Escravidão Negra
A
escravidão vermelha tinha os impedimentos canônicos e reais, de que os Padres
Jesuítas eram os acérrimos intérpretes na Colônia: a expulsão dos Padres
Jesuítas de São Paulo em 1640 e do Padre Antônio Vieira e seus companheiros, em
1661, do Maranhão, é a maior finta do duelo que se veio realizando entre os
reinóis é os padres. Por isso mesmo, e por tudo, a escravidão negra ocorreu.
Quando Gil Eanes aprisionou alguns negros nas Canárias, o Infante Dom Henrique,
verberando o procedimento, mandara restituí-los à liberdade, na terra de
origem. Depois, quisera de Afonso Baldaia e de Antão Gonçalves que filhassem
alguu para lhes
saber a língua e tomar informações. Finalmente, com a consciência coletiva, a
consciência individual condescendeu. Salvava-se a alma, aos negros escravos...
Como na antiguidade, a escravidão continuava, e lícita, portanto. Portugal e D.
Henrique pactuaram: já não recusa os seus 45, vintena dos que trouxe Lançarote
de Lagos... O Infante chegou a negociante de escravos, como seu sobrinho Afonso
V.
À
América vieram os negros, desde 1501, à reclamação de Nicolau Ovando, de
Hispaníola. Las Casas que defende o índio, esse mesmo, aconselha a escravidão
negra. Os nossos Jesuítas fecham os olhos à escravidão africana, apenas
defendendo dela os americanos. Supõe-se que são de 35 os primeiros,
introduzidos em São Vicente: a permissão, contudo, à importação, é de 1549.
Angola torna-se mercado fornecedor e, de tais interesses, dirá Vieira: sem negros não há Pernambuco e sem Angola
não há negros (Cartas). Com efeito, assim o entendem também os
flamengos, que, tomando Pernambuco, vão logo tomar Angola. E quando os nossos
retomaram Pernambuco, do Rio já tinham ido retomar Angola. E quando vimos à
Independência, Angola quis vir conosco. Contudo a Bahia preferia os negros da
Mina, Sudaneses, mais fortes, robustos, ativos, aceados e belos do que os
Bantus angoleses, menos rebeldes e mais dóceis à servidão, revendidos para o
norte (Pernambuco, Maranhão, Pará) e para o sul (Rio, São Paulo). Esta
preferência baiana é documentada por Silva Correa, na História de
Angola e pelos nossos
Nina Rodrigues e Wanderley Pinho. Talvez, daí, a beleza das negras baianas a
ponto de, no Sul, chamar-se a uma bonita negra uma “Baiana”. Os mestiços delas
derivados são tão formosos que Spix e Martius dizem ter ouvido trova popular
que isso denuncia: uma mulata bonita, não
precisa mais rezar, abasta os mimos que tem, para sua alma se salvar.
A
escravidão seria um rio negro, de África ao Brasil, por mais de três séculos.
Calcula Simonsen que muito se exagerou a importação deles em número, e que
apenas 3.300.000 Africanos foram os importados entre 1530 e 1850. Esses negros,
a fração que chegava... trabalhadores dóceis, deram um contingente à família,
pela mestiçagem com brancos e índios, pelas negras domésticas, as mucamas e as
amas de leite e, principalmente, foram a mão de obra do Brasil colonial. Nem
sempre dóceis, esses negros. Com as guerras holandesas, enquanto os brancos
brigavam, iam eles fugindo dos engenhos e forrando-se no mato, em colônias ou
quilombos ou mocambos, dos quais o mais notório foi o de Palmares. Faziam
depredações em torno, roubavam gado e utilidades e abrigados em cercas de pau a
pique, sob as ordens de um chefe ou Zumbi, recomeçavam uma civilização africana
na América. Já pelas ameaças convizinhas, já pela necessidade do braço escravo,
os Pernambucanos, cessada a Guerra, deram combate a estes quilombos. Apelaram
para os Paulistas, caçadores de índios e com Domingos Jorge Velho e os seus
empreenderam a destruição dos mocambos, desde 1687. O mais famoso, de Palmares,
foi vencido em 1695. Por anos adiante iriam aqui e ali, em Alagoas e
Pernambuco, terminando os derradeiros.
A
economia do século XVI funda-se nessa escravidão. Por essa economia o autor dos Diálogos das
Grandezas do Brasil já tem ênfase
brasileira, para declarar: o Brasil é
mais rico e dá mais rendimento para a fazenda de Sua Majestade do que todas as
Índias Orientais. O principal da riqueza seria o açúcar. Simonsen informa
que o preço dele caíra em 1506
a 300 réis por arroba (isto é, 150.000$ de hoje).
Alcançou no fim do século XVI preço seis vezes maior, e sete vezes no começo do
século XVII, o do apogeu. As ilhas portuguesas chegaram a produzir 500.000
arrobas; quando o Brasil entrou no mercado, aquela produção declinou e o
açúcar, imigrante, aqui ficou. Em 1628 havia 235 engenhos (Fr. Luiz de Souza, Anais
de D. João). Nas vésperas da Invasão Holandesa já a produção devia
orçar por 2.000.000 de arrobas. Esse açúcar iria em tal progresso, que Simonsen
assegura: o ciclo do açúcar produziu em
valores, para o Brasil, mais do que o da mineração, que está avaliado em menos
de 200 milhões de libras.
Esse
açúcar, do qual dissera o Pe. Fernão Cardim: bem cheio de pecados vai este doce, tanto o sangue e o suor dos
negros se a juntavam à sensualidade e aos desmandos dos brancos, teve o papel decisivo na fixação do europeu
no Brasil e na formação de nossos primeiros capitais. Foi ele quem gerou os
grandes problemas de mão de obra cuja solução imprimiu feição característica ao
desbravamento das terras brasileiras (Simonsen).
A
ocupação holandesa foi um ônus de 20.000.000 de libras desviadas do comércio
português (15 milhões de açúcar e 5 milhões de outros gêneros: Simonsen). Daí a
explicação da gana flamenga e da nossa tenacidade, à recuperação.
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