O “Brasil
esquecido”
Depois
disso, desse meio século contínuo de preocupações, quase ano a ano, para
exploração, reconhecimento, caça aos invasores, feitorias fundadas, tentame das
capitanias, governo geral e padres jesuítas provendo ao Brasil, educando a
gente para servi-lo... é profundamente injusto e doloroso ouvir, e ler, de um
ingrato nativismo, — que vive, ainda hoje, como que a fazer sempre a
independência do Brasil — ouvir, e ler, que o Brasil foi esquecido.
A
evidência foi outra, documentalmente. Nenhuma nação colonizadora fez mais ou
melhor com as suas colônias. A Espanha, a Holanda, a Inglaterra, ainda hoje,
não se podem comparar a Portugal. Nenhuma assimilou o indígena. Nenhuma deu
identidade moral ao aborígene e ao colonizador, em nação uma e a mesma,
idêntica à mãe Pátria, como Portugal. Vimos que não podia fazer muito e não
poderia fazer mais: fez tudo o que pôde. Sem gente, sem dinheiro, cercado de invejosos
e inimigos. A terra era escassa e quase nada produzia. Apenas pau-brasil,
mercadoria pobre. Simonsen dá exemplo de uma nau, do valor aquisitivo de hoje,
valendo mais de 1.500 contos, que carregava apenas 1.000 contos de brasil: de
especiarias da Índia seriam 10.000 contos. Vir ao Brasil negociar era perder
dinheiro e tempo: mas vinham. O mesmo, diz aquele Padre Rui Pereira aludido,
quanto ao moral, mas os Jesuítas vieram. E havia Franceses: Dom João III
alegou, em 1530, que os prejuízos dados por eles andavam por mais de 100.000
contos, de hoje. Aquele citado historiador calcula que, de 1500 e 1532, o valor
do trato do pau-brasil orçaria por 120.000 contos, dos quais a Coroa tinha
30.000. Para Portugal, o Brasil foi deficitário nas primeiras décadas. Simonsen,
que descobriu secretas ignorâncias de história no Brasil, com a decifração da
economia, diz, cheio de razões e números, que sequer o lucro da Coroa não cobria as despesas com a defesa do domínio.
E
não havia só defender, porém explorar e constituir, fundar e produzir. Povoar,
sobretudo. Para as Índias era defeso irem mulheres portuguesas: mas vieram para
aqui, vieram ricos-homens e fidalgos e a arraia miúda misturou-se com os
portadores dos nomes mais nobres do reino. E isto sem proveito, como os pais,
dignos desse nome, que criam os filhos, sem sequer pensarem no que vão dar,
cuidando apenas em fazê-los o melhor possível. Como cumprindo um dever.
Portugal,
comparado a qualquer das nações colonizadoras de ontem ou de hoje, foi
benemérito; julgado em si, teve a abnegação que só tem, na linguagem humana, um
epíteto: foi materno... Como essas criaturas divinas que morrem, ou ficam
perpetuamente enfermas, esvaídas de fadiga e fraqueza, por terem a glória de
haver criado um filho muito grande... Filho às vezes ingrato: também é da
natureza.
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