Infelizmente toda a obra
magnífica e autenticamente grande de Alberto Torres não teve repercussão em
vida do seu autor.
Edificante sarcasmo este
da indiferença patrícia para com o máximo exegeta do seu caráter, e das suas
índoles histórico-sociais!
E este sarcasmo foi
talvez a maior amargura que ferira a mentalidade de Alberto Torres. Ele morreu
sem ver a sua palavra doutrinária e sincera ouvida pelos dirigentes e pelos
legisladores brasileiros.
Humberto de Campos
escreveu recentemente que “Alberto Torres teve, de fato, a previsão de todas as
calamidades que tombariam, dentro de vinte anos, sobre o país, e chamou para
elas a atenção dos homens públicos. Das eminências em que pairava o seu
espírito, ele viu e anunciou as nuvens sinistras que se acastelavam no
horizonte. Daniel, em Babilônia, decifrou a Baltasar a verdade das palavras
misteriosas. Os generais e fidalgos assírios sorriram, porém, da ameaça do céu.
E o resultado aí está: a anarquia política, a anarquia econômica, a anarquia
social, o edifício de um país novo desmantelando como as ruínas de um império
oriental”.
E conclui o brilhante
escritor:
“Durante três lustros o
Brasil esqueceu esse grande homem que devia ter sido o palinuro da nau
virgiliana dos seus governos.”
Ninguém acreditava nas
suas predições. Até que os acontecimentos, confirmando o que ele predissera, o
impuseram à admiração das gerações novas, que iniciaram, finalmente, agora,
para a admiração pública, a ressurreição da sua obra e do seu nome. Morto há
dezesseis anos, Alberto Torres está hoje mais vivo do que na véspera da sua morte.
As verdades que ele disse, levantam-se, agora, do seu túmulo. Como o cajado de
Elias, a pedra de uma sepultura realiza o milagre que não fez, sobre a terra, o
homem que sob ela dorme.
“Este grande homem morto
é, na verdade, nesta hora, o melhor general para os vivos”.
Sente-se, de fato, que a
obra do pensador fluminense vai viver com o sopro animador dos homens
vindouros, que a cultura sadia do seu espírito procurou criar a consciência
política da nacionalidade.
SABOIA LIMA
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