6/11/2020

Os três rapazes (Conto popular), por Iba Mendes


Os três rapazes

Conta-se que havia num reino uma princesa muito linda. Certo dia apareceram três rapazes, todos com o mesmo propósito de se casar com ela. O rei, não sabendo a qual deles dar a mão da filha, resolveu que tornaria genro aquele que lhe trouxesse um objeto que mais lhe causasse admiração.

Os três rapazes saíram então cada qual para seu destino. Antes, porém, combinaram um local onde todos deveriam  se apresentar no mesmo dia e hora.

O primeiro rapaz, após andar algumas léguas, achou-se numa cidade. Ao passar por uma de suas ruas, escutou ao longe um garoto gritando: "Quem quer comprar um espelho... quem quer comprar um espelho?..." Ao aproximar-se do menino, perguntou-lhe: "Eu lhe compro este espelho, mas antes me diga qual a virtude que ele tem." O pequeno vendedor respondeu-lhe que o espelho tinha o poder de ver tudo em todos os lugares da terra". O rapaz comprou então o espelho, dizendo para si mesmo: "Perfeito! Serei eu que me casarei com a linda princesa". E seguiu o seu caminho...
  
O segundo rapaz saiu também caminhando até chegar numa outra cidade. Ao passar por uma de suas ruas, escutou um camelô gritando: "Quem quer comprar uma bota.?.. quem quer comprar uma bota?..."  Ele chamou então o homem e perguntou-lhe: "Que virtude tem essa bota, meu caro?" Ao que o vendedor respondeu: "Esta bota tem o poder de levar as pessoas para onde elas quiserem ir". O rapaz, muito satisfeito, disse para si próprio: "Perfeito! Serei eu que tomarei a linda princesa como esposa". Comprou a bota e seguiu o seu caminho...

O terceiro rapaz, depois de andar um bom  tempo, avistou ao longe uma outra cidade. Lá chegando, escutou outro menino gritando numa de suas praças: "Quem quer comprar um saltério?... quem quer comprar um saltério?..." Achegou-se então ao garoto e perguntou-lhe: "Que virtude há nesse instrumento musical?" O vendedor respondeu-lhe que tinha ele o poder de ressuscitar os mortos. Muito animado disse consigo: "Perfeito! Serei eu que terei a honra de casar com a bela princesa". Comprou o saltério e seguiu o seu caminho...
  
Os três rapazes  dirigiram-se então para o local combinado anteriormente. Reunidos ali, o primeiro deles tirou duma caixa o espelho e viu refletido nele a imagem da princesa morta. Por sua vez, o rapaz da bota tirou-a dum embrulho e disse: "Não se preocupem. Entremos todos aqui na bota e ela nos levará até o palácio da princesa".  De repente acharam-se eles no aposento onde jazia morta a moça. O rapaz do saltério aproximou-o do rosto da defunta real. Como num passe de mágica ela ergueu-se andando.

O rapaz do espelho então disse: "Sou eu que devo casar com a princesa, pois se não fosse pelo reflexo deste espelho ninguém saberia que ela havia morrido". O rapaz da bota, discordando deste disse por sua vez: "Sou eu que devo casar com a princesa, pois se não fosse por meio desta bota nenhum de nós estaria aqui agora".  Por fim disse também o rapaz do saltério: "Sou eu que devo casar com a princesa, pois se não fosse sua melodia ela permaneceria morta para sempre."

A discussão continuou acirrada entre eles, e até hoje o rei não pôde decidir a qual deles deve  dar a mão da filha em casamento. 

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