O
tempo é o único fator absoluto,por isso que julga os homens com justiça
irremediável. Somos escravos desse absoluto que nos limita a existência, que
nos julga a nós e as nossas obras, que nos esquece ou nos faz participar da sua
essência: a eternidade.
Virgílio
Várzea, espírito de notáveis e particulares qualidades literárias, é um
escritor que viverá pelos séculos em fora porque o tempo já o perfilhou e
embora haja um esquecimento aparente, os seus trabalhos surgem à tona, e o
escritor catarinense ressuscita para ocupar o lugar a que tem direito. A Ilha
de Santa Catarina; veleiro ancorado no Atlântico Sul, berço desse apaixonado
dos oceanos; apresenta uma conformação irregular, com enseadas, baías, pontas e
extensas praias rendadas, que a adornam e despertam, nos que a visitam e nela
moram, emoções vivas e quentes.
Filho
de comandante de navio, João Barbosa Várzea e de D. Júlia Alves de Brito, nasceu
Virgílio Várzea, no dia 6 de janeiro de 1863, em Canasvieiras, uma dessas belas
praias de mar grosso, de onde se avista os dois infinitos, mar e céu, sugerindo
êxtases e mistérios. Teve, antes de tudo, uma educação maruja, a bordo de
brigues e veleiros que então visitavam a ilha.
O
meio, a educação que teve, antes das primeiras letras, a profissão do pai, a
vida praieira, sempre olhando as distâncias e o longe, todas as relações
atávicas, nunca impulsionaram tanto um escritor para um gênero de literatura,
como no caso de Virgílio Várzea, para o gênero marinhista. Ele é o representante,
mais em evidência, no cenário literário americano. A sua obra é um marco na
literatura brasileira e causa estranheza obliterarem-lhe o nome e negligenciarem
sobre o valor de seus escritos. E se esse fato não for suficiente para
lembrar-lhe o nome, como escritor brasileiro, dos mais conceituados, acrescentaremos
que Virgílio Várzea, com o seu trabalho "A Ilha de Santa Catarina", foi
o pioneiro da Geografia Humana, estudo de grande importância e interesse que constitui,
hoje, cadeira de relevância nos Colégios e Faculdades dos países civilizados.
A
particularidade, no seu gênero literário e o estilo impressionista, delicado,
eivado de saudade e de sabor melancólico que só o binômio, mar imenso e céu
limpo, sabe provocar nas almas simples, dão direito a Virgílio Várzea de viver
com os tempos...
Eis a sua obra: Traços Azuis (versos), Tropos
e Fantasia (em colaboração com Cruz e Sousa), Rose Castle (novela), Mares e
Campos (contos), Contos de amor
(contos), George Marcial (romance), A Ilha de Santa Catarina (geografia); Histórias rústicas (contos), Os argonautas, O Brigue Flibusteiro (romance); além de colaborações em jornais e
revistas da província e da capital da República.
A
detentora do prêmio Nobel de literatura, a sueca Selma Langerloff, escolheu um
conto de Virgílio Várzea, "Natal do Mar" para figurar na sua coletânea,
preferência que prova o valor universal do escritor catarinense. O nome de Virgílio
Várzea ficará na eternidade dos tempos e na universalidade do espaço.
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ANÍBAL NUNES PIRES
Revista "Sul", abril de 1951.
ANÍBAL NUNES PIRES
Revista "Sul", abril de 1951.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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