Gabriel d'Annunzio e Eugênio de Castro
Assim, o
cintilante poeta da "Rainha de Sabá" e do "Cavaleiro das Mãos
Irresistíveis" conseguiu vencer o altivo exclusivismo, da águia italiana!
Célebre pelo
patriotismo e pelo cetro literário, d'Annunzio centraliza em si toda à glória; e
se condescende em dividi-la, irmãmente, com Eugênio de Castro, é porque o nosso
poeta lhe agrada sobremaneira. A poesia de Eugênio de Castro possui as variadas
facetas dos diamantes, e a sua luz irisada tem cambiantes ora vivas, ora
dolentes — tesouro sem fim, ardente labareda, soberba pirotecnia que ilumina os
céus da nossa literatura com imprevista novidade — a do Simbolismo.
D'Annunzio,
cuja residência nas margens do Gardia, é um museu digno de admiração, ao
conhecer a poesia de Eugênio de Castro, desfranziu a ruga de soberano desdém
com que, na clarividência do seu gênio, costuma julgar as obras de arte.
Deixou-se
vencer pelas catadupas de harmonia e beleza orientais e gemas esplendentes da
inspiração de Eugênio de Castro.
E ele, o
herói de Fiume, de psicologia tão estranha, embebeu-se no estro do lusíada, com
o mesmo desvanecimento com que varia as cores da feérica iluminação da sua sala
de música, escolhendo o etéreo lilás, o romântico rosa, o celeste azul, o
formoso ouro, conforme o caráter da melodia que seja interpretada no mavioso
piano em que tocaram mãos prodigiosas de Lizt!
Que mais em
"Il Vittoriale", o palácio do requintado italiano, que nos ajude a
conhecer o homem? A lâmpada acesa em frente do retrato da mãe, luz perene a
alumiar o seu talvez único e grande amor, E um Buda, calvo e feio, cego dum olho,
bastante parecido com o poeta... Parecença que d'Annunzio reconhece com espirituosa
ironia.
Incontestavelmente
uma das figuras marcantes do mundo latino, d'Annunzio, enamorado da mocidade e da
beleza, sofre por não ter morrido em plena pujança física. Quisera escapar à
decadência que espera os homens de longa vida!
E por isso,
não é de admirar que, ávido de perfeição brilhante e maravilhosa, Gabriel
d'Annunzio tenha dado a sua incondicional admiração a Eugênio de Castro, do
glorioso e entusiástico cantor da beleza, do amor e da fascinação efêmera dos
frágeis e poderosos bens da Terral!
MARIA ADELAIDE DA SILVA PAIVA
9 de fevereiro de 1933.Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2020)
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