Romancista
e contista austríaco, nasceu em Praga no seio de uma abastada família de judeus
tchecos. Franz dedicava grande afeição ao pai, Hermann Kafka, um homem feito
pelo próprio esforço que, após persistentes lutas, estabeleceu-se com um sólido
negócio de bijuteria. Julie, sua mãe, era uma mulher excepcionalmente inteligente.
Com a morte em criança, de dois irmãos mais velhos, Franz não gozou do convívio
de outras crianças até o nascimento, seis anos mais tarde, da primeira de suas
três irmãs. A educação do menino foi confiada a uma moça francesa que o
preparou para a escola primária e o instruiu em muitas coisas, sem excluir os
primeiros passos no amor. Concluído o curso da escola pública, Franz, frequentou,
em Alstadter Ring, o Gymnasium, uma instituição tipicamente alemã, de alto
padrão humanístico. Ingressou, depois, na Faculdade de Direito, embora a
literatura já constituísse o seu principal centro de interesse. Associou-se ao Lese-und Redehalle der Deutschen Studenten,
onde travou seus primeiros prélios literários atacando os artificialismos de
Oscar Wilde e Wedekind, que desfrutavam, então, de grande voga, e apoiando os sólidos
valores do Tonio Kröger, de Thomas Mann e da Educação
Sentimental de Flaubert.
Em
1906, Kafka inscreveu-se num concurso de contos patrocinado pelo jornal vienense
Zeit. Isto marca o início da sua carreira
de escritor. Em junho desse ano, diplomou-se em jurisprudência pela
universidade alemã, Karls-Ferdinand, situada em Praga. À falta de coisa melhor,
aceitou um modesto emprego numa companhia de seguros italiana. Em 1908 conseguiu
uma colaboração semigovernamental muito cobiçada, com boa remuneração e poucas
horas de expediente, num instituto de seguros contra acidentes de trabalhos.
Kafka,
nas horas de folga, estudava a língua tcheca e, embora não fosse um político
militante, assistia a comícios e debates sobre questões tchecas. Sofria de uma terrível
dor de cabeça e de exaustão nervosa; desesperançado de cura, tornou-se
vegetariano e chegou mesmo a levar a sério o antroposofismo. Causou-lhe enorme,
impressão a afirmativa do Dr. Rudolph Steiner de que ele possuía poderes clarividentes.
Pouco a pouco foi-se empolgando pela Cabala
e convenceu-se de que estava investido de uma missão na vida (um mandato como
costumava dizer). Esta tensão mística foi-se tornando cada vez mais acentuada à
medida que sofria novas influências intelectuais, tais como sua amizade com o
sionista Max Brod, com Franz Werfel, e seu estudo de Kierkegaard e Pascal. Por
paradoxal que seja, Kafka também gostava de esportes. Esperava sempre com
ansiedade suas férias da Páscoa e do verão e passava muitos fins de semana nadando
e remando nos recantos pitorescos dos arredores, ou caminhando nos bosques com
seus amigos.
Foi
somente, em 1912 que Kafka surgiu como escritor inteiramente cônscio de seus
poderes. À instância de Brod, Kafka finalmente reuniu em volumes algumas de
suas "observações" que, apesar do enorme tipo usado, deram apenas uma
brochura de noventa e nove páginas — o primeiro livro de Kafka. Entre setembro
e novembro de 1913, Kafka, que então contraíra hábito do trabalho literário,
terminou Das Urteil (O Julgamento), que foi publicado na Arkadia, de Brod, bem como o primeiro
capítulo do seu planejado romance Amerika.
Entrega-se simultaneamente, com verdadeira fúria, quase sem deter-se para comer
ou dormir, à composição de suas Metamorfoses.
O Julgamento foi oi dedicado à Fräulein
Felice Bauer, que ele havia conhecido em agosto de 1912 e que foi sua
inspiradora durante os seguintes cinco anos, impelindo-o às mais ousadas
aventuras criadoras. Diga-se, a bem da verdade, que essa afeição levou-o quase
às bordas do desespero mais, negativo.
A
desastrosa paixão amorosa foi matada com o casamento de Fräulein F.B. com um
cavalheiro qualquer, de quem teve dois filhos. Kafka, não obstante seus
exercícios ao ar livre, seu gosto pela jardinagem e viagens a vários pontos de
veraneio, ficou com a saúde ainda mais abalada.
Quando
deflagrou a primeira Grande Guerra Mundial, Kafka, em virtude das funções governamentais que desempenhava,
foi isento do serviço militar. Em outubro de 1915, foi-lhe conferido o Prêmio Fontane
por sua novela O Foguista e, durante o
inverno de 1916-17, trabalhou arduamente em O
Processo. Suas condições físicas iam em franco declínio.
Os
médicos prescreveram-lhe uma temporada num sanatório, mas ele aquiesceu apenas
em ir viver na companhia da sua irmã mais nova que dirigia uma pequena
propriedade em Zurau. A encantadora paisagem da região proporcionou-lhe o fundo
para o seu romance seguinte O Castelo.
Kafka
permaneceu em Zuran até o verão de 1919, ocasião em que reassumiu os seus
trabalhos em Praga. A guerra tornou tremendamente difícil a vida cidade. Havia escassez
e alimento e falta de carvão. Kafka empregava suas últimas energias para ganhar
o pão e escrever seus livros. Percorria sanatório após sanatório em busca de
alívio para os seus padecimentos. No verão de 1923, conheceu Dora Dymant, uma,
jovem judia polonesa, em quem o exausto escritor de quarenta anos encontrou o
último e mais reconfortante amor de sua atormentada vida.
Sua
obra seguinte é Uma Mulherzinha, uma
história jovial e cheia de vivacidade. Entre o Natal e o Ano Novo Kafka recolheu-se
ao leito com uma febre insistente. Ao melhorar um pouco, mudou-se, com Dora,
para Zehlendorf. Em 17 de março de 1924, Max Brod levou Kafka para a casa de
seus país, onde permaneceu com Dora até 10 de abril. Nesse dia foi transferido num
carro aberto e sob um aguaceiro inesperado, para um sanatório de tuberculosos.
Não
havendo nenhum aposento disponível, Kafka foi acomodado junto a um enfermo
agonizante. Dias depois, já no Kierling Sanatorium, cerrou seus olhos para sempre.
As
obras de Kafka giram predominantemente em torno dos equívocos entre o homem e seu
ambiente. Elas dramatizaram simbolicamente as ideias de Pascal e de Kierkegaard
concernentes à implacável fatalidade da vida.
Os
problemas envolvidos são morais e espirituais; como descobrir o seu verdadeiro
lugar e vocação e como agir em consonância com a vontade das forças divinas.
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Revista “Leitura”, abril de 1946.
Revista “Leitura”, abril de 1946.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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