Quem te vê delira, chora,
Se arrebata, treme, ri!...
Cruz e
Souza
Pitágoras,
Tycho Brahe e Galileu,
Aristarco, Hewehell e Filolau
Hiparco e Copérnico (Nicolau)
E
o sábio, divinal, Ptolomeu!...
Newton,
o descritor das leis do céu
E
Jaques Lapier, que em sua nau
Deu
volta a todo o globo, Ladislau
Tão
grande imperador, qual Briareu!...
Todas
essas cabeças tão dinâmicas
Onde
giravam mil grandes pensamentos
Em
ondas consteladas e titânicas!
Sumiram-se
num mar de esquecimentos
As
rubras chispações – fortes, dardânicas
A
JULIETA DOS SANTOS
(Homenagem ao Gênio)
Dá-me uma centelha do teu gênio
Se queres que eu mais diga.
Do autor
Do autor
O
Himalaia, aquele monte enorme,
Que
n’Ásia impera — colossal, disforme,
De
fronte tão ufana!...
A
tua vista é nada; é qual poeira
Que
n’asa do simoun — passa ligeira
Por
sobre a caravana!...
O
Etna bem furioso
No
auge de erupção...
Não
sofre tamanho abalo
Como
sofre o coração,
Daqueles
que cheios de pasmo
Te
ouvem com entusiasmo,
E
bradam — tu és um Deus!...
Teu
nome — é a maior glória
Que
ocupa do mundo a História...
Oh!
tu viste do céus!!...
JULIETA!...
ente divino
Tu
és um nome, um portento!...
Muito
maior que o Amazonas
É
o teu grão pensamento;
Ele
tem força que arrasta
E
alagando devasta
Miríades
de corações!!...
Tu
alucinas a gente
Quando
a plateia contente
Dá-te
bravos milhões!!...
Quem
pode na cena ver-te,
Sem
sentir bem dentro d’alma
O
entusiasmo ferver-lhe
Oh!
augusta irmã de Talma?!...
Só
se quem for com o ferro
Ou
como além o serro
Que
é coisa inanimada!...
Mas
quem um’alma tiver
Há
de um trono a ti erguer
Com
a ideia perturbada.
Tu
és astro luzente, excelso Gênio!...
Faz
d’Universo o teu gentil proscênio
E
põe-te a trabalhar!
Os
anjos te serão espectadores
E
o sol indo perdendo seus fulgores
Não
mais há de brilhar!
Salve,
pois, atriz ingente,
Que
lá no céu futuro
Tu
terás fulgor bem puro
Oh!
sol do nosso país!...
Caminha...
diva, rainha,
Reinarás
em toda a parte...
O
teu trono — é arte,
Logo
serás bem feliz!
Lá
nos espaços te louvam
Racine de Molière,
Shakespeare e Voltaire,
Mars, Clairon e Rachel,
E
todos juntos — sorrindo
Exclamam
com arrogância:
“Ela
há de ter por jactância
A
coroa d’arte, o laurel!”
Tu
és da arte dramática
O
condor — forte, valente!
Larga
um voo bem ardente,
Tira
da Ristori o espectro!...
Quando
apareces no palco
Arroubando
sempre as almas...
Lá
na campa bate palmas
De
Keean o famoso espectro!...
Tu
tens na mente inspirada
Mais
luz do que o dia tem!
E
de toda a parte vem
Mil
mundos pra te aplaudir!...
Que
espetáculo tão soberbo!...
Toda
a natureza é festa!...
É
alegre, não é mesta
Porque
está a sorrir!...
Se
a Europa exulta, ufana
Por
ter dado maravilhas,
As
brasileiras famílias
Exultam
também, alegres!...
Porque
saiu de seu seio
O
grand’astro teatral
—
JULIETA, a imortal —
Maior
que Emilia das Neves!
Sim,
que ela é superior
A
Fargueil e a Agar,
E
mais que Sarah Bernhardt
A
menina — JULIETA!...
É
um portento, um assombro,
É
o Colombo da cena...
É
maior que a fama helena...
É
um divino planeta!...
O
teu nome, ó grande deusa,
Este
século há de tomar...
O
tufão — louco, a gritar
Já
te chama d’imortal!...
Lá
no porvir tua estátua
Com
ligeireza já molda-se
É
inteiriça, não solda-se
O
mundo é seu pedestal!...
***
Assim
como a noite foge pávida
Quando
surge o claro e lindo dia,
Que
espalha pela terra, só — magia
Quando
o sol aparece lá no mar!
Assim
também devem fugir bem rápidas
As
sombras que povoam o proscênio,
Porque
já é nascido o sol do gênio
Que
ofusca — uma Lucinda, uma Favart!...
***
Não
ouves clangor imenso
Pelo
espaço a rolar?...
É
das cem tubas da Fama
Que
se partem a te louvar!...
Não
ouves contra o rochedo
O
vagalhão rebentar?...
É
ele que ao ver-te em cena
Vem
a ti um bravo dar!...
A
natureza te aplaude
Delirando
— que fanático
Se
levanta o polo Ártico
E
canta um Hino de glória!
Depois...
fitando um instante
A
grande extensão marinha,
Brada:
— do palco é rainha,
Terá
coroas de vitória!... —
Então,
os Andes soberbos
Repercutiram
o brado...
O
polo Antártico altanado
Sua
voz também ergueu!
E
levantando seus olhos
Para
as grimpas do infinito
Soltou
este forte grito
—
Não é da terra, é do céu!...
O
terrível Hecla — num jorro
Da
enorme erupção,
Disse
com voz de trovão
—
Ela é divino portento!... —
O
Vesúvio além dos mares
Com
o infinito nos ombros
Incutindo
mil assombros
Gritou:
— É Deus, em talento!...—
***
Tu
passas rutilante em toda a parte
Oh!
sol da nossa pátria! Oh! sol da arte!...
Por
satélites tu tens
Vitória,
Íris, Métis,
Mercúrio,
Vênus e Tétis,
Que
giram à roda de ti!
E
tu dás luz para todos
Brilharem
em harmonia
Derramando
sã magia
Do
firmamento até aqui.
Tu
banhaste a fronte augusta
Lá
nas águas do Jordão!
Então...
teu ardente crânio
Transbordou
d’inspiração!...
Para
dizer-te o que és
Eu
quisera ser Dantão!
Tu
banhaste a fronte augusta
Lá
nas águas do Jordão!
Tu
és mais Gênio que Cristo,
Que
foi sábio e poderoso!
Por
isso eu te rendo um culto
E
te adoro fervoroso;
Se
eu pudesse te faria
Um
poema mui mimoso...
Tu
és mais Gênio que Cristo,
Que
foi sábio e poderoso!...
***
A
palma da vitória, tu tens sempre na mão,
Da
cega Georgeta tu és a encarnação
Divina
JULIETA!
A
meta do belo, do grande e do sublime
Tu
nos arrasta, como o vício ao crime
Arrasta
o viciado;
E
eu arrebatado
Fiquei...
Já sem razão
Quis
atirar-te aos pés meu pobre coração!
Depois...
subir ao firmamento,
Delirante,
louco, entusiasta
E
os astros roubar nesse momento
Pra
te coroar a fronte — grande, vasta
Que
referve um fogo divinal
Que
nos eleva aos céus do ideal.
***
Tu
passas rutilante em toda a parte
Oh!
sol da nossa pátria!... Oh! sol da arte!...
***
Dilúvios
de pensamento
De Camões o grão poeta!
Nada
é para exprimir
O
que tu és, JULIETA!
Quanto
mais meus pobres versos
Que
em palidez se acham imersos
Sem
pensamentos mui grandes!...
Mas...
que por minha vontade
Iriam
à imensidade
Passariam
além dos Andes!...
***
Recebe,
pois, bem alegre
Esta
tosca saudação!
É
filha do coração
Oh!
atrizinha ideal!
Eu
quisera pra cantar-te
Ser
poeta qual Hugo...
Se
felicitar-te vou
Fico
estúpido, irracional!
Por
isso... fiz-te estes versos
Que
jamais terão valor,
Apenas
é o penhor
Do
culto que sei render-te!...
E
num trono que se ergue,
Lá
no mais íntimo dos céus
Perto
do trono de Deus
Imperando
eu hei de ver-te!...
A JULIETA DOS SANTOS
O Niágara vai contar aos mares,
O Chimboraso arremessa aos ares
A fama o teu nome!...
Castro
Alves
Sentiu
um choque o continente antigo
Ao
ver pelos espaços um átomo de luz!
Partindo
fulgurante do solo — Santa Cruz,
Levando
estridulas ovações consigo!
O
oceano lhe chamou — “amigo”
Vem,
ilumina-me com clarões a flux!
Que
eu te darei constelações azuis...
Vem...
vem depressa conversar comigo!...
Mas
qual, o louco não ouviu o grito,
Inda
com a força do motor proscênio
Rápido
sumiu-se além no infinito!...
Deixou
na Europa todo o povo helênio
Idolatrando-o
com fervor, contrito
Esse
emissário do brasílio GÊNIO!
A JULIETA DOS SANTOS
Quando
eu te vi surgir qual astro sublimado
De
fimbria do horizonte do límpido proscênio,
Senti
que do teu gênio
A
luz suave e pura
Causava-me
no cérebro vertigens de loucura,
E
frases sem sentido então balbuciei
Como
criança insonte que mal ainda fala
Depois...
fiquei calado...
E
quis ir a teus pés
Com
força e entusiasmo dizer o que tu és.
Mas
quando procurei juntar umas ideias
Ouvi
um som mui brando de doces melopeias
Passarem
pelos ares!
E
vi também os mares
Com
as rochas entoando
Músicas
mil — divinas!...
Os
vendavais bradavam nos espaços:
“Nós
vamos abraçá-la com nossos fortes braços,
Porque
Ela é a cena o grande Briareu
Que
veio lá do céu
Mostrar
à humanidade
A
grã sublimidade
Da
arte de Caetano!
E
com valor troiano
Se
tem apresentado
Fazendo
um novo mundo do mágico tablado”.
Assim,
com essas vozes, de novo delirei
E
abismado em mi’mesmo eu logo me quedei
Até
descer o pano...
É
que do gênio a luz tão de repente
Faz
a gente ficar quase demente!
***
Salve,
pois, atrizinha — enorme, colossal
Que
prendes a plateia ao mundo do ideal!!...
A JULIETA DOS SANTOS
Do
Universo o Divino o grande Obreiro
Estava
no repouso sem primeiro,
Quando
ao cérebro gigante lhe ocorreu
Uma
ideia maior que o próprio céu...
E
foi: criar um Sol tão grande e colossal
Que
mostrasse a todo o ser o mundo do ideal.
E
trabalhou... seu trabalho foi diário...
E
quando o concluiu... mandou um emissário
Dizer
a todo o mundo
O
Gênio tão profundo
Que
tinha enviar-nos... E foi este um cometa
Que
disse a toda a terra o nome — JULIETA!
É
esse pois o nome do máximo dos portentos
Que,
de luz em cada floco, milhões de pensamentos
Atira
sobre nós,
Fazendo
estremecer os ossos dos heróis
Que
dormem há mil anos nas campas bem sepultos!
Com
força magnética reergue os nobres vultos
Maiores
que os titãs, imensos e tão grandes
Que
vão ao infinito e passam além dos Andes!
Depois...
abrem seus olhos cercados de montanhas
Que
parecem mil lagos de orbitais tamanhas
Contemplando
os céus!...
E
vão Briareus
Unidos
em corte
Saudá-lo,
com presentes, do império lá da morte!
Então
é toda a terra um grande Coliseu,
Onde
se representam os dramas lá do céu!...
Tu
triunfas na luta sobranceira...
Quando
pisas no palco, majestosa,
Do
zoilo vil a boca venenosa
Solta
um — bravo — atrizinha brasileira!
Oh!
menina feliz! oh! feiticeira,
Que
és amável, risonha, espirituosa,
Que
nos fazes vida deleitosa
Quando
mostras teu gênio — prazenteira!
Rainha
do proscênio o céu te aclama
Com
estridulo clangor, por todo o mundo
Corre
teu nome nos anais da fama!!...
Dás
glórias ao teu país — belo, fecundo,
Brasileia
Cuniberti!... assim te chama
O
nosso Imperador — Pedro Segundo.
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