Camilo Castello-Branco
Seria inexplicável a prodigiosa fecundidade deste romancista, e ao mesmo
tempo a sua inexcedível popularidade, se a sua profunda erudição, o
conhecimento que tem das galas da nossa linguagem, e a calorosa eloquência, que
jorra em borbotões do seu espírito ardente, não explicassem a justiça prestada
pelo público a méritos que raras vezes aplaude, e a abundância dos romances criados
por uma fantasia que se não compraz em variar enredos, nem em inventar
peripécias absurdas. O colorido sempre apropriado mas sempre vivo dos seus
quadros, o graciosíssimo chiste das suas observações, e sobre tudo a animação
do seu estilo, o vigor da sua narração fazem apetecidos de todos os seus
livros, em que o estudo da sociedade não prejudica as qualidades literárias, e
que nunca se tornam enfadonhos descrevendo o jogo das paixões, caricaturando os
ridículos, flagelando, com a mais acerba ironia, o crime triunfante, o vício
respeitado.
Em progresso incessante, Camilo Castelo Branco, se no princípio da sua
carreira sacrificou sobre os altares da moda, ou se deixou desvariar pelas
tentações do gênero “Balzac” pouco em harmonia com a sua índole essencialmente
poética, com a sua férvida imaginação, com as suas predileções literárias,
voltou a tempo ao bom caminho, e na segunda fase da sua existência de escritor
resgatou plenamente os crimes de leso-bom-gosto, de que estavam réus alguns dos
seus primeiros romances. Maior delicadeza de sentimentos, mais naturalidade na
linguagem, maior viveza e suavidade no estilo mais foram os resultados da sua
transformação. Andou Camilo Castelo Branco tenteando diferentes caminhos, sem
acertar verdadeiramente com a viçosa estrada, para onde o impelia a sua
brilhante inteligência. Se o seu talento o erguia às vezes às alturas do “Onde
está a felicidade?” fazia-o outras vezes baquear nos tremedais dos “Mistérios
de Lisboa.” Hoje Camilo caminha desassombrado pela via triunfal, obtendo sucessos
após sucessos, conquistados não lisonjeando o gosto muitas vezes equívoco do
público, mas brindando a nossa literatura com obras primas, de que ela se
ufana, e que mostra com orgulho às nações estrangeiras.
Foi nesta segunda fase que eu o vim encontrar, quando principiei a
escrever crítica literária. Prestei por conseguinte a devida homenagem a um
vulto, que vi ir-se agigantando de momento a momento, e cujo esplendido diadema
não cessara de se acrescentar com florões cada vez mais primorosos.
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PINHEIRO CHAGAS
Ensaios Críticos (1866)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2020)
PINHEIRO CHAGAS
Ensaios Críticos (1866)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2020)
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