A vida de Fagundes Varela foi talvez a
mais tormentosa entre as dos poetas da sua geração. Como se já lhe não bastasse
um fundo "ingênito de tristeza, a hora em que veio ao mundo, foi a mais
propícia à intensificação desse sentimento". Essa era a hora do romantismo,
que agitou na juventude brasileira, como nas outras, o mesmo inconformismo com
as realidades pungentes da vida.
Tenho como fato certo a predestinação desse
poeta, mas a época em que aflorou o seu espírito muito concorreu para à nota de
constante melancolia do seu plectro, se bem que este fosse como foi, suscetível
a todas as vibrações. Tudo nele é música. Tudo nos seus versos corre em
harmonia com as imagens do mundo sensível, ou com as ideias que descortina, ou
com as emoções que instrumenta. E essa musicalidade é que lhe imprime à estrofe
tanta despreocupação de outros efeitos meramente ornamentais. Se tal
espontaneidade facilitou a esse maravilhoso orquestrador de ritmos, a censura
de menos cuidoso na plasticidade verbal, deu-lhe, em compensação, a coroa
indisputável de grande prestígio nas salas de recitações e nas tunas românticas
dos trovadores noturnos. Ele teve essa imortalidade lá de fora. Teve a
consagração popular das cordas das serenatas, de norte a sul do Brasil, e
eterno, viverá na alma do povo, que não deixa morrer os legítimos intérpretes e
definidores dos sentimentos e segredos do coração humano.
Neste momento de renovação de valores,
e volta ao primitivismo dos instintos estéticos, nenhum poeta das gerações
precedentes é mais atual do que o dos Cantos
Meridionais, quer pelo individualismo lírico, quer pela mobilidade rítmica
da sua poética. A brasilidade em Fagundes Varela resistiu a todos os
convencionalismos literários, clássicos ou românticos, e por isso o seu renome
há de crescer à proporção que se for intensificando a consciência nacional.
Pouco importa que outros tenham sido mais exímios na estrutura de suas estrofes
patrióticas, mas verdade é que nenhuma estrofe saiu de peito brasileiro, mais
ardente, nem mais efusiva, que as do cantor do Pendão Auriverde. Diante da Natureza, dos homens e das coisas de
nossa terra, a flor aberta desse coração generoso ostenta todo o esplendor e
toda riqueza virgem do nosso sangue adolescente.
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ADELMAR TAVARES
ADELMAR TAVARES
Pesquisa
e atualização ortográfica: Iba Mendes (2020)
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