Nicolau Tolentino, resumo biográfico
Nicolau Tolentino de Almeida, 4º filho
do Dr. José de Almeida Soares, nasceu na casa onde então moravam seus pais, à
Calçada de Santo André em Lisboa, alguns minutos depois da meia-noite do dia 9
de setembro do ano de 1740 e foi batizado na igreja paroquial dos Anjos a 15 do
mesmo mês e ano, sendo seu padrinho o filho primogênito dos Condes de Villa
Flor.
Foi terminar os seus estudos
preparatórios em Coimbra, e ao contar vinte anos e vinte dias de idade,
matriculou-se, pela primeira vez, na Universidade, na faculdade de leis, em 1
de outubro de 1760, continuando a fazê-lo no mesmo dia e mês dos anos 1761,
1762, 1763, 1765 e 1769.
Tolentino confessa nas suas obras, que
frequentara a dita Universidade sete anos, mas o que verdadeiramente consta dos
livros competentes, é que foram tão somente seis, havendo o intervalo de um em
1764 e a ausência de três em 1766, 1767 e 1768. Pode ser que o poeta somasse
sobre os referidos seis um de preparatórios.
Em 20 de agosto de 1767 obteve carta
de professor régio de retórica e poética, com o ordenado, avultado para aquele
tempo.
Não podemos colher certeza se o poeta
completou, ou não, a sua formatura, mas é de crer que sim, visto ter ido
matricular-se pela sexta vez em 1769, depois de ter estado durante dois anos a
exercer o professorado em Lisboa.
Em 19 de janeiro de 1780 é nomeado
sócio supranumerário da Academia Real das Ciências de Lisboa; e, em 21 de julho
de 1781 é nomeado oficial praticante da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino,
sem nenhum vencimento.
Em 29 de abril de 1793, por ocasião do
nascimento da princesa da Beira a Sra. D. Maria Tereza, foi agraciado com o
hábito de Cristo. Em 1801 obteve imprimir gratuitamente na oficina régia a 1ª edição
das suas obras, que a generosidade dos subscritores fez render uns doze mil
cruzados. Por decreto de 31 de outubro de 1803, teve a aposentação de professor
régio.
Em 22 de junho
de 1811 faleceu na casa à rua dos Cardais de Jesus.
O poeta Tolentino era de estatura alta, cheio de corpo, de rosto redondo, pele clara e rosada, olhos pardos, nariz regular, boca larga e engraçadíssima, dentes belos, andar nobre e pausado.
O poeta Tolentino era de estatura alta, cheio de corpo, de rosto redondo, pele clara e rosada, olhos pardos, nariz regular, boca larga e engraçadíssima, dentes belos, andar nobre e pausado.
Era taful no trajar e assas prendado.
Exercitado no jogo das armas brancas,
tinha franco acesso nas casas de toda a juvenil nobreza do seu tempo, onde tais
exercícios eram quase exclusivo passatempo.
Durante a sua frequência na
Universidade de Coimbra, portou-se como bom estudante, mas um pouco cabula, e não havia mesada que lhe
chegasse. Foi ali, o que mais tarde confirmou, um grande gastador.
Pela morte de sua mãe em 1767
interrompeu os seus estudos universitários, já por ser amicíssimo dela, já
porque seu pai caiu num estado tal de angústia, pelo mesmo motivo, que descurou
completamente o seu mister de advogado, minguando-lhe assim e por algum tempo
os necessários recursos.
Tolentino, nesse apertado lance,
tratou de obter emprego e é desse tempo que datam as suas exageradas
choradeiras. Nunca foi jogador de profissão, como alguém interpretou pelos seus
versos; jogava sim, por mera distração, como era uso em geral jogar-se na
sociedade lisboeta. Cremos mesmo, que esse entretenimento, para ele, era um
meio de captar simpatias entre os fidalgos, expondo praticamente o seu
finíssimo trato à prova dos que lhe
poderiam ser úteis.
Logo que foi despachado professor de
retórica, alugou casa na rua da Rosa e mais tarde na dos Fanqueiros, mas com a
capacidade estritamente indispensável para dar aula, porque a sua assistência
permanente foi, até 1780, em casa de seu pai.
Conviveu dentro e fora da Academia com
seu primo, o Dr. José Bonifácio de Andrada e Silva — o patriarca da
independência do Brasil, onde se lhe levantou uma estátua.
Não teve relações íntimas com Bocage,
porque quando este veio pela primeira vez a Lisboa em 1782, contando apenas 16
anos de idade, já Tolentino passava dos 42 e achava-se colocado numa posição
séria demais, para entrar em camaradagem com as verduras que levaram aquele
poeta a seguir o caminho da Índia.
Em 1783, logo que teve a efetividade
na secretaria de estado, foi morar para a Junqueira, montando desde logo
carruagem, como usavam os do mesmo ofício, e vivendo largamente em companhia de
sua irmã D. Ana e de seu sobrinho, o beneficiado Gonçalo José Maria, filho da
dita senhora. Nenhum dos outros irmãos do poeta viveu em sua companhia.
A maior proteção e amizade que teve
Nicolau Tolentino e sua família, foi a da dos viscondes de Vila Nova da
Cerveira.
Foi, desde a entrada dos franceses em
Portugal, que Tolentino perdeu a galhofa e se tornou taciturno; mas o que
sobretudo o acabrunhou, e por assim dizer lhe abriu a cova, foi a morte de sua
irmã D. Ana, em o dia 1º de março de 1811, essa, que havia sido a sua constante
companheira durante 31 anos! Este golpe foi deveras o mais profundo; não lhe
pôde resistir mais que 113 dias! Assim faleceu Tolentino, como já dissemos, na
casa à rua dos Cardais de Jesus, para onde tinha vindo da Junqueira em 1808, e apenas
ali residiu 3 anos. Foi sepultado não pobremente, mas como o eram as pessoas
abastadas, em carneiro dentro da igreja das Mercês.
Do seu testamento, fechado em 2 de
julho de 1808, consta que legara aos sobrinhos e a uma sua criada a soma de 350
mil réis.
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VISCONDE DE SANCHES DE BAENA
VISCONDE DE SANCHES DE BAENA
"Memórias
de Tolentino" (1866)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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