Nenhum outro nome, entre os
contemporâneos, representava de mais longe e com mais prestigio a ideia
republicana no Brasil, que o de Saldanha Marinho. Desde que se organizou o
partido, que chegou a realizar o seu ideal, foi ele o chefe, até que a idade e
a moléstia que o minava, obrigaram-no a ceder o seu posto a Quintino Bocaiuva,
que foi o chefe dos últimos tempos, — dos tempos mais ativos da propaganda, e
que é hoje o sucessor do que se poderia chamar a representação simbólica da ideia.
Em Saldanha Marinho
encarnou-se por muito tempo a aspiração democrática. Tinha servido o império,
mas rompeu com ele, e antes como depois foi sempre um puro. Na imprensa travou lutas
gigantescas que o popularizaram, e manejou também o que já foi uma arma nesta
terra, a maçonaria.
A sua recente eleição para
senador pela Capital Federal já foi pura homenagem aos serviços passados, à tradição
gloriosa do seu nome, porque não havia mais a esperar daquele espírito
alquebrado; e o sentimento geral que despertou a notícia de sua morte é bem
significativo do respeito que a todos inspirava a sua inquebrantável dedicação à
causa pela qual renunciara a honras e proveitos que os partidos monárquicos não
cessaram de oferecer-lhe.
Advogado, gozou de reputação entre
os mais notáveis, jornalista, deixa volumosos atestados da sua atividade, mas
o que há de perpetuar o seu nome é esta
probidade de chefe republicano, que concretizou as primeiras aspirações do
partido que chegou a fundar as instituições atuais.
Para a fração de homens
políticos e jornalistas que hoje ocupam os lugares de combate, Saldanha Marinho
era o mestre venerado, que a todos se impunha pelo exemplo de sua vida, a todos
atraía pela afabilidade fraternal com que acolhia quem quer que precisasse de
um conselho ou de um estímulo.
Acompanham-no à derradeira
morada as lágrimas de todos que com ele lidaram, a saudade de quantos o
conheceram, e o respeito de todos os filhos desta terra, que ele tanto amou, de
todos os adeptos da ideia republicana, pela qual ele tanto se bateu.
Nasceu no Recife a 4 de maio
de 1816. Seu pai, Pantaleão Ferreira dos Santos, foi uma das vítimas da
revolução que rebentou no ano seguinte.
Matriculou-se na Faculdade de
Direito em 1832, formando-se a 15 de novembro de 1835.
Em 1837, nomeado promotor de
Icó, embarcou para o Ceará, que considerava sua segunda pátria, e onde residiu
durante anos. Foi professor de matemáticas no Liceu, curador de órfãos, secretário
do governo, inspetor de tesouraria, deputado provincial em três legislaturas,
deputado geral na Câmara dissolvida em 1848.
A revolução que então rebentou
em Pernambuco e prometia estender-se a outras províncias do norte mostrou-lhe a
conveniência de fixar-se no sul. Foi para Valença, no Estado do Rio, onde ficou
até 1860, deixando as maiores simpatias na população, vinculando seu nome a
melhoramentos da cidade. Diversas vezes foi eleito deputado à Assembleia provincial
do Rio de Janeiro.
Em março de 1860 mudou-se para
a Capital do Império, onde assumiu a redação do Diário do Rio de Janeiro. É este o período mais brilhante de sua
vida, sempre na brecha cercado de homens como Machado de Assis, Quintino
Bocaiuva e Muzio. A sua popularidade atingiu a proporções extraordinárias ganhando
com Teófilo Ottoni, Martinho Campos e Francisco Octaviano eleições disputadíssimas
contra o governo.
Mais de uma vez foi eleito pela
Capital. Em 1867 o foi por sua terra natal. Duas vezes entrou era listas
tríplices por Pernambuco; eleito em 1868 pelo Ceará, foi o escolhido, mas o
Senado anulou a eleição.
De 1865 a 1867, governou Minas
Gerais, prestando muitos serviços e agenciando voluntários para a guerra do Paraguai.
Em 1867, governou São Paulo, onde deixou o maior entusiasmo, e abriu a era nova
que levou aquele Estado à culminância que hoje atingiu.
Quando em 1870 organizou-se o
partido republicano, foi o chefe reconhecido por todo o Brasil.
Em 1873, ao rebentar a questão
religiosa foi a verdadeira alma deste movimento. Andam reunidos em quatro
volumes os artigos vibrantes e apaixonados que então escreveu nos jornais sob o
pseudônimo de Ganganelli.
Em 1878 foi eleito deputado
geral pelo Amazonas.
Com a proclamação da República
foi nomeado para a comissão encarregada de redigir o projeto da Constituição.
Eleito para a constituinte pela Capital Federal, tomou depois assento no
Senado. Nas últimas eleições foi reeleito senador por 9 anos.
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Boletim "Grande Oriente do Brasil", maio de 1895.
Boletim "Grande Oriente do Brasil", maio de 1895.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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