Poema: "O Despertar"
Autor: Alfred de Musset
Tradutor: Joaquim Serra
Ano: 1868
Revisão ortográfica: Iba Mendes (2020)
O DESPERTAR
(ALFRED DE MUSSET)
Desperta, ó minha bela,
Que, embaixo da janela,
Do teu ginete as vozes
Estrugem, quais trovões!
Dos lestos picadores,
Nas mangas de mil cores,
Apoiam os pés ligeiros
Os rápidos falcões!
São prontos os teus pajens.
Que belas equipagens!
As plumas dos sombreiros
Flutuam tão gentis!
Conduzem as hacaneias
A destra, pelas rédeas,
E trazem em punho e cinta
Venábulos e fuzis!
No prado pula e brilha
Veloz, leve matilha;
São galgos que farejam
A fera no covil!
Desperta, minha amada,
Te espera o teu ginete;
Serena a madrugada
Raiou no céu de anil!
Agora que te vestes,
Que linda te preparas,
Esconde as pomas raras,
Teus seios de marfim...
E deixa os olhos cúpidos,
Em meio dos adornos,
Adivinhar as formas,
Os túmidos contornos,
Nas pregas do cetim!
Compõe o teu toucado,
Arranja esses cabelos,
Em fúlgidos novelos,
Em flácidos bandós,
Mas crê, que o lindo ornato,
Não os torna mais brilhantes,
Do que quando os desato
Assim que estamos sós!
Esconde os teus encantos,
Nas dobras da mantilha,
Os teus primores tantos,
Que fazem delirar!
Vem! deixa que eu te eleve
Bem como uma criança,
E no selim, de leve,
Eu vá te colocar!
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