DEUSA SERENA
Espiritualizante Formosura
Gerada nas estrelas
impassíveis,
Deusa de formas bíblicas,
flexíveis,
Dos eflúvios da graça e da
ternura.
Açucena dos vales da
Escritura,
Da alvura das magnólias
marcessíveis,
Branca Via-Láctea das
indefiníveis
Brancuras, fonte da imortal
brancura.
Não veio, é certo, dos pauis
da terra
Tanta beleza que o teu corpo
encerra,
Tanta luz de luar e paz
saudosa...
Vem das constelações, do azul
do Oriente,
Para triunfar
maravilhosamente
Da beleza mortal e dolorosa!
TULIPA REAL
Carne opulenta, majestosa,
fina,
Do sol gerada nos febris carinhos,
Há músicas, há cânticos, há
vinhos
Na tua estranha boca
sulferina.
A forma delicada e
alabastrina
Do teu corpo de límpidos
arminhos
Tem a frescura virginal dos
linhos
E da neve polar e cristalina.
Deslumbramento de luxúria e
gozo,
Vem dessa carne o travo
aciduloso
De um fruto aberto aos
tropicais mormaços.
Teu coração lembra a orgia
dos triclínios...
E os reis dormem bizarros e
sanguíneos
Na seda branca e pulcra dos
teus braços.
APARIÇÃO
Por uma estrada de astros e
perfumes
A Santa Virgem veio ter
comigo:
Doiravam-lhe o cabelo claros
lumes
Do sacrossanto resplendor
amigo.
Dos olhos divinais no doce
abrigo
Não tinha laivos de paixões e
ciúmes:
Domadora do mal e do perigo
Da montanha da Fe galgara os
cumes.
Vestida na alva excelsa dos profetas
Falou na ideal resignação de
ascetas,
Que a febre dos desejos
aquebranta.
No entanto os olhos dela
vacilavam,
Pelo mistério, pela dor
flutuavam,
Vagos e tristes, apesar de
Santa!
VESPERAL
Tardes de ouro para harpas
dedilhadas
Por sacras solenidades
De catedrais em pompa,
iluminadas
Com rituais majestades.
Tardes para quebrantos e
surdinas
E salmos virgens e cantos
De vozes celestiais, de vozes
finas
De surdinas e quebrantos...
Quando através de altas
vidraçarias
De estilos góticos, graves,
O sol, no poente, abre
tapeçarias,
Resplandecendo nas naves...
Tardes augustas, bíblicas,
serenas,
Com silêncio de ascetérios
E aromas leves, castos, de
açucenas
Nos claros ares sidéreos...
Tardes de campos repousados,
quietos,
Nos longes emocionantes...
De rebanhos saudosos, de
secretos
Desejos vagos, errantes...
Ó Tardes de Beethoven, de
sonatas,
De um sentimento aéreo e
velho...
Tardes da antiga limpidez das
pratas,
De Epístolas do Evangelho!...
DANÇA DO VENTRE
Torva, febril,
torcicolosamente,
Numa espiral de elétricos
volteios,
Na cabeça, nos olhos e nos
seios
Fluíam-lhe os venenos da
serpente.
Ah! que agonia tenebrosa e
ardente!
Que convulsões, que lúbricos
anseios,
Quanta volúpia e quantos
bamboleios,
Que brusco e horrível
sensualismo quente.
O ventre, em pinchos,
empinava todo
Como réptil abjeto sobre o
lodo,
Espolinhando e retorcido em
fúria.
Era a dança macabra e
multiforme
De um verme estranho,
colossal, enorme,
Do demônio sangrento da
luxúria!
FOEDERIS ARCA
Visão que a luz dos astros
louros trazes,
Papoula real tecida de
neblinas
Leves, etéreas, vaporosas,
finas,
Com aromas de lírios e
lilases.
Brancura virgem do cristal
das frases,
Neve serene das regiões
alpinas,
Willis juncal de mãos
alabastrinas,
De fugitivas correções vivazes.
Floresces no meu Verso como o
trigo,
O trigo de ouro dentre o sol
floresce
E és a suprema Religião que
eu sigo...
O Missal dos Missais, que
resplandece,
A igreja soberana que eu
bendigo
E onde murmuro a solitária
prece!...
TUBERCULOSA
Alta, a frescura da magnólia
fresca,
Da cor nupcial da flor da
laranjeira,
Doces tons d'ouro de mulher
tudesca
Na veludosa e flava
cabeleira.
Raro perfil de mármores
exatos,
Os olhos de astros vivos que
flamejam,
Davam-lhe o aspecto
excêntrico dos cactos
E esse alado das pombas,
quando adejam...
Radiava nela a incomparável
messe
Da saúde brotando vigorosa,
Como o sol que entre névoas
resplandece,
Por entre a fina pele
cor-de-rosa.
Era assim luminosa e delicada
Tão nobre sempre de beleza e
graça
Que recordava pompas de
alvorada,
Sonoridades de cristais de
taça.
Mas, pouco a pouco, a ideal
delicadeza.
Daquele corpo virginal e
fino,
Sacrário da mais límpida
beleza,
Perdeu a graça e o brilho
diamantino.
Tísica e branca, esbelta,
frígida e alta
E fraca e magra e transparente
e esguia,
Tem agora a feição de ave
pernalta,
De um pássaro alvo de
aparência fria.
Mãos liriais e diáfanas, de
neve,
Rosto onde um sonho aéreo e
polar flutua,
Ela apresenta a fluidez, a
leve
Ondulação da vaporosa lua.
Entre as vidraças, como numa
estufa
No inverno glacial de vento e
chuva
Que sobre as telhas tamborila
e rufa,
Vejo-a, talhada em nitidez de
luva...
E faz lembrar uma esquisita
planta
De profundos pomares
fabulosos
Ou a angélica imagem de uma
Santa
Dentre a auréola de nimbos religiosos.
A enfermidade vai-lhe, palmo
a palmo,
Ganhando o corpo, como num
terreno...
E com prelúdios místicos de
salmo
Cai-lhe a vida em crepúsculo
sereno.
Jamais há de ela ter a cor
saudável
Para que a carne do seu corpo
goze,
Que o que tinha esse corpo de
inefável
Cristalizou-se na
tuberculose.
Foge ao mundo fatal, arbusto
débil,
Monja magoada dos estranhos
ritos,
Ó trêmula harpa soluçante,
flébil,
Ó soluçante, flébil eucaliptus...
FLOR DO MAR
És da origem do mar, vens do
secreto,
Do estranho mar espumaroso e
frio
Que põe rede de sonhos ao
navio,
E o deixa balouçar, na vaga,
inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante
afeto,
As dormências nervosas e o
sombrio
E torvo aspecto aterrador,
bravio
Das ondas no atro e proceloso
aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e
rosas
Surges das águas
mucilaginosas
Como a lua entre a névoa dos
espaços...
Trazes na carne o eflorescer
das vinhas,
Auroras, virgens músicas
marinhas,
Acres aromas de algas e
sargaços...
DILACERAÇÕES
Ó carnes que eu amei sangrentamente,
Ó volúpias letais e
dolorosas,
Essências de heliotropos e de
rosas
De essência morna, tropical,
dolente...
Carnes virgens e tépidas do
Oriente
Do Sonho e das estrelas
fabulosas,
Carnes acerbas e
maravilhosas,
Tentadoras do sol
intensamente...
Passai, dilaceradas pelos
zeros,
Através dos profundos
pesadelos
Que me apunhalam de mortais
horrores...
Passai, passai, desfeitas em
tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em
lamentos,
Em ais, em luto, em
convulsões, em cores...
REGENERADA
De mãos postas, à luz de
frouxos círios
Rezas para as estrelas do
Infinito,
Para os azuis dos siderais
Empíreos
Das Orações o doloroso rito.
Todos os mais recônditos
martírios,
As angústias mortais, teu
lábio aflito
Soluça, em preces de luar e
lírios,
Num trêmulo de frases
inaudito.
Olhos, braços e lábios, mãos
e seios,
Presos, d'estranhos, místicos
enleios,
Já nas Mágoas estão
divinizados.
Mas no teu vulto ideal e
penitente
Parece haver todo o calor
veemente
Da febre antiga de gentis
Pecados.
SENTIMENTOS CARNAIS
Sentimentos carnais, esses
que agitam
Todo o teu ser e o tornam
convulsivo...
Sentimentos indômitos que
gritam
Na febre intensa de um desejo
altivo.
Ânsias mortais, angústias que
palpitam,
Vãs dilacerações de um sonho
esquivo,
Perdido, errante, pelos céus,
que fitam
Do alto, nas almas, o
tormento vivo.
Vãs dilacerações de um Sonho
estranho,
Errante, como ovelhas de um
rebanho,
Na noite de hóstias de astros
constelada...
Errante, errante, ao
turbilhão dos ventos,
Sentimentos carnais, vãos
sentimentos
De chama pelos tempos
apagada...
CRISTAIS
Mais claro e fino do que as
finas pratas
O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das
sonatas
Como um perfume a tudo
perfumava.
Era um som feito luz, eram
volatas
Em lânguida espiral que
iluminava,
Brancas sonoridades de
cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
Filtros sutis de melodias, de
ondas
De cantos volutuosos como
rondas
De silfos leves, sensuais,
lascivos...
Como que anseios invisíveis,
mudos,
Da brancura das sedas e
veludos,
Das virgindades, dos pudores
vivos.
SINFONIAS DO
OCASO
Musselinosas como brumas
diurnas
Descem do acaso as sombras
harmoniosas,
Sombras veladas e
musselinosas
Para as profundas solidões
noturnas.
Sacrários virgens,
sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de
sidéreas rosas,
Da lua e das estrelas
majestosas
Iluminando a escuridão das
furnas.
Ah! por estes sinfônicos
ocasos
A terra exala aromas de
áureos vasos,
Incensos de turíbulos
divinos.
Os plenilúnios mórbidos
vaporam...
E como que no azul plangem e
choram
Cítaras, harpas, bandolins,
violinos...
REBELADO
Ri tua face um riso acerbo e
doente,
Que fere, ao mesmo tempo que
contrista...
Riso de ateu e riso de
budista
Gelado no Nirvana
impenitente.
Flor de sangue, talvez, e
flor dolente
De uma paixão espiritual de
artista,
Flor de Pecado
sentimentalista
Sangrando em riso
desdenhosamente.
Da alma sombria de tranquilo
asceta
Bebeste, entanto, a morbidez
secreta
Que a febre das insânias
adormece.
Mas no teu lábio convulsivo e
mudo
Mesmo até riem, com desdéns
de tudo,
As sílabas simbólicas da
Prece!
MÚSICA
MISTERIOSA...
Tenda de estrelas níveas,
refulgentes,
Que abris a doce luz de
alampadários,
As harmonias dos
Estradivarius
Erram da lua nos clarões
dormentes...
Pelos raios fluídicos,
diluentes
Dos astros, pelos trêmulos
velários,
Cantam Sonhos de místicos
templários,
De ermitões e de ascetas
reverentes...
Cânticos vagos, infinitos,
aéreos
Fluir parecem dos azuis
etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar
fluindo...
E vai, de estrela a estrela,
a luz da Lua,
Na láctea claridade que
flutua,
A surdina das lágrimas
subindo...
SERPENTE DE
CABELOS
A tua trança negra e
desmanchada
Por sobre o corpo nu, torso
inteiriço,
Claro, radiante de esplendor
e viço,
Ah! lembra a noite de astros
apagada.
Luxúria deslumbrante e
aveludada
Através desse mármore maciço
Da carne, o meu olhar nela
espreguiço
Felinamente, nessa trance
ondeada.
E fico absorto, num torpor de
coma,
Na sensação narcótica do
aroma,
Dentre a vertigem túrbida dos
zeros.
És a origem do Mal, és a
nervosa
Serpente tentadora e
tenebrosa,
Tenebrosa serpente de
cabelos!...
POST MORTEM
Quando do amor das Formas
inefáveis
No teu sangue apagar-se a
imensa chama,
Quando os brilhos estranhos e
variáveis
Esmorecerem nos troféus da
Fama.
Quando as níveas estrelas
invioláveis,
Doce velário que um luar
derrama,
Nas clareiras azuis
ilimitáveis
Clamarem tudo o que o teu
Verso clama.
Já terás para os báratros
descido,
Nos cilícios da morte
revestido,
Pés e faces e mãos e olhos
gelados...
Mas os teus Sonhos e Visões e
Poemas
Pelo alto ficarão de eras
supremas
Nos relevos do Sol
eternizados!
ALDA
Alva, do alvor das límpidas
geleiras,
Desta ressumbra candidez de
aromas...
Parece andar em nichos e
redomas
De Virgens medievais que
foram freiras.
Alta, feita no talhe das
palmeiras,
A coma de ouro, com o cetim
das comas,
Branco esplendor de faces e
de pomas
Lembra ter asas e asas
condoreiras.
Pássaros, astros, cânticos,
incensos
Formam-lhe aureoles, sóis,
nimbos imensos
Em torno a carne virginal e
rara.
Alda fez meditar nas monjas
alvas,
Salvas do Vício e do Pecado
salvas,
Amortalhadas na pureza clara.
ACROBATA DA DOR
Gargalha, ri, num riso de
tormenta,
Como um palhaço, que
desengonçado,
Nervoso, ri, num riso
absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor
violenta.
Da gargalhada atroz,
sanguinolenta,
Agita os guizos, e
convulsionado
Salta, gavroche, salta clown,
varado
Pelo estertor dessa agonia
lenta...
Pedem-te bis e um bis não se
despreza!
Vamos! retesa os músculos,
retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o chão,
fremente,
Afogado em teu sangue estuoso
e quente
Ri! Coração, tristíssimo
palhaço.
ANGELUS...
Ah! lilases de Ângelus
harmoniosos,
Neblinas vesperais,
crepusculares,
Guslas gementes, bandolins
saudosos,
Plangências magoadíssimas dos
ares...
Serenidades etereais
d'incensos,
De salmos evangélicos,
sagrados,
Saltérios, harpas dos azuis
imensos,
Névoas de céus
espiritualizados.
Ângelus fluidos, de luar
dormente,
Diafaneidades e
melancolias...
Silêncio vago, bíblico, pungente
De todas as profundas
liturgias.
É nas horas dos Ângelus, nas
horas
Do claro-escuro emocional
aéreo,
Que surges, Flor do Sol,
entre as sonoras
Ondulações e brumas do
Mistério.
Surges, talvez, do fundo de
umas eras
De doloroso e turvo
labirinto,
Quando se esgota o vinho das
Quimeras
E os venenos românticos do
absinto.
Apareces por sonhos
neblinantes
Com requintes de graça e
nervosismos,
Fulgores flavos de festins
flamantes,
Como a estrela Polar dos
Simbolismos.
Num enlevo supremo eu sinto,
absorto,
Os teus maravilhosos e
esquisitos
Tons siderais de um astro
rubro e morto,
Apagado nos brilhos
infinitos.
O teu perfil todo o meu ser
esmalta
Numa auréola imortal de
formosuras
E parece que rútilo ressalta
De góticos missais de
iluminuras.
Ressalta com a dolência das
Imagens,
Sem a forma vital, a forma
viva,
Com os segredos da lua nas
paisagens
E a mesma palidez meditativa.
Nos êxtases dos místicos os
braços
Abro, tentado de carnal
beleza...
E cuido ver, na bruma dos
espaços,
De mãos postas, a orar, Santa
Teresa!...
LEMBRANÇAS
APAGADAS
Outros, mais do que o meu,
finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho
e belo
Que tu, ó Lírio lânguido,
singelo,
Guardaste nos teus íntimos
recatos.
Que outros se lembrem dos
sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e
não revelo
E se recordem, com profundo
anelo,
Da tua voz de siderais
contatos...
Mas eu, para lembrar mortos
encantos,
Rosas murchas de graças e
quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor
saudosa,
Tanto martírio, tanta mágoa e
pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal
maravilhosa!...
SUPREMO DESEJO
Eternas, imortais origens
vivas
Da Luz, do Aroma, segredantes
vozes
Do mar e luares de
contemplativas,
Vagas visões volúpicas,
velozes...
Aladas alegrias sugestivas
De asa radiante e branca de
albornozes,
Tribos gloriosas, fúlgidas,
altivas,
De condores e de águias e
albatrozes...
Espiritualizai nos astros
louros,
Do sol entre os clarões
imorredouros
Toda esta dor que na
minh'alma clama...
Quero vê-la subir, ficar
cantando
Na chama das estrelas,
dardejando
Nas luminosas sensações da
chama.
SONATA
Do imenso mar maravilhoso,
amargos,
Marulhosos murmurem
compungentes
Cânticos virgens de emoções
latentes,
Do sol nos mornos, mórbidos
letargos...
II
Canções, leves canções de gondoleiros,
Canções do amor, nostálgicas
baladas,
Cantai com o mar, com as
ondas esverdeadas,
De lânguidos e trêmulos
nevoeiros!
III
Tritões marinhos, belos
deuses rudes,
Divindades dos tártaros
abismos,
Vibrai, com os verdes e acres
eletrismos
Das vagas, flautas e harpas e
alaúdes!
IV
O Mar supremo, de flagrância
crua,
De pomposas e de ásperas
realezas,
Cantai, cantai os tédios e as
tristezas
Que erram nas frias solidões
da Lua...
MAJESTADE CAÍDA
Esse cornoide deus
funambulesco
Em torno ao qual as Potestades
rugem,
Lembra os trovões, que
tétricos estrugem,
No riso alvar de truão
carnavalesco.
De ironias o momo picaresco
Abre-lhe a boca e uns dentes
de ferrugem,
Verdes gengivas de ácida
salsugem
Mostra e parece um Sátiro
dantesco.
Mas ninguém nota as cóleras
horríveis,
Os chascos, os sarcasmos
impassíveis
Dessa estranha e tremenda
Majestade.
Do torvo deus hediondo,
atroz, nefando,
Senil, que embora, rindo,
está chorando
Os noivados em flor da
Mocidade!
INCENSOS
Dentre o chorar dos trêmulos
violinos,
Por entre os sons dos órgãos
soluçantes
Sobem nas catedrais os
neblinantes
Incensos vagos, que recordam
hinos...
Rolos d'incensos alvadios,
finos
E transparentes, fúlgidos,
radiantes,
Que elevam-se aos espaços,
ondulantes,
Em Quimeras e Sonhos diamantinos.
Relembrando turíbulos de
prata
Incensos aromáticos desata
Teu corpo ebúrneo, de sedosos
flancos.
Claros incensos imortais que
exalam,
Que lânguidas e límpidas
trescalam
As luas virgens dos teus
seios brancos.
LUZ DOLOROSA...
Fulgem da Luz os Viáticos
serenos,
Brancas Extrema-Unções dos
hostiários:
As estrelas dos límpidos
Sacrários
A nívea lua sobre a paz dos
fenos.
Há prelúdios e cânticos e
trenos
Tristes, nos ares ermos,
solitários...
E nos brilhos da Luz, vagos e
vários,
Há dor, há luto, há
convulsões, venenos...
Estranhas sensações
maravilhosas
Percorrem pelos cálices das
rosas,
Sensações sepulcrais de
larvas frias...
Como que ocultas áspides
flexíveis
Mordem da Luz os germens
invisíveis
Com o tóxico das cóleras
sombrias...
TORTURA ETERNA
Impotência cruel, ó vã
tortura!
Ó Força inútil, ansiedade
humana!
Ó círculos dantescos da
loucura!
Ó luta, ó luta secular,
insana!
Que tu não possas, alma
soberana,
Perpetuamente refulgir na
altura,
Na Aleluia da luz, na clara
Hosana
Do Sol, cantar, imortalmente
pura.
Que tu não posses, Sentimento
ardente,
Viver, vibrar nos brilhos do
ar fremente,
Por entre as chamas, os
clarões supernos.
Ó Sons intraduzíveis, formas,
cores!...
Ah! que eu não possa
eternizar as cores
Nos bronzes e nos mármores
eternos!
TORRE DE OURO
Desta torre desfraldam-se
altaneiras,
Por sóis de céus imensos
broqueladas,
Bandeiras reais, do azul das
madrugadas
E do íris flamejante das
poncheiras.
As torres de outras regiões
primeiras
No amor, nas glórias vãs arrebatadas
Não elevam mais alto,
desfraldadas,
Bravas, triunfantes, imortais
bandeiras.
São pavilhões das hostes
fugitivas,
Das guerras acres,
sanguinárias, vivas,
Da luta que os espíritos
ufana.
Estandartes heroicos,
palpitantes,
Vendo em marcha passe aniquilantes
As torvas catapultas do
Nirvana!
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