Maldito
aquele dia, em que abriste em meu seio,
Cruel,
esta paixão, como, ampla e iluminada,
Uma
clareira verde, aberta ao sol, no meio
Da
espessa escuridão de uma selva cerrada!
Ah!
três vezes maldito o amor que me avassala,
E
me obriga a viver dentro de um pesadelo,
Louco!
por toda a parte ouvindo a tua fala,
Vendo
por toda a parte a cor do teu cabelo!
De
teu colo no vale embalsamado e puro
Nunca
descansarei, como num paraíso,
Sob
a tenda aromal desse cabelo escuro,
Olhando
o teu olhar, sorrindo ao teu sorriso.
Desvairas-me
a razão, tiras-me a calma e o sono!
Nunca
te possuirei, bela e invejada vinha,
Ó
vinha de Nabot que tanto ambiciono!
Ó
alma que procuro e nunca serás minha!
Como
a alma pura, que teu corpo encerra,
Podes,
tão bela e sensual, conter?
Pura
demais para viver na terra,
Bela
demais para no céu viver...
Amo-te
assim! – exulta, meu desejo!
É
teu grande ideal que te aparece,
Oferecendo
loucamente o beijo,
E
castamente murmurando a prece!
Amo-te
assim, à fronte conservando
A
parra e o acanto, sob o alvor do véu,
E
para a terra os olhos abaixando,
E
levantando os braços para o céu.
Ainda
quando, abraçados, nos enleva
O
amor em que abraso e em que te abrasas,
Vejo
o teu resplendor arder na treva
E
ouço a palpitação das tuas asas.
Em
vão sorrindo, plácidos, brilhantes,
Os
céus se estendem pelo teu olhar,
E,
dentro dele, os serafins errantes
Passam
nos raios claros do luar:
Em
vão! – descerrar úmidos, e cheios
De
promessas, os lábios sensuais,
E,
à flor do peito, empinam-se-te os seios,
Ameaçadores
como dois punhais.
Como
é cheirosa a tua carne ardente!
Toco-a,
e sinto-a ofegar, ansiosa e louca...
Beijo-a,
aspiro-a... Mas sinto, de repente,
As
mãos geladas e gelada a boca:
Parece
que uma santa imaculada
Desce
do altar pela primeira vez,
E
pela vez primeira profanada
Tem
por olhos humanos a nudez...
Embora!
hei de adorar-te nesta vida,
Já
que, fraco demais para perdê-la,
Não
posso um dia, deusa foragida,
Ir
amar-te no seio de uma estrela.
Beija-me!
Ficarei purificado
Com
o que de puro no teu beijo houver;
Ficarei
anjo, tendo-te ao meu lado:
Tu,
ao meu lado, ficarás mulher.
Que
me fulmine o horror desta impiedade!
Serás
minha! Sacrílego e profano,
Hei
de manchar a tua castidade
E
dar-te aos lábios um gemido humano!
E
à sombria mudez do santuário
Preferirás
o cálido fulgor
De
um cantinho da terra, solitário,
Iluminado
pelo meu amor...
I
Ah!
finda o inverno! adeus, noites, breve esquecidas,
Junto
ao fogo, com as mãos estreitamente unidas!
Abracemo-nos
muito! adeus! um beijo ainda!
Prediz-me
o coração que é o nosso amor que finda,
Há
de em breve sorrir a primavera. Em breve,
Branca,
aos beijos do sol, há de fundir-se a neve.
E,
na festa nupcial das almas e das flores
Quando
tudo acordar para os novos amores,
Meu
amor! haverá dois lugares vazios...
Tu
tão longe de mim! e ambos, mudos e frios,
Procurando
esquecer os beijos que trocamos,
E
maldizendo o tempo em que nos adoramos...
II
Mas,
às vezes, sozinha, hás de tremer, o vulto
De
um fantasma entrevendo, em tua alcova oculto.
E
pelo corpo todo, a ofegar de desejo,
Pálida,
sentirás a carícia de um beijo.
Sentirás
o calor da minha boca ansiosa,
Na
água que te banhar a carne cor-de-rosa,
No
linho do lençol que te roçar o peito.
E
hás de crer que sou eu que procuro o teu leito,
E
hás de crer que sou eu que procuro a tua alma!
E
abrirás a janela... E, pela noite calma,
Ouvirás
minha voz no barulho dos ramos,
E
bendirás o tempo em que nos adoramos...
III
E
eu, errante, através das paixões, hei de, um dia,
Volver
o olhar atrás, para a estrada sombria.
Talvez
uma saudade, um dia, inesperada,
Me
punja o coração, como uma punhalada.
E
agitarei no vácuo as mãos, e um beijo ardente
Há
de subir-me à boca: e o beijo e as mãos somente
Hão
de o vácuo encontrar, sem te encontrar, querida!
E,
como tu, também me acharei só na vida,
Só!
sem o teu amor e a tua formosura:
E
chorarei então a minha desventura,
Ouvindo
a tua voz no barulho dos ramos,
E
bendizendo o tempo em que nos adoramos...
IV
Renascei,
revivei, árvores sussurrantes!
Todas
as asas vão partir, loucas e errantes,
A
ruflar, a ruflar... O amor é um passarinho:
Deixemo-lo
partir: — desertemos o ninho...
A
primavera vem. Vai-se o inverno. Que importa
Que
a primavera encontre esta ventura morta?
Que
importa que o esplendor do universal noivado
Venha
este noivo achar da noiva separado?
Esqueçamos
o amor que julgamos eterno...
—
Dia que iluminaste os meus dias de inverno!
Esqueçamos
o ardor dos beijos que trocamos,
Maldigamos
o tempo em que nos adoramos...
PECADOR
Este
é o altivo pecador sereno,
Que
os soluços afoga na garganta,
E,
calmamente, o copo de veneno
Aos
lábios frios sem tremer levanta.
Tonto,
no escuro pantanal terreno
Rolou.
E, ao cabo de torpeza tanta,
Nem
assim, miserável e pequeno,
Com
tão grandes remorsos se quebranta.
Fecha
a vergonha e as lágrimas consigo...
E,
o coração mordendo impenitente,
E,
o coração rasgando castigado,
Aceita
a enormidade do castigo,
Com
a mesma face com que antigamente
Aceitava
a delícia do pecado.
REI
DESTRONADO
O
teu lugar vazio!... E esteve cheio,
Cheio
de mocidade e de ternura!
Como
brilhava a tua formosura!
Que
luz divina te dourava o seio!
Quando
a camisa tépida despias,
—
Sob o reflexo do cabelo louro,
De
pé, na alcova, ardias e fulgias
Como
um ídolo de ouro.
Que
fundo o fogo do primeiro beijo,
Que
eu te arrancava ao lábio recendente!
Morria
o meu desejo... outro desejo
Nascia
mais ardente.
Domada
a febre, lânguida, em meus braços
Dormias,
sobre os linhos revolvidos,
Inda
cheios dos últimos gemidos,
Inda
quentes dos últimos abraços...
Tudo
quanto eu pedira e ambicionara,
Tudo
meus dedos e meus olhos calmos
Gozavam
satisfeitos nos seis palmos
De
tua carne saborosa e clara:
Reino
perdido! glória dissipada
Tão
loucamente! A alcova está deserta,
Mas
inda com o teu cheiro perfumada,
Do
teu fulgor coberta...
Este,
que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o
com o sinal da sua maldição,
—
Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas
para aos pés ser calcada no chão.
De
motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem
constância no amor, dentro do coração
Sente,
crespa, crescer a selva retorcida
Dos
pensamentos maus, filhos da solidão.
Longos
dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma
cega, perdida à toa no caminho!
Roto
casco de nau, desprezado no mar!
E,
árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E,
homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem
ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!
I
Quando
do teu violino, as asas entreabrindo
Mansamente
no espaço, iam-se as notas quérulas,
Anjos
de olhos azuis, às duas mãos partindo
Os
seus cofres de pérolas,
—
Minhas crenças de amor, esquecidas em calma
No
fundo da memória, ouvindo-as recebiam
Novo
alento, e outra vez do oceano de minh’alma,
Arquipélago
verde, à tona apareciam.
E
eu via rutilar o meu amor perdido,
Belo,
de nova luz e novo encanto cheio,
E
um corpo, que supunha há muito consumido,
Agitar-se
de novo e oferecer-me o seio.
Tudo
ressuscitava ao teu influxo, artista!
E
minh’alma revia, alucinada e louca,
Olhos,
cujo fulgor me entontecia a vista,
Lábios,
cujo sabor me entontecia a boca.
Oh
milagre! E, feliz, ajoelhava-me, em pranto,
Como
quem, por acaso, um dia, entrando as portas
De
um cemitério, vai achar vivas a um canto
As
suas ilusões que acreditava mortas,
E
ficava a pensar... como se não partir
Essa
fraca madeira ao teu toque violento,
Quando
com tanta febre a paixão se estorcia
Dentro
do pequenino e frágil instrumento!
Porque,
nesse instrumento, unidos num só peito,
Todos
os corações da terra palpitavam;
E
havia dentro dele, em lágrimas desfeito,
O
amor universal de todos os que amavam.
Rio
largo de sons, tapetado de flores,
A
harmonia do céu jorrava ampla e sonora;
E,
boiando e cantando, alegrias e dores
Iam
corrente em fora...
A
Primavera rindo esfolhava as capelas,
E
entornava no chão as ânforas cheirosas:
E
a canção acordava as rosas e as estrelas,
E
enchia de desejo as estrelas e as rosas.
E
a água verde do mar, e a água fresca dos rios,
E
as ilhas de esmeralda, e o céu resplandecente,
E
a cordilheira, e o vale, e os matagais sombrios,
Crespos,
e a rocha bruta exposta ao sol ardente:
—
Tudo, ouvindo essa voz, tudo cantava e amava!
O
amor, caudal de fogo atropelada e acesa,
Entrava
pelo sangue e pela seiva entrava,
E
ia de corpo em corpo enchendo a Natureza!
E
ei-lo triste, no chão, inanimado e frio,
O
teu pobre violino, o teu amor primeiro:
E
inda nas cordas há, como um leve arrepio,
A
última vibração do arpejo derradeiro...
Como,
ígneas e imortais, num redemoinho insano,
Longe,
a torvelinhar em céus inacessíveis,
Pairam
constelações virgens do olhar humano,
Nebulosas
sem fim de mundos invisíveis:
—
Assim no teu violino, artista! adormecido
À
espera do teu arco, em grupos vaporosos,
Dorme,
como num céu que não alcança o ouvido,
Um
mundo interior de sons misteriosos...
Suspendam-me
ao ar livre esse doce instrumento!
Deixem-no
ao sol, em glória, em delirante festa!
E
ele se embeberá dos perfumes que o vento
Traz
dos frescos desvãos do vale e da floresta.
Os
pássaros virão tecer nele os seus ninhos!
As
rosas se abrirão em suas cordas rotas!
E
ele derramará sobre os verdes caminhos
Da
antiga melodia as esquecidas notas!
Hão
de as aves cantar, hão de cantar as flores...
Os
astros sorrirão de amor na imensa esfera...
E
a terra acordará para os novos amores
De
nova primavera!
II
Porque,
como Terpandro acrescentou à lira,
Para
a tornar mais doce, uma corda mais pura,
Que
é a corda onde a paixão desprezada suspira,
E,
em lágrimas, a arder, suspira a desventura;
Também
desse instrumento às quatro cordas de ouro
O
Desespero, o amor, a Cólera, a Piedade,
—
Tu, nobre alma, chorando acrescentaste o choro
Eterno
e a eterna dor da corda da Saudade.
É
saudade o que sinto, e me enche de ais a boca,
E
me arrebata o sonho, e os nervos me fustiga,
Quando
te ouço tocar: saudade ansiosa e louca
Do
primitivo amor e da beleza antiga...
Para
trás! para trás! Basta um simples arpejo,
Basta
uma nota só... Todo o espaço estremece:
E,
dando aos pés do amado o derradeiro beijo
Quase
morta de dor, Madalena aparece...
Ao
luar de Verona, a amorosa cabeça
De
Julieta desmaia entre os braços do amante:
Não
tarda que a alvorada em fogo resplandeça,
E
na devesa em flor a cotovia cante...
Viúva
triste, que à paz do claustro pede alívio,
Para
a sua viuvez, para o seu luto imenso,
Branca,
sob o livor do escapulário níveo,
Heloísa
ergue as mãos, numa nuvem de incenso...
E
na suave espiral das melodias puras,
Vão
fugindo, fugindo os vultos infelizes,
Mostrando
ao meu amor as suas amarguras,
Mostrando
ao meu olhar as suas cicatrizes.
Canta!
o rio de sons que do seio de brota
E,
entre os parcéis da dor, corre, cascateando,
E
vai, de vaga em vaga, e vai, de nota em nota,
Ao
sabor da corrente os sonhos arrastando;
Que
pelo vale espalha a cabeleira inquieta,
Refrescando
os rosais, e, em leve burburinho,
Um
gracejo segreda a cada borboleta,
E
segreda um queixume a cada passarinho;
Que
a todo o desconforto e a todo o sofrimento
Abre
maternalmente o regaço das águas,
—
É o rio perfumado e azul do Esquecimento,
Onde
se vão banhar todas as minhas mágoas...
Outono.
Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre
o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono...
Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam,
caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por
que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste
este mar inabitado e morto,
Se
logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se
logo, ao ir da luz, abandonaste o porto?
A
água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A
espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
—
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E
eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E
contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado
no clarão nascente do arrebol...
I
BRANCA...
Vi-te
pequena: ias rezando
Para
a primeira comunhão:
Toda
de branco, murmurando,
Na
fronte o véu, rosas na mão.
Não
ias só: grande era o bando...
Mas
entre todas te escolhi:
Minh’alma
foi te acompanhando,
A
vez primeira em que te vi.
Tão
branca e moça! o olhar tão brando!
Tão
inocente o coração!
Toda
de branco, fulgurando,
Mulher
em flor! flor em botão!
Inda,
ao lembrá-lo, a mágoa abrando,
Esqueço
o mal que vem de ti,
E,
o meu ranços estrangulando,
Bendigo
o dia em que te vi!
Rosas
na mão, brancas... E, quando
Te
vi passar, branca visão,
Vi,
com espanto, palpitando
Dentro
de mim, esta paixão...
O
coração pus ao teu mando...
E,
porque escrevo me rendi,
Ando
gemendo, aos gritos ando,
—
Porque te amei! porque te vi!
Depois
fugiste... E, inda te amando,
Nem
te odiei, nem te esqueci:
—
Toda de branco... Ias rezando...
Maldito
o dia em que te vi!
II
AZUL...
Lembra-te
bem! Azul-celeste
Era
essa alcova em que amei.
O
último beijo que me deste
Foi
nessa alcova que o tomei!
É
o firmamento que a reveste
Toda
de um cálido fulgor:
—
Um firmamento, em que puseste
Como
uma estrela, o teu amor.
Lembras-te?
Um dia me disseste:
"Tudo
acabou!" E eu exclamei:
"Se
vais partir, por que vieste?"
E
às tuas plantas me arrastei...
Beijei
a fímbria à tua veste,
Gritei
de espanto, uivei de dor:
"Quem
há que te ame e te requeste
Com
febre igual ao meu amor?"
Por
todo o mal que me fizeste,
Por
todo o pranto que chorei,
—
Como uma casa em que entra a peste,
Fecha
essa casa em que fui rei!
Que
nada mais perdure e reste
Desse
passado embriagador:
E
cubra a sombra de um cipreste
A
sepultura deste amor!
Desbote-a
o inverno! o estio a creste!
Abale-a
o vento com fragor!
—
Desabe a igreja azul-celeste
Em
que oficiava o meu amor!
III
VERDE...
Como
era verde este caminho!
Que
calmo o céu! que verde o mar!
E,
entre festões, de ninho em ninho,
A
Primavera a gorjear!...
Inda
me exalta, como um vinho,
Esta
fatal recordação!
Secou
a flor, ficou o espinho...
Como
me pesa a solidão!
Órfão
de amor e de carinho,
Órfão
da luz do teu olhar,
—
Verde também, verde-marinho,
Que
eu nunca mais hei de olvidar!
Sob
a camisa, alva de linho,
Ta
palpitava o coração...
Ai!
coração! peno e definho,
Longe
de ti, na solidão!
Oh!
tu, mais branca do que o arminho,
Mais
pálida do que o luar!
—
Da sepultura me avizinho,
Sempre
que volto a este lugar...
E
digo a cada passarinho:
"Não
cantes mais! que essa canção
Vem
me lembrar que estou sozinho,
No
exílio desta solidão!"
No
teu jardim, que desalinho!
Que
falta faz a tua mão!
Como
inda é verde este caminho...
Mas
como o afeia a solidão!
IV
NEGRA...
Possas
chorar, arrependida,
Vendo
a saudade que aqui vai!
Vê
que linda, negro, da ferida
Aos
borbotões o sangue cai...
Que
a nossa história, assim relida,
O
nosso amor, lembrado assim,
Possam
fazer-te, comovida,
Inda
uma vez pensar em mim!
Minh’alma
pobre e desvalida,
Órfã
de mãe, órfã de pai,
Na
escuridão vaga perdida,
De
queda em queda e de ai em ai!
E
ando a buscar-te. E a minha lida
Não
tem descanso, não tem fim:
Quanto
mais longe andas fugida,
Mais
te vejo eu perto de mim!
Louco!
e que lúgubre a descida
Para
a loucura que me atrai!
—
Terríveis páginas da vida,
Escuras
páginas, — cantai!
Vim,
ermitão, da minha ermida,
Morto,
do meu sepulcro vim,
Erguer
a lápida caída
Sobre
a esperança que houve em mim!
Revivo
a mágoa já vivida
E
as velhas lágrimas... a fim
De
que chorando, arrependida,
Possas
lembrar-te inda de mim!
Chove.
Que mágoa lá fora!
Que
mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre
este rio que chora
Velhos
e eternos pesares.
E
sinto o que a terra sente
E
a tristeza que diviso,
Eu,
de teus olhos ausente,
Ausente
de teu sorriso...
As
asas loucas abrindo,
Meus
versos, num longo anseio,
Morrerão,
sem que, sorrindo,
Possa
acolhê-los teu seio!
Ah!
quem mandou que fizesses
Minh'alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?
Minh'alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?
Por
que é que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?
Tu
tens um nome celeste...
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?
Por
que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
— Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!
Desertas o nosso ninho?
— Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!
Fora
melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perdê-la tão cedo!
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perdê-la tão cedo!
Por
que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!
Antes!
Menor me seria
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida,
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida,
Não
deve depois, tranquila,
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...
Mas
junto a mim que te falta?
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!
Talvez
te chame a riqueza...
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!
Como
é que quebras os laços
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?
Como
hei de eu, de hoje em diante,
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?
Tem
pena de mim! tem pena
De alma tão fraca! Como há de
Minh'alma, que é tão pequena,
Poder com tanta saudade?!
De alma tão fraca! Como há de
Minh'alma, que é tão pequena,
Poder com tanta saudade?!
(Lenda
do Reno, Grandmougin)
I
O CASTELO
Sobre os rochedos, longe, o castelo aparece,
Dominando a extensão das florestas sombrias.
A tarde cai. O vento abranda. O ar escurece.
E Vilfredo caminha entre as neblinas frias.
Sobre os rochedos, longe, o castelo aparece,
Dominando a extensão das florestas sombrias.
A tarde cai. O vento abranda. O ar escurece.
E Vilfredo caminha entre as neblinas frias.
Vai
vê-la... E estuga o passo. Alto e silencioso,
Abre o castelo, em fogo, os vitrais das janelas.
Nas ameias, manchando o céu caliginoso,
Aprumam-se perfis de imóveis sentinelas.
Abre o castelo, em fogo, os vitrais das janelas.
Nas ameias, manchando o céu caliginoso,
Aprumam-se perfis de imóveis sentinelas.
Vilfredo
vai ouvir a voz da sua Dama...
Mas, no seu coração perturbado, parece
Que vive, em vez do amor, essa ligeira chama,
Que arde apenas um dia, arde e desaparece...
Mas, no seu coração perturbado, parece
Que vive, em vez do amor, essa ligeira chama,
Que arde apenas um dia, arde e desaparece...
E
o arruinado solar, refletido no Reno,
Sobre o qual paira e pesa um sonho sobre-humano,
Sobe, entre os astros, só, furando o céu sereno,
Com a calma e o esplendor de um velho soberano.
Sobre o qual paira e pesa um sonho sobre-humano,
Sobe, entre os astros, só, furando o céu sereno,
Com a calma e o esplendor de um velho soberano.
II
AS FADAS DA LAGOA
Vilfredo
conheceu o amor nos braços dela...
Teve-a nua, a tremer, nos braços, nua e fria!
Teve-a nos braços, louca, apaixonada e bela!
Mas parte, alucinado, antes que aponte o dia...
Teve-a nua, a tremer, nos braços, nua e fria!
Teve-a nos braços, louca, apaixonada e bela!
Mas parte, alucinado, antes que aponte o dia...
É
que uma outra paixão o descuidado peito
Lhe entrou. Paixão cruel, loucura que o atordoa,
Desde o momento em que, formosas, sobre o leito
Das águas calmas, viu as fadas da lagoa.
Lhe entrou. Paixão cruel, loucura que o atordoa,
Desde o momento em que, formosas, sobre o leito
Das águas calmas, viu as fadas da lagoa.
Parte...
À margem fatal da lagoa das fadas
Chega, e em êxtase fica, a riba em flor mirando.
Um ligeiro rumor de vozes abafadas
Aumenta... E exsurge da água o apaixonado bando.
Chega, e em êxtase fica, a riba em flor mirando.
Um ligeiro rumor de vozes abafadas
Aumenta... E exsurge da água o apaixonado bando.
Corre
Vilfredo, em febre, a apertá-las ao seio,
E despreza o passado e esquece o juramento:
Beija-as, e, na expansão do carinhoso anseio,
Imola toda a vida aos beijos de um momento.
E despreza o passado e esquece o juramento:
Beija-as, e, na expansão do carinhoso anseio,
Imola toda a vida aos beijos de um momento.
Para
os seus corpos ter, toda a alma lhes entrega:
E, na alucinação do gozo em que se inflama,
Por esse amor, por essa embriaguez renega
O Deus dos seus avós, o amor da sua Dama...
E, na alucinação do gozo em que se inflama,
Por esse amor, por essa embriaguez renega
O Deus dos seus avós, o amor da sua Dama...
III
O REMORSO
Delira.
Mas, depois do delírio sublime,
O remorso, imortal, nasce com o arrebol.
E ele mede a extensão do seu monstruoso crime,
E esconde a face à luz vingadora do sol.
O remorso, imortal, nasce com o arrebol.
E ele mede a extensão do seu monstruoso crime,
E esconde a face à luz vingadora do sol.
Busca
assustado a paz, busca chorando o olvido...
À volúpia infernal o coração vendeu,
E o inferno lhe reclama o coração vendido,
Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu.
À volúpia infernal o coração vendeu,
E o inferno lhe reclama o coração vendido,
Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu.
Quer
rezar, quer voltar ao seu fervor primeiro,
Quer nas lajes, de rojo, abominando o mal,
Ser de novo cristão, fiel e cavaleiro:
Mas não encontra paz na paz da catedral.
Quer nas lajes, de rojo, abominando o mal,
Ser de novo cristão, fiel e cavaleiro:
Mas não encontra paz na paz da catedral.
Pobre!
até no palor das faces maceradas
Das monjas, cuida ver as faces que beijou;
Ah! seios de marfim! ah! bocas perfumadas!
Recordação cruel de um Éden que acabou!
Das monjas, cuida ver as faces que beijou;
Ah! seios de marfim! ah! bocas perfumadas!
Recordação cruel de um Éden que acabou!
Parte
só, sem destino, errando, a passo incerto,
Por montes e rechãs, no inverno e no verão,
E por anos sem conta habitando o deserto,
Sem lágrimas no olhar, sem fé no coração.
Por montes e rechãs, no inverno e no verão,
E por anos sem conta habitando o deserto,
Sem lágrimas no olhar, sem fé no coração.
Das
florestas sem fim sob a abóbada escura
Ouve, nos alcantis de em torno, a água rolar;
Sobre ele, a longa voz das árvores murmura,
E o vendaval retorce os ramos negros no ar.
Ouve, nos alcantis de em torno, a água rolar;
Sobre ele, a longa voz das árvores murmura,
E o vendaval retorce os ramos negros no ar.
Mas
à fera, ao inseto, ao limo verde, ao vento,
Ao sol, ao rio, ao vale, à rocha, à serpe, à flor
É em vão que Vilfredo implora o esquecimento
Do seu amor cruel, do seu horrendo amor...
Ao sol, ao rio, ao vale, à rocha, à serpe, à flor
É em vão que Vilfredo implora o esquecimento
Do seu amor cruel, do seu horrendo amor...
IV
O CASTIGO
Volta... Nem luta já contra o crime que o atrai.
Velho e trôpego vem, mendigo esfarrapado,
E exânime, por fim, num calafrio, cai
Sem consciência, ao pé das águas do Pecado.
Volta... Nem luta já contra o crime que o atrai.
Velho e trôpego vem, mendigo esfarrapado,
E exânime, por fim, num calafrio, cai
Sem consciência, ao pé das águas do Pecado.
Calma.
A noite caiu. Nem um pássaro voa.
Não piam no silêncio as aves agoireiras.
Mas palpitam, luzindo, à beira da lagoa,
Fogos-fátuos sutis sobre as ervas rasteiras.
Não piam no silêncio as aves agoireiras.
Mas palpitam, luzindo, à beira da lagoa,
Fogos-fátuos sutis sobre as ervas rasteiras.
E,
então, Vilfredo vê, presa de um medo
Do denso turbilhão dos fogos repentinos,
Com tentações no olhar e convites na voz
Surgirem turbilhões de corpos femininos.
Do denso turbilhão dos fogos repentinos,
Com tentações no olhar e convites na voz
Surgirem turbilhões de corpos femininos.
E
o Inferno pela voz dos fogos-fátuos fala!
Vilfredo foge. O horror vai com ele, inclemente!
Foge. E corre, e vacila, e tropeça, e resvala,
E levanta-se, e foge alucinadamente...
Vilfredo foge. O horror vai com ele, inclemente!
Foge. E corre, e vacila, e tropeça, e resvala,
E levanta-se, e foge alucinadamente...
Em
vão! pesa sobre ele um destino fatal:
E o louco, em todo o horror dos campos tenebrosos,
Vê fechar-se e prendê-lo a cadeia infernal
Da infernal multidão dos Elfos amorosos...
E o louco, em todo o horror dos campos tenebrosos,
Vê fechar-se e prendê-lo a cadeia infernal
Da infernal multidão dos Elfos amorosos...
Sobre minh'alma, como sobre um trono,
Senhor brutal, pesa o aborrecimento.
Como tardas em vir, último outono,
Lançar-me as folhas últimas ao vento!
Oh!
dormir no silêncio e no abandono,
Só, sem um sonho, sem um pensamento,
E, no letargo do aniquilamento,
Ter, ó pedra, a quietude do teu sono!
Só, sem um sonho, sem um pensamento,
E, no letargo do aniquilamento,
Ter, ó pedra, a quietude do teu sono!
Oh!
deixar de sonhar o que não vejo!
Ter o sangue gelado, e a carne fria!
E, de uma luz crepuscular velada,
Ter o sangue gelado, e a carne fria!
E, de uma luz crepuscular velada,
Deixar
a alma dormir sem um desejo,
Ampla, fúnebre, lúgubre, vazia
Como uma catedral abandonada!...
Ampla, fúnebre, lúgubre, vazia
Como uma catedral abandonada!...
A
VOZ DO AMOR
Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.
E
quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...
É
a voz do amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;
E
vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à
sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da
bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
— Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh'alma se abrirá como um vulcão.
E,
em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita
sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas
horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...
REQUIESCAT
Por
que me vens, com o mesmo riso,
Por
que me vens, com a mesma voz,
Lembrar
aquele Paraíso,
Extinto
para nós?
Por
que levantas esta lousa?
Por
que, entre as sombras funerais,
Vens
acordar o que repousa,
O
que não vive mais?
Ah!
esqueçamos, esqueçamos
Que
foste minha e que fui teu:
Não
lembres mais que nos amamos,
Que
o nosso amor morreu!
O
amor é uma árvore ampla, e rica
De
frutos de ouro, e de embriaguez:
Infelizmente,
frutifica
Apenas
uma vez...
Sob
essas ramas perfumadas,
Teus
beijos todos eram meus:
E
as nossas almas abraçadas
Fugiam
para Deus.
Mas
os teus beijos esfriaram.
Lembra-te
bem! lembra-te bem!
E
as folhas pálidas murcharam,
E
o nosso amor também.
Ah!
frutos de ouro, que colhemos,
Frutos
da cálida estação,
Com
que delícia vos mordemos,
Com
que sofreguidão!
Lembras-te?
os frutos eram doces...
Se
ainda os pudéssemos provar!
Se
eu fosse teu... se minha fosses,
E
eu te pudesse amar...
Em
vão, porém, me beijas, louca!
Teu
beijo, a palpitar e a arder,
Não
achará, na minha boca,
Outro
para o acolher.
Não
há mais beijos, nem mais pranto!
Lembras-te?
quando te perdi
Beijei-te
tanto, chorei tanto,
Com
tanto amor por ti,
Que
os olhos, vês? já tenho enxutos,
E
a minha boca se cansou:
A
árvore já não tem mais frutos!
Adeus!
tudo acabou!
Outras
paixões, outras idades!
Sejam
os nossos corações
Dois
relicários de saudades
E
de recordações.
Ah!
esqueçamos, esqueçamos!
Durma
tranquilo o nosso amor
Na
cova rasa onde o enterramos
Entre
os rosais em flor...
SURDINA
No
ar sossegado um sino canta,
Um
sino canta no ar sombrio...
Pálida,
Vênus se levanta...
Que
frio!
Um
sino canta. O campanário
Longe,
entre névoas, aparece...
Sino,
que cantas solitário,
Que
quer dizer a tua prece?
Que
frio! embuçam-se as colinas;
Chora,
correndo, a água do rio;
E
o céu se cobre de neblinas.
Que
frio!
Ninguém...
A estrada, ampla e silente,
Sem
caminhantes, adormece...
Sino,
que cantas docemente,
Que
quer dizer a tua prece?
Que
medo pânico me aperta
O
coração triste e vazio!
Que
esperas mais, alma deserta?
Que
frio!
Já
tanto amei! já sofri tanto!
Olhos,
por que inda estais molhados?
Por
que é que choro, a ouvir-te o canto,
Sino
que dobras a finados?
Trevas,
caí! que o dia é morto!
Morre
também, sonho erradio!
A
morte é o último conforto...
Que
frio!
Pobres
amores, sem destino,
Soltos
ao vento, e dizimados!
Inda
vos choro... E, como um sino,
Meu
coração dobra a finados.
E
com que mágoa o sino canta,
No
ar sossegado, no ar sombrio!
—
Pálida, Vênus se levanta.
Que
frio!
ÚLTIMA
PÁGINA
Primavera.
Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa
palpitação de flores e de ninhos.
Dourava
o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te,
Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.
Verão.
(Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos.
Tentou-nos
o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E
o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó
Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...
Veio
o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua,
presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te,
Branca?) ardia a tua carne em flor...
Carne,
que queres mais? Coração, que mais queres?
Passam
as estações e passam as mulheres...
E
eu tenho amado tanto! e não conheço o amor!
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