordar com seus malignos
planos. Desta forma me salvei e ele conseguiu enganar todo mundo, dizendo que venceu
o dragão.
O rei, quando descobriu a tramoia do miserável cocheiro,
irou-se sobremaneira e, dirigindo-se ao traidor, declarou-lhe:
– Irás morrer cruelmente, grande patife!
Em seguida mandou chamar o carrasco e incumbiu-o para que
lhe tirasse o coro ainda vivo. E assim foi feito. Por fim, o rei ordenou que se
realizasse o casamento da princesa com Juvenal, e houve festas no reino durante
quinze dias.
No dia seguinte ao casamento, Juvenal pediu para que
fossem buscar sua querida irmã, a fim de que morasse com ele naquele reino.
Já os cães, esses quando viram que Juvenal não se deixou
levar pela ambição da riqueza, apresentaram-se a ele como três lindos pássaros,
pois eram encantados. Despediu-se dele e voaram pelos ares.
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