Poema: "A Luva"
Autor: Johann Christoph Friedrich von Schiller
Tradutor: Joaquim Serra
Tradutor: Joaquim Serra
Ano: 1868
Revisão ortográfica: Iba Mendes (2020)
Revisão ortográfica: Iba Mendes (2020)
Na jaula uiva o leão, cansado de esperar.
Chegou enfim o Rei, tomou o seu lugar;
Chegaram os cortesões. Espalham brilho e chamas
Do circo em derredor, gentis, formosas damas.
Rolou férreo portão, o Rei dera o sinal.
Na arena entra o leão com passo triunfal.
Percorre-a com furor, detém-se, avança, para.
Eriça a juba além, as fauces escancara.
Por fim exasperado atira-se no chão.
Encolhe e estende os nervos. O Rei levanta a mão.
Repete-se o sinal, investe do outro lado
Com salto mui veloz um tigre mosqueado.
Encontram-se no circo os dois monstros cruéis:
O tigre estremecendo da cauda faz anéis,
Medonhos uivos dá, lançando olhos ardentes
E bate sem cessar os navalhados dentes...
Por junto do leão passou, torna a passar!
Novo sinal do Rei, e sai fogoso par
De feros leopardos, que em torno corre e gira...
O tigre sobre os dois carnívoros se atira.
Levanta-se rugindo e rápido o leão,
E todos frente à frente tomaram posição!
A arena está revolta, o eco além rebrama,
Naquele instante cai a luva de uma dama
Ao pé dos animais. A linda Beatriz
Sorrindo e desdenhosa ao namorado diz:
“Crerei no vosso amor, ilustre cavalheiro,
“Se fordes levantar a luva do terreiro.”
De chofre ele se ergueu, do circo em meio e já,
Caminha firme, o rosto nem desmaiado está...
Ajunta a luva ali, e sobe enquanto dura
O pasmo dos que veem tão súbita loucura!
Anseia a turba, o moço tornou-se único alvo
Das vistas. Houve um grito ao verem que ele é salvo!
Vaidosa ao seu encontro lançou-se Beatriz,
Porém o cavalheiro a faz parar e diz:
— Estou pago do que fiz... de vós não quero nada.
Lançou-lhe a luva aos pés, depois desceu a escada.
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