Camilo Castelo Branco: Fantasia e Realidade
Sem se levar da fantasia, que seria levar-se para
mundos imaginários, e ele tinha na alma a alma do mundo em que viveu, Camilo
possuía um manancial riquíssimo de imaginação!
E nem, pobre dessa faculdade, ele poderia ter sido
o romancista que foi.
A obra de Camilo é uma obra de fantasia, que salta
em catadupas da sua imaginação opulenta.
Não quer isto dizer, porém, que ele tenha
atraiçoado a verdade da vida real.
Camilo possui a rica imaginação do cenário; e este,
em tudo que não é o reflexo de uma realidade vivida, é sempre a vida que podia
ter sido, quer na cor e no movimento das formas, quer na expressão flagrante
das manifestações das almas. Os sucessos que Camilo imagina, quando cria o
cenário e efetiva o drama, são tão possíveis sob o céu da nossa terra, tão
naturais à luz normal do nosso entendimento, tão ajustados ao sentir, aos modos
de existência, à capacidade dos conhecimentos da nossa época, e tão conformes à
vida real dos corpos e das almas, que o nosso espírito aceita-os sem discussão,
como história fiel de factos gravados na memória de toda a gente...
E é assim que a vida de certos personagens do
romance O Esqueleto, trabalhado
depois de 1862 em São Miguel de Seide, decorre inteiramente de harmonia com o
que é possível na realidade, conquanto a vida que eles levaram fora do romance,
tenha sido, como vai ver-se, muitíssimo diferente.
É por isso que, neste sentido, devemos interpretar
com cautela uma afirmação feita por Camilo no prefácio do romance A Filha do Doutor Negro.
Escreveu Camilo nesse prefácio:
A razão
porque eu esperei vinte anos esta hora, hora de infinita dor, em que princípio
a escrever tal romance, é que eu, nesse longo termo de existência, cuidei que,
sem intercalar de episódios imaginários a história de Albertina, mal ou de
nenhuma maneira lograria dar-lhe vida, interesse, variedade e número, como
diria um correto juiz com o Quinteliano em mente. Agora, revirou-se o meu
entendimento em coisas desta ordem, como em quase todas as coisas ordenadas ou
desordenadas pela gente. Estou apto para trasladar o que vi e vejo, sem pedir
emprestado à imaginativa o que a natureza me não dá.
Foi isto escrito no Porto em 1862.
Estou apto
para trasladar o que vi e vejo, sem pedir emprestado à imaginativa o que a
natureza me não dá.
Esta asserção exprime a verdade no terreno realista
em que Camilo sempre se manteve; isto é, na pintura real da alma humana, nos
vários aspectos em que a fez viver.
E é mais adiante, no mesmo prefácio, que o
pensamento de Camilo fica claro.
Escreveu ele:
Afinal, e
muito a tempo, desertei às bandeiras dos mestres franceses, e entendi no melhor
modo de descrever os usos e costumes da minha terra, os sentimentos bons e maus
como por cá os tenho visto, as paixões como elas são cá, e como creio que elas
são em toda a parte, tirante as composturas, artifícios, e maravilhas de
linguagem, com que, para maior glória do gênio pestilencial, corruptor das
almas, os pintores da sociedade adulteram a verdade das coisas e das pessoas.
Ora são precisamente os usos e costumes da nossa terra, os sentimentos bons e maus como ele por
cá os tinha visto, as paixões como elas são cá e como ele cria que elas são em
toda a parte, que Camilo traslada,
sem pedir emprestado à imaginação o que a natureza lhe não dá. E é
exatamente nesta verdade, nesta realidade imperturbável, vivida pelos
personagens de Camilo, que reside, quanto a mim, o mais alto valor do maior
romancista português.
Quanto aos episódios
imaginários de que fala Camilo, não é verdade que se tivesse revirado o seu entendimento em coisas dessa ordem...
Nem era, com certeza, referindo-se a isso, que o mestre se declarava apto para trasladar o que via, sem pedir emprestado à imaginativa...
Não vá alguém cuidar, diante da palavras escritas pelo mestre a propósito da
história de Albertina, que os romances de Camilo são copias da vida realmente
vivida pelos seus personagens no Concelho de Valpaços, em Freixo de Espada à
cinta ou na rua de Entreparedes!...
A prova de que assim não é, encontra-se, por
exemplo, no romance O Esqueleto,
escrito muito depois de A Filha do Doutor
Negro, e no qual a vida de certos personagens é tecida de episódios
imaginários, é filha da fantasia de Camilo.
O que realmente esses personagens foram neste mundo
encontrei-o eu nuns preciosos apontamentos, que devo à gentileza do
Excelentíssimo Senhor Domingos Sarmento, atual representante da Casa de Faiões,
onde reside, e que este Sr. extraiu recentemente de registos e notas existentes
na casa e de outras que lhe tinha dado sua sogra — sobrinha e afilhada do
Morgado — a qual conheceu intimamente os referidos personagens.
É o que eu vou contar...
***
Chamava-se o morgado de Faiões, Antônio Alves de
Oliveira. Nasceu em 10 de fevereiro de 1806, e era filho do capitão e morgado
do mesmo nome, e de D. Maria Joaquina Pinheiro de Moraes Xavier Colmeiro,
natural de Vale de Telhas, Concelho de Mirandela.
Ainda muito criança quando lhe morreu o pai, ficou
o morgadinho a crescer, senhor de sua vontade e afeito aos deslumbramentos da
abundância, entre os carinhos mimosos da mãe e os afetos acariciantes de duas
irmãs mais velhas, meninas de tão rara formosura, que traziam em sobressalto o
coração dos rapazes de Chaves e terras em redor.
Por este tempo, foi o Mesquita, que não era Nicolau, e se chamava José de Mesquita e
Sousa, filho de Francisco Xavier Pereira de Mesquita, de Murça, sentar praça,
como voluntário, no regimento de infantaria 12, de Chaves, sendo feito cadete
em 1811 e pouco depois promovido a alferes.
Como não via, nas morgadinhas de Faiões e numas
primas que elas tinham em Valpaços, menos graça e formosura, do que distinguiam
nelas quantos as tinham já feito notarias por vilas e aldeias, o Mesquita
conseguiu frequentar os bailes da casa de Faiões e levou em sua companhia dois
amigos e camaradas — Paulo Manrite, oficial mais graduado — e o alferes
Francisco Vitorino de Vasconcelos, filho do morgado do Buzio, do antigo
Concelho de Benfazer, hoje Marco de Canaveses, e também senhor da casa de
Sequeiros, hoje dos herdeiros do Conselheiro Alexandre Cabral.
Creio que agora já não é acepipe irresistível; mas
ainda não há muito, e mormente no tempo dos bailes de Faiões, era difícil que
uma morgadinha não deixasse o coração nos braços de um alferes. Foi o que então
sucedeu. Em pouco tempo os três oficiais estavam senhores da conquista, tendo
ido os alferes pedir a mão das de Faiões e Manrite uma das primas de Valpaços.
Tinham-se esquecido, porém, os conquistadores, de
que, se o seu pé escandescera a cabeça das raparigas, as respectivas mães
tinham-na fresca como alface, e só ficaram todas em brasa em face da ousadia
dos pretendentes, pelo que recusaram indignadas, o seu consentimento.
Mas como, nesse tempo, parece que havia recurso
pronto, ainda para apagar nas ilusões do coração a mancha discordante e
opressora do poder paternal, entrincheiraram-se os candidatos na vontade
desenvoltamente manifestada pelas três graças de Trás-os-Montes, e pediram ao
meirinho o que não tinham logrado alcançar das generosidades do pátrio poder.
E conseguiram-no. As duas irmãs e a prima saíram
judicialmente de casa para os pés do altar.
Turvou-se, porem, quase logo o céu de dois
noivados, sendo de pouca dura a lua de mel dos esposados de Faiões. Os dois
alferes, por muito que lhes custasse a desprender dos braços das noivas, lá
tiveram de partir para as refregas da guerra peninsular.
Começaram então as fidalgas uma vida de saudade
desoladora e sobressaltada. Sucediam-se os dias indefinidamente, e, por mais
que as morgadinhas, em cada crepúsculo de ao pé da noite, tivessem nos
horizontes tristes os olhos marejados, ou esperassem a volta triunfante do sol,
desde os primeiros clarões da madrugada, ansiosas de notícias, sempre o
silêncio as fazia cada vez mais sós entre o céu e a terra, oprimindo-lhes o
coração mil receios vagos — fantásticas sombras da imaginação dolorida, que
andavam à roda dele, em voluptuosa dança infernal.
Até que um dia, quando elas, já muito aflitas por
nada saberem dos maridos, andavam pelos cantos a chorar, perseguindo-as a
suspeita de que eles tivessem morrido por lá, uma velha criada, consumida por
ver as meninas ao desamparo de notícias, foi ter com elas e disse-lhes que
estava pronta a ir saber novas de seus amos, ainda que fosse preciso ir ao cabo
do mundo.
As morgadas, ao princípio, não souberam bem que
pensar do dito da criada. Esta, porém, mostrou a sua resolução, de novo, com
rasgo tão decidido, que elas não tiveram dúvidas e, a rir e a chorar ao mesmo
tempo, enternecidas por tanta dedicação, até a abraçaram, e logo lhe disseram
que lhe dariam quanto dinheiro ela quisesse para levar ao fim essa viagem
arrojada.
Mas a velha Josefa recusou tudo; e, sem mais
detenças, vestiu-se o mais andrajosamente que pôde, aproveitando nesse lance à
roupa suja e rota que tinha fora de uso, meteu algumas pesetas na algibeira,
que atou à cintura por baixo do vestido, guardou com religiosa cautela, no
seio, as alianças dos dois casamentos, despediu-se e partiu.
Os olhos das morgadinhas foram com ela até ao mais
remoto cotovelo do caminho de Espanha...
***
Estava em curso a sexta coalizão dos estados da
Europa contra a França, ou melhor, contra Napoleão, dirigida por Alexandre
Paulowitz, o imperador da Rússia que revogara o tratado de Tilsit, de 7 de
julho de 1807.
Depois dos sucessos da campanha da Alemanha, viu
Bonaparte que os seus formidáveis adversários invadiam todas as fronteiras da
França ao mesmo tempo. E por mais que subisse a alturas desconcertantes o voo
do gênio napoleônico, surgindo em toda a parte, prevendo, adivinhando,
prevenindo, batendo, rechaçando, repelindo, de vitória em vitória, de triunfo
em triunfo, desde Saint-Dizier e Brienne até Château-Thierry, Vauxchamp, Mery,
Soissons e Laon, não pôde evitar a marcha sobre Paris, aberta com a batalha de
Arcis-sur-Aube, a linda cidade da Champagne, berço de Danton, que, banhada em
sangue, foi reduzida a cinzas!
Só uma esperança luziu ainda no ânimo do imperador:
Sublevar na retaguarda dos exércitos comandados pelo russo, as provindas de
leste, de forma a apertá-los entre Paris e o seu próprio exército.
Mas na capital falharam as cabeças, e, não obstante
a resistência heroica dos raros que acudiram à defesa de seus muros. Paris
capitulou antes da chegada de Napoleão a Fontainebleau...
Dez dias depois da rendição da capital francesa,
quando já o imperador, vencido pela Europa coligada, se retirava para a ilha de
Elba, ainda o seu marechal Soult se batia por ele, numa derradeira e inútil
batalha, contra o cerco de Tolosa comandado por Wellington...
***
A dedicada Josefa, que tinha partido de Faiões,
seguindo o rasto das tropas portuguesas, e atravessara a Espanha, a mendigar
tendo sabido que, depois das derrotas de Salamanca e de Vitória, os franceses
tinham sido repelidos da Península, entrou em França, seguiu de perto as
margens do Garona e foi encontrar os portugueses no cerco de Tolosa...
O primeiro dos dois oficiais com que ela se deparou
foi o Mesquita, que, vendo-a coberta de andrajos e tomando-a pelo que parecia,
puxou da bolsa para lhe dar esmola. Mas ela recusou, dizendo que não ia ali
pedir esmolas de que não precisava, mas sim buscar notícias dele Mesquita e do
outro senhor alferes, para as levar às morgadas de Faiões, que já estavam mais
mortas que vivas, de tanto esperar por eles...
O Mesquita, posto que fosse para admirar que alguém
naquela terra lhe falasse tão acertado de sua esposada, não acreditou logo e
chamou o camarada, a quem repetiu as palavras da misteriosa mendiga.
Estavam os dois sem saber que credito dar à velha,
quando esta, declinando o seu nome e contando as razões por que se tinha
aventurado a tamanha jornada, disfarçada em mendiga, para cobrir as despesas e
ir-se informando do caminho que levavam as tropas de Portugal, meteu a mão ao
seio e, tirando as duas alianças,
entregou-as aos mancebos.
Desvaneceram-se as dúvidas, em face de prova tão
irrecusável...
E assim, tendo regressado, passados meses, com o
mesmo traje com que fora, pois não aceitou nenhum favor dos oficiais seus amos,
apareceu a boa criada em Faiões, com as notícias tão apetecidas, e na algibeira
as pesetas com que tinha partido...
***
Depois do regresso da criada a Faiões, pouco
demoraram os amos. Finda a guerra com a primeira restauração dos Bourbons e o
exílio de Napoleão, vieram os dois cunhados para junto das esposas, continuando
a fazer serviço no 12 de infantaria.
O Mesquita, para não perder o gosto à lembrança das
façanhas por terras gaulesas, trouxe consigo nesta ocasião uma francesa, que conservou oculta nas
cercanias de Chaves.
Nada de notável perturbou durante uns anos a
pacatez provinciana dos casais de Chaves e Valpaços, a não ser a teimosia de um
frade, que não largava a porta da casa de Faiões, levado pelo cheiro do
presunto e afeito o paladar ao delicioso vinho da Morgada.
Uma noite, chega o Mesquita a casa e dá com o frade
sentado à lareira, no clássico escano, entre a sogra e a mulher. Como o alferes
era picado do gênio e não tinha lido Descartes nem o filosofo de Koenigsberg,
os quais, segundo hoje se diz, fazem nascer nos espíritos o bom senso, como a
água e o estrume fazem grelar as batatas, não esteve com meias mesuras, mandou
sair dali o frade e, sentando-se no seu lugar, disse-lhe:
— Já vê que eu fico aqui muitíssimo melhor do que
Vossa Reverendíssima. Não acha?
Fez-se mais corada a bochecha do frade, mas não deu
este, ou fingiu não dar, que é o mais natural, pelo sentido da ação do
alferes...
Não, que, se ele se metesse em brios, era quem
sofria o prejuízo, porque o fumeiro e a adega não iam consigo!...
Riu-se... chalaceou... pitadeou-se... e o caso
passou-se sem coisa de maior.
Passados dias, o Mesquita dá de cara com o frade,
precisamente na mesma intimidade de escano, entre a mulher e a sogra.
Desta feita, chamou em altos brados o impedido, e,
com grande espanto de todos, mandou-o pôr as correias, carregar a espingarda,
calar baioneta, e disse-lhe:
— Ficas de sentinela àquele senhor frade. Se o
vires olhar para algum dos lados, fogo!
O frade, aterrado, mal o Mesquita se passou para
uma sala contígua, levantou-se, corcovado, e sem se atrever a levantar os olhos
ou a proferir uma palavra, fugiu, para nunca mais voltar.
***
Tendo-se rompido fogo entre constitucionais e
miguelistas, de novo os dois cunhados, desta vez acompanhados pelo primo
Manrite, partiram e foram dar ajuda ao cerco do Porto.
O Mesquita, para adoçar as folgas, teve o cuidado
de levar consigo a francesa, que se chamava Josefa, hospedando-a nos arredores
da cidade.
Depois da Convenção de Évora Monte, regressaram a
Chaves, com o seu regimento, o Mesquita, cego de um olho, e o Vasconcelos,
surdo de todo. Nestas circunstancias foi-lhes dada baixa no serviço,
recolhendo-se o Vasconcelos à Casa de Faiões, onde se conservou até à morte.
Existe dele uma neta casada com o Excelentíssimo
Senhor Domingos Sarmento, atual representante da casa.
O Mesquita foi habitar a sua casa de Murça, em
frente da lendária Porca e do velho convento das freiras...
Levou consigo a mulher, três filhos que já havia
dela, e a francesa, que ele acabou
por impor à própria mulher, em casa e pocarinho! Esta imposição, porém, causou
tão forte desgosto à esposa, que morreu pouco depois.
O Mesquita era de temperamento muito irascível. Ríspido
para a mulher e para os filhos, bateu várias vezes na francesa. Conta-se até,
que, indo uma vez de murro feito para ela, bateu numa mesa de tal jeito, que
ficou a ver do olho que tinha cegado!
Quando morreu, deixou duas filhas e um filho de
nome Basílio de Mesquita de Sousa e Oliveira.
O Paulo Manrite acompanhou o Sr. D. Miguel até não
poder mais, regressando depois, cheio de saudade e desolação, para junto da
mulher e dos filhos, em Valpaços.
Como todos os bons miguelistas, também ele todas as
manhãs, mal se erguia da cama, lançava os olhos na direção do mar, a ver se
enxergava ao menos a ponta dos mastros do navio que havia de trazer à Pátria o
seu adorado rei...
E continuou, pelo tempo fora, a tratar do cavalo, a
limpar a espada e a polir esta legenda, que em letras de ouro tinha gravada no
peito da farda que levou para a sepultura:
PAULO
MANRITE, TEM POR TIMBRE E DEVER EMPUNHAR SUA ESPADA, PARA MIGUEL DEFENDER.
***
— Mas o morgado? — perguntará o leitor — Que foi
feito do morgado?
O morgado lá foi crescendo em Faiões, na sua velha
casa com portão de seis pirâmides, de cruz ao cimo, e gozo de capela própria,
rica de paramentos, tapetes e jarras da índia.
Quando os cunhados partiram para o Porto, tinha o
morgado dobrado os vinte e cinco anos. Rapaz elegante e formoso, galanteador de
todas as primas e de quantas meninas por ali havia, entusiasmado pelos primos
de Valpaços, resolveu alistar-se nos dragões de Chaves, para ir também defender
o Senhor D. Miguel.
A mãe, quando de tal soube, sentiu uma grande anciã
no coração, e quis demover o filho de semelhante propósito; mas, vendo-o
decidido, lá foi tratando de tudo, a chorar.
Vendeu as melhores pratas de casa, principalmente
uma bacia e um jarro, para o fardar e armar à altura da sua categoria, e de
forma que pudesse botar figura entre os cunhados, sobretudo ao pé do primo
Manrite, que era oficial de grande luxo e aparato, a ponto de ter feito parte
do estado maior do Infante.
Fardado e armado, pois, como quem era, partiu o
morgado também para o cerco do Porto...
É provável que não tivesse dado um tiro, porque o
forte de suas façanhas era no cerco às damas... E, por isso mesmo, é possível
que no Porto tivesse feito frente à francesa
do cunhado... É possível...
Mas o que é certo é que nos arquivos da família não
corre fama sobre seus feitos na carreira das armas... E, desde a volta ao lar,
arrefecidos os entusiasmos bélicos pela causa do Sr. D. Miguel, também não
consta paixão notável em campanhas amorosas!...
Que o seu corpo não sofreu fuzilaria de arcabuz na
mina de Vidago, não há dúvida também, porque o morgado de Faiões morreu sentado
à lareira da sua casa, com uma apoplexia, na noite de 17 de março de 1873.
Da história dos seus amores, apenas existe a seguinte
amostra:
Tendo deixado por herdeiros os sobrinhos de Faiões
e Murça, apareceram a disputar a herança nada menos de nove filhos ilegítimos,
que tinham havido dele várias mulheres do povo!
Desta proveniência existem hoje muitos netos e
bisnetos. O principal neto foi o padre Firmino Alves de Oliveira, mestre de
capela na Sé de Bragança, com honras de cônego, e que morreu ainda novo,
saturado de álcool e de amantes...
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CARLOS BABO
À beira do centenário de Camilo (1920).
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).
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