Os franceses no Maranhão
A
primeira consequência do domínio espanhol no Brasil foi dar-lhe os inimigos de
Espanha por próprios. Não perdeu, por isso, os antigos. E agora, a França que
fora por D. Antônio, Prior do Crato, contra Filipe II, tinha a mais, ser contra
Espanha, no mesmo Brasil. Rechaçados ao sul, em 1555, na “França Antárctica”,
ia começar, no Maranhão, a “França Equinocial”.
Desde
o fim do século anterior, 1594, que se haviam estabelecido, na ilha do
Maranhão, Jacques Riffault e Charles des Vaux, armadores de Dieppe, em
comunicação com o gentio, com o qual traficavam. Trataram de interessar a Coroa
no estabelecimento, de onde, já em 1612, nova expedição, sob o comando de
Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, que funda a cidade de São Luís,
nome dado em honra do Delfim, que seria depois Luiz XIII. Vieram fidalgos e
homens de guerra, católicos e protestantes, entre os colonos, e o capuchinho
Fr. Claude d’Abbeville, que escreveu um livro de história da empresa e de suas
observações na terra ocupada. Um dos chefes, Francisco de Rassily, tornou à
França a promover novos recursos e, com ele, Claude d’Abbeville e alguns
índios, levados por amostra.
O
livro do capuchinho, impresso em Paris, em 1614, a História da
Missão dos Padres Capuchinhos na ilha do Maranhão, é um dos
nossos clássicos sobre etnografia indígena. Seguiu-se-lhe, em 1615, a publicação da obra
do superior da Missão, o Padre Yves d’Evreux, continuando a de d’Abbeville,
informação dos Tupinambás do norte: a edição foi completamente destruída por
interesses domésticos das Cortes ora parentas, de França e Espanha e, só no
século XIX, tirou Ferdinand Denis, de um raríssimo exemplar achado na
Biblioteca de Paris, edição de 1864.
A
colônia, que prosperava, tinha os seus dias contados. Jerônimo de Albuquerque
fundara, próximo, o forte de Camocim. Martim Soares Moreno havia fundado
Fortaleza, núcleo de colonização no Ceará. Albuquerque, que tornara a
Pernambuco, preparou expedição e desembarcou 500 homens em Guaxenduba,
derrotando os Franceses, com os quais tratou pedir-se, sobre o litígio, a
decisão pelas cortes de França e Espanha. Ocorreu porém Alexandre de Moura com
reforços e maior patente, que não respeitou o trato e, dando combate, venceu de
novo os Franceses, que tiveram de retirar, sem maior perseguição, deixando
apenas a artilharia. (Os nossos eram portugueses e nada tinham com tais Cortes,
de França e Espanha).
Em
1615, estava o porto de São Luís adquirido e em 1616 Caldeira Castelo Branco,
mandado a colonizar o Pará, com 150 homens e artilharia para forte, fundou
Belém. O primeiro governador do novo Estado do Maranhão (Ceará, Piauí, Maranhão
e Pará) criado em 1521, foi Francisco Coelho de Carvalho, despachado em 24 e
mandado tocar em Pernambuco, com socorro e tropas e munições para Matias de
Albuquerque, capitão-mor de Pernambuco, receoso de invasão holandesa.
Funcionários para o novo estado, famílias para núcleo de povoamento e missão de
capuchos sob ordens de Fr. Cristóvão de Lisboa, foram ter ao Ceará e, depois,
ao Maranhão. Em 1616 o Brasil atingia o seu limite norte ocupado até o Pará. Os
Franceses teriam de consolar-se, e foi o que fizeram, indo estabelecer-se além,
na Guiana Francesa. Também Holandeses e Ingleses: mas isso é lá com a Espanha.
(Nós, apesar de tudo, continuávamos Portugal).
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