A poesia de Adélia Josefina de Castro
Se é verdade, inconteste mesmo,
que todos nós temos sensibilidade suscetível de receber as projeções quase que
divinais do amor, desse mesmo amor que desce do céu para tornar sublimes as coisas
da terra, é fora de dúvida que, a muitos poucos, no seio da grande comunidade humana,
são ofertadas as possibilidades de estereotipar com os recursos da palavra, da
cor, da forma ou do som, o que de grandioso representa esse amor quando
vitaliza a nossa psique.
Esses poucos são exatamente
aqueles que sabem o que pode fazer a tradução desses sentimentos, projetando-os
no poema, no quadro, na estátua e na melodia.
Dona Adélia Josefina de Castro
Fonseca encontra-se precisamente no grupo daqueles que sabem descrever com
segurança tudo aquilo que sentem, lançando mão da palavra escrita. Não se trata
de um agrupamento de palavras, subordinando-as às regras gramaticais, e sei de
um ajustamento rítmico de palavras aos serviços de uma exposição, seguindo no
mesmo passo às várias nuanças das belezas que se não veem porque se sentem
apenas. A saudade é bem uma destas belezas. Ninguém a ver, não nos consta que
tenha sido vista por pessoa alguma e, entretanto, não há mortal que não a tenha
sentido. Dona Adélia Josefina foi envolvida por este sentimento exatamente
quando seu marido teve que se afastar para plagas distantes. Qualquer um de nós,
desde que fosse feliz na vida conjugal, teria sentido a mesma coisa; narrá-lo,
entretanto, é que não é fácil; fazê-lo em bons versos, ainda é mais difícil. Dona
Adélia consegue fazê-lo em uma poesia que, pertencendo ao foro íntimo, passou para
o acervo das letras poéticas nacionais.
Essa nossa ilustre patrícia pode
e deve estar classificada entre as mulheres intelectuais de nossa terra que
viveram do verso para o verso. Seu livro "Ecos de Minha Alma",
revela-nos a presença de uma poetisa que, subordinada às regras técnicas, não
se escravizavam tanto a essas mesmas regras, a ponto de sacrificar a espontaneidade,
a fluência e a pureza do seu pensamento. Pedindo auxílio aos sonhos, subia por
vezes aos páramos do irreal. Não fazia, entretanto, a ponto de perder o contato
com as realidades da vida.
Em Dona Adélia Josefina nós
apreciamos a verdadeira artista da palavra. Para fazermos um julgamento do
valor de sua produção, não se torna necessária a consulta de toda a sua obra,
tanto a de "Ecos de Minha Alma", editada em 1866, quanto a de outras
obras e poesias esparsas publicadas nos mais variados jornais e nas mais
diversas revistas. Basta, para uma apreciação de tal espécie, a simples leitura
de um soneto como aquele que se referiu a Luís de Camões no transcurso de mais
um ciclo centenário do grande modelador da poesia clássica em língua portuguesa.
Capistrano de Abreu foi casado
com uma filha de D. Josefina de Castro Fonseca.
O tempo geralmente impiedoso no
alquebrantamento de nossas forças, arreceou-se de investir contra a nossa
grande poetisa, cuja obra se estende sobre duas metades de dois séculos.
Afirmamo-lo porque em 1921, aos noventa e quatro anos, vem a falecer no Rio de
janeiro aquela que, em pleno fragor da Guerra do Paraguai, ofertou às
populações ledoras um livro que muito confortou aos que seguiram para os embates
da luta.
Noventa e quatro viveu ela, estamos
certos que o sonho, intimamente ligado à fantasia, a teria feito viver outros
tantos se assim ela o desejasse. Ela não
o quis, todavia. Os céus a chamavam e a terra lhe afirmava a perpetuidade de
seu nome na plasmação positiva de sua obra notável.
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