Ainda Cabral
Prosseguindo
a viagem, deixando o Brasil, a 2 de maio, as 11 restantes embarcações — a de
Luís Pires perdera-se antes do Brasil, a de Gaspar de Lemos tornara, a levar
notícia a Lisboa — rumaram para a costa de África para passar, ao largo, o Cabo
de Boa Esperança. A 23 de maio foram salteados por uma tempestade, soçobrando
quatro navios, por não terem tido tempo de amainar, os de Bartolomeu Dias,
Vasco de Ataíde, Aires da Silva e Simão de Pina, perdendo-se, deles, tudo.
Camões fez dizer ao Adamastor:
Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança (Lusíadas).
De quem me descobriu suma vingança (Lusíadas).
Os
sete navios que sobraram dividem-se em três grupos: um, o de Pero Dias,
desgarra, vai ao Mar Vermelho, o primeiro ocidental que tal ousou, e torna a
Lisboa, num périplo aventuroso; dois, o de Tovar e o de Cunha, varam por
Moçambique, onde os vão encontrar os quatro que traz o grupo de Cabral; reúnem,
então, seis. De Moçambique a Quiloa, a Melinde, na Costa oriental da África, e,
daí, a Angediva, a Calecut, a Cochim. Apesar dos propósitos e recomendações,
porque a empresa é de paz e comércio — Aires Correa leva mercadorias para
vender empregando o dinheiro na compra de outras, diz el-Rei nas “Instruções” a
Pedrálvares — sobrevêm insídias, represálias, e a reação violenta de Cabral,
que bombardeia Calecut, seguindo para Cochim e Cananor, onde se abasteceu de
especiarias.
Em
16 de Janeiro de 1501 deixa a Índia, naufragando a nau de Tovar, já na costa de
África: reduz-se a armada a cinco navios e, como, no menor deles, vai Tovar
comissionado a Sofala, e chega por isso depois, Pedro Álvares torna ao reino
apenas com quatro naus: uma atrasa-se, outra adianta-se, mas o capitão, com a
capitânia e a nau de Pedro de Ataíde, chega a Lisboa, a 9 de julho de 1501.
Esta
segunda viagem foi a mais importante que até aí se fizera, 13 naus, o Brasil de
permeio, provisão de especiaria, e apesar das grandes perdas marítimas, de
navios e gente, cobriu, dizem Gaspar Correa e Barros duas vezes o
custo da expedição.
Tornado
ao reino, Cabral foi ainda nomeado para o comando da quarta armada, em 1502,
depois definitivamente atribuído a Vasco da Gama. Casou com D. Isabel de
Castro, viveu em Santarém, onde tinha propriedades, sofreu de maleitas, e, por
fim, veio a falecer, por volta de 1520, jazendo aí, enterrado na Igreja da
Graça, onde tem, na lápide rasa, este epitáfio: Aquy jaz Pedrálvares
Cabral e dona Isabel de Castro sua molher cuja he esta Capella he de todos seus
erdeyros aqual depois da morte de seu marydo foi camareyra mor da Infanta dona
Marya fylha del rey dõ João noso señor hu terceyro deste nome.
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