
Virgílio Várzea e as Novas Gerações

E
é deveras estranho que isso aconteça num país como o nosso, em que os valores
do espírito não têm sido peneirados em joeiras de malha fina, pois não somos lá
tão opulentos em matéria de eminências literárias. Agripino Grieco, ao ter
conhecimento, de uma feita, de que um dos nossos críticos estava projetando uma
história da literatura brasileira em vinte volumes, comentou, com aquela graça
irreverente do seu espírito: "Não sei como é que se pode escrever vinte
volumes sobre uma literatura que não tem mais de meia dúzia de escritores".
A verdade é que uma literatura relativamente pobre, com a nossa, de valores
universais, não se pode dar a esse luxo de ignorar os escritores que formam a
mediania dos nossos homens de letras, pois é neles, como já se tem dito, que se
encontram os verdadeiros caracteres de uma época ou de uma escola literária,
com os seus defeitos e as suas qualidades.
O
que não se pode negar é que Virgílio Várzea, com os contos e as novelas
moldados no gênero marinhista, tenha conquistado um lugar na história da
literatura brasileira. Mas a despeito dessa conquista, sem dúvida nenhuma consagradora,
a sua obra é hoje inteiramente desconhecida do grande público e, o que e mais
grave, das próprias elites intelectuais. E uma das razões desse olvido em que
vive o escritor se deve ao fato de os seus livros se encontrarem esgotados já há
muitos anos, constituindo-se, hoje, em verdadeiras raridades bibliográficas.
E
posso afirmá-lo por experiência própria, pois levei mais de dois meses para
descobrir, em Florianópolis, um exemplar do "Brigue Flibusteiro", a
novela de piratas reeditada pela "Saraiva" em 1941. Na Biblioteca
Pública encontrei, dos quatorze livros publicados por Virgílio, apenas três:
"A Ilha de Santa Catarina", "Contos de Amor", e "Rose
Castle". Como se vê, Virgílio Várzea é um escritor inédito para as
gerações de hoje.
Não
digo que se lhe reedite toda a obra, pois nem tudo que produziu merece ser
exumado para nova publicação. Mas é indiscutível a necessidade de se
reimprimirem os seus livros mais representativos, aqueles em que o escritor,
transformado em aquarelista, exibe a sua admirável galeria de quadros da vida praieira
do litoral catarinense. São os "Mares e Campos" e as "Histórias
Rústicas" e, se quisermos mar alto com breves incursões pela costa, o
“Brigue Flibusteiro" e "Nas Ondas".
---
Revista "Leitura", 21 de junho
de 1960.
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...