Assegurou
Camilo, na sua polêmica desabrida com Alexandre da Conceição, que não
pretendera, escrevendo o Eusébio Macário,
"lançar o ridículo sobre a escola realista", e que estava longe de considerar Eça de Queirós "apenas
um romancista ridículo".
Que o
autor do Eusébio Macário não
considerasse a Eça de Queirós "um romancista ridículo" é de acreditar
piamente. Quanto ao resto...
Embora
Camilo não tentasse lançar, de um modo absoluto, "o ridículo sobre a
escola realista", certo é que tentou satirizá-la, e satirizou, procurando-lhe
os pontos fracos para os salientar caricaturalmente. O Eusébio Macário e a Corja,
publicou-os Camilo à uma para demonstrar que também era capaz de escrever
romances, conformes à Escola realista, e à outra para, aproveitando o ensejo,
dar escape à sua natural antipatia par ela, antipatia exacerbada pela forma
incorreta (quanto a linguagem) como a Escola era seguida em Portugal.
Assim,
Camilo no Eusébio Macário e na Corja vinca e exagera senões e também
caraterísticas da Escola realista, tendo em mente, sobretudo e quase só, a
maneira porque essa Escola era praticada em o nosso país, por Eça de Queirós
principalmente.
É por
isso que, no Eusébio Macário e na Corja, sobressai, além de vários outros,
o intento de ridicularizar certas expressões muito do agrado realista em
Portugal. Por exemplo (apenas considerando o Eusébio Macário:
"O
sol punha nas paredes clareiras faiscantes, cruas..."
"...davam
gritos dum timbre muito agudo que punham ecos nas colinas batidas do largo sol..."
"...penugem
de frutas mimosas que lhe punha umas tonalidades cupidíneas, irritantes."
"...um
fado que punha vibrações involuntárias nas nádegas do pai..."
"Uivos
longínquos de lobo ouviam-se e punham-lhe vibrações na espinha..."
"...punha
nos olhos cintilações de mordente desenvoltura..."
"...punham-lhe
no sangue irritações juvenis..."
"Ela
pusera nos seus gestos e ares frescos, movediços de moça aldeã uns toques de
sentimentalidades de reserva..."
"Punha
uma grande confiança no maciço dos seios..."
"...tinha
nuvens que lhe punham negruras, tristezas intermitentes."
"...punha
nas janelas olhares vagos..."
"...uma
guitarra com manchas gordurosas de suor que punham brilhos..."
A
insistência de Camilo neste emprego do verbo pôr basta para mostrar, às claras, a sua intenção de sátira — tanto
mais que não é pelos defeitos da linguagem que a Escola se caracteriza. Esses
defeitos não advêm da Escola, mas simplesmente dos escritores.
O próprio
Camilo falou, a tal propósito, nos "vícios acintosos do estilo estragado pela
imitação", estragado pela imitação, com intuito satírico, no tocante ao Eusébio Macário e à Corja.
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CLÁUDIO BASTO
Viana do Castelo, 9 de março de 1925.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).
CLÁUDIO BASTO
Viana do Castelo, 9 de março de 1925.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).
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