O
inesquecível romancista maranhense que se revelou ser um arguto observador e um
finíssimo psicólogo, quando estreou com o seu famoso O Mulato, que mereceu a atenção da crítica sinceros elogios e ápodos
cruéis, porque Aluísio Azevedo se patenteou um anatomista social, um dissecador
perito, mostrando o lado mau da sociedade de sua terra, apreciando, com verdade
absoluta, os pontos fracos do meio em que vivia, a crítica de sua terra natal
julgou-se ofendida, caluniada e ululou de raiva, e de pena molhada em fel,
negou-lhe talento, aconselhou ao estreante que abandonasse essa coisa de fazer
romances, que o seu jeito, era manifesto, só lhe traria resultados se pegasse
do cabo de uma enxada e fosse cavar buracos, remexer a terra e plantar batatas.
Outros ainda negaram-lhe mérito para as letras, pois seu livro era uma série de
necedades, de mentiras, de aleivosia. E O
Mulato teve um sucesso formidando, repercutiu longe, e Urbano Duarte, que
gozava entre nós de bom nome nas letras, que era acatado e benquisto, lendo O Mulato gritou, escrevendo sobre
Aluísio Azevedo, enaltecendo-lhe o romance — “Romancista ao Norte!” Tudo quanto
se escreveu contra, tudo quanto se disse sobre o romancista naturalista, do
observador sensato, do criterioso discípulo de Balzac, Stendhal e Zola
negando-lhe tudo, concorreu para que o nome de Aluísio ficasse de pé,
consagrado.
As
edições do O Mulato sucederam-se e o
triunfo do moço escritor venceu vitoriosamente.
Daí
por diante, em vez de pegar de uma enxada para cavar minhocas e plantar
tubérculos, Aluísio dava outros livros, outros romances e deixando a sua terra
provinciana, começou a trabalhar e conquistou novos triunfos.
A
Casa de Pensão veio logo após do O Mulato. O sucesso foi ruidoso, porque
o romancista aproveitou um formidável escândalo cujo resultado foi o
assassinato de um acadêmico da Politécnica.
A
Casa de Pensão firmou de vez o nome
do maranhense ilustre, cuja visão lúcida em apreender o que via era um privilégio
entre nós.
Aluísio
Azevedo era uma alma boa, generosa, afetiva, descrevia a suavidade do perfume
de uma flor, a pudicícia de uma donzela, como os desregramentos de uma
messalina, a miséria moral do tartufo, a sociedade dissoluta bancando de
honesta, cheia de fingimentos, de hipocrisia.
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OLIVEIRA CONDE
OLIVEIRA CONDE
O Malho, fevereiro de 1926.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2020)
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