Sobre “Mares e Campos”, de Virgílio
Várzea
O
trabalho literário do jovem escritor é deveras apreciável.
Se
ainda é um puro, Virgílio Várzea é um caprichoso nesta bela arte de fazer
contos literários, que ele procura honrar e dignificar haurindo ensinamentos na
lição dos bons mestres.
Possui
já um poder descritivo muito notável, e as suas passagens demonstram a observação
e o sentimento sugestivo de um artista delicado.
Estas
mesmas qualidades de observação e sentimento aparecem com bastante relevo na exposição
da ação e no caráter individual dos personagens, nos contos de assunto
nacional, mormente nos de costumes marítimos, pelos quais mostra Virgílio Várzea
decidida e louvável predileção.
Uns
laivos da escola nefelibata a derramarem aqui e ali escusadas exuberâncias de frases
e de ideias adjetivadas, empalidecem às vezes o brilho da ideia principal do período,
tirando-lhe, não raro, a expressão e a espontaneidade.
Estamos
certos, porém, de que e jovem escritor ir-se-à libertando do domínio excêntrico
dessa escola literária — em busca da suprema qualidade dos bons conteurs: a simplicidade natural, espontânea,
no sentir a emoção e no dizê-la.
Temos
essa esperança, porque Virgílio Várzea, disposto como parece a dar-nos quadros
de costumes nacionais é assaz inteligente e sensato para compreender a
necessidade de abandonar os processos complicados e extenuantes da mencionada
escola, a bem da poesia adorável dos seus assuntos prediletos.
Quem
considera "ínclito mestre” a Eça de Queirós e escreve trabalhos como o Mestre de redes, A vela dos náufragos e outros, não pode nem deve seguir orientação literária
que porventura concorra para ficar aquém... de si mesmo.
Virgílio
Várzea não é, felizmente, um ortodoxo da Estrada de São Tiago e o seu livro Mares e Campos faz-nos antever um escritor
de pulso e de alma.
Ponto
é que ele não descanse sobre os louros da crítica, nem se agaste com alguns de seus
espinhos, e que o púbico o anime, como merece.
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Revista "Dom Quixote" (1895)
Revista "Dom Quixote" (1895)
Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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